O Estado de S. Paulo

Startups criam logística para entrega em favelas

Apesar do alto potencial de compra, favelas e periferias sofrem com falta de CEP e difícil acesso

- BIANCA ZANATTA

De olho em um mercado de 36 milhões de pessoas que não têm acesso a entregas a domicílio, startups estão desenvolve­ndo rotas para inserir essa população ao mercado de delivery e de compras online. Muitas vezes esses consumidor­es nem têm CEP para serem localizado­s, o que impõe grandes desafios para a chamada last

mile, entregas da última milha até a porta do cliente.

Um levantamen­to feito pelo Data Favela em parceria com o Instituto Locomotiva revelou que as favelas brasileira­s, se formassem um Estado, estariam em quarto lugar entre os maiores do País. São 7 mil favelas, com um total de 17,1 milhões de moradores, que movimentam mais de R$ 180 bilhões por ano. Somando a outros moradores de regiões periférica­s, o número de habitantes sobe para 36,2 milhões.

Quase 90% dessas pessoas são bancarizad­as e conectadas à internet, mas 67% já deixaram de comprar online por não ter entrega disponível em seu endereço. É para ocupar esse vácuo no mercado que algumas startups estão apostando no last mile, como a naPorta, que cuida de toda a logística de entrega até a casa dos moradores de comunidade­s no Rio de Janeiro e em São Paulo. O sócio-fundador da empresa, Leo Medeiros, conta que era gerente de contas da Amazon quando começou a debater a sementinha da ideia com o cliente Sanderson Pajeú, hoje seu sócio na empreitada.

OPERAÇÃO. No modelo criado, cada região atendida conta com um ponto de apoio para processame­nto e roteirizaç­ão das encomendas, que chegam de grandes empresas, como Renner, Riachuelo, Americanas, Mercado Livre e iFood. Já o caminho do posto até o consumidor final é feito pelos entregador­es da startup, que são recrutados na própria comunidade.

“O ponto fica perto das áreas das comunidade­s, mas fora das zonas de risco, para que as transporta­doras consigam chegar até nós ou para que possamos recolher nas lojas”, diz Medeiros, contando que quem organiza a logística entre o posto e o destino final é um líder operaciona­l também da comunidade, responsáve­l pela conexão da startup com moradores.

Outra que aposta nesse segmento é a Favela Llog, uma parceria da gigante de logística Luft Solutions e a Favela Holding, grupo de 24 empresas de diversos segmentos, que movimentam cerca de R$ 63 bilhões por ano. A startup usa a capilarida­de da Central Única das Favelas (Cufa) e o know-how de mercado da Luft para destravar endereços, fazendo a última milha para as principais empresas do e-commerce nacional.

De acordo com o CEO Thales Athayde, a empresa já existia desde 2014, sob o nome de Favela Log, mas não tinha expertise e sistema de logística para expandir. Foi depois da covid-19 que o empresário Luciano Luft entrou com o segundo “L” – e como principal acionista – para resolver o problema. “Quando veio a pandemia, a Cufa tinha de fazer muitas entregas de doações. Luciano é um antigo amigo nosso e veio somar para fazer o transporte das doações em todo o País”, diz Athayde.

Fundada em Bogotá em 2020, a plataforma de social commerce Muni também nasceu com o propósito de dar acesso ao comércio digital às classes C, D e E.

Segundo Thomas Endler, diretor comercial da empresa, os dois diferencia­is do modelo estão no fato de a própria Muni ser um varejo online que compra mercadoria­s da indústria, o que encurta a cadeia e possibilit­a praticar preços até 40% mais baixos para o cliente final, sem taxa de entrega.

 ?? ARQUIVO PESSOAL ?? Thales Athayde e Luciano Luft são sócios da Favela Llog
ARQUIVO PESSOAL Thales Athayde e Luciano Luft são sócios da Favela Llog

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil