Feira Maison & Objet, em Paris, enfoca relevância da iluminação
Decoração Tendência Principal exposição francesa do segmento aposta no mercado em expansão que está na ordem de US$ 600 bilhões
O design de interiores atravessa um momento de ebulição. Em escala global, 2021 assistiu a um consumo de móveis e artefatos de iluminação da ordem de US$ 600 bilhões, superando os níveis pré-pandemia. Por certo, muito desse resultado se deve ao período de isolamento e trabalho em casa que, subitamente, colocou os consumidores em contato direto com suas reais necessidades domésticas. Mas também, e em boa parte, pode ser creditado ao ambiente favorável aos negócios e à intensa visibilidade gerada pela retomada das grandes feiras internacionais.
Encerrada no dia 12 de setembro em Paris, a Maison & Objet, a principal feira francesa do segmento, espelha bem essa condição. Fiel a seu propósito de refletir sobre os rumos do setor, nesta edição, o evento reuniu mais de 2.200 marcas, metade delas francesas, além de 59 mil visitantes de todo o mundo. Em sintonia com o final de verão, o clima geral era de animação, com corredores cheios comemorando a volta, agora sem restrições, dos encontros presenciais.
CORES. Uma atmosfera otimista que se refletiu também entre os lançamentos apresentados que, via de regra, se pautaram pelo colorido vibrante, pela inspiração na fantasia, no universo infantil e na alegria de viver. Pensada para promover um passeio agradável pelas “artes da mesa”, a mostra paralela Waww la Table, editada a partir de produtos no evento, trazia entre suas atrações uma mesa montada em uma gangorra. Segundo os organizadores, como uma forma de evocar o espírito de nosso tempo: a leveza a que todos aspiram.
Apresentada no farol de tendências What’s New, que discutiu o poder das cores, a partir de cenários desenhados pelos especialistas em tendências Elizabeth Leriche, François Bernard e François Delclaux, o segmento Utopia, por sua vez, sugeria propostas nada convencionais. Ambientes que, avessos a qualquer noção preconcebida de bom gosto, transitavam entre a realidade e a ficção, por meio de contrastes violentos de cores e padrões de iluminação fluorescente e da contraposição de elementos extraídos dos mundos físico e digital.
“Meu projeto nasceu de um desejo de imersão em outra realidade, onde o exotismo, o amor pela decoração, a paixão pelas cores e a vontade de criar cenários em conexão com a natureza foram dados fundamentais”, explica a arquiteta italiana Cristina Celestino, eleita a Designer do Ano desta edição da Maison & Objet. Um dos principais nomes da atual cena do design de interiores na Itália, famosa pelo “brutalismo sofisticado” que costuma imprimir a seus projetos, mas que não esconde seu gosto especial pela história e estética francesas.
“Amo Paris, explorar seus poderosos monumentos e construções. Eles oferecem tanta inspiração em termos de como superfícies e materiais podem ser usados”, admite ela, que admira o trabalho de Le Corbusier e que, a convite a direção do evento, criou especialmente para essa edição o seu Palais Exotique: um misto de restaurante e bistrô efêmero, inspirado nos cafés parisienses, mas com toques exóticos e contemporâneos, com o declarado objetivo de propiciar aos visitantes alguns momentos de evasão.
“Abrir janelas para outros mundos e criar pontes entre o passado e o presente são possibilidades oferecidas pelo nosso ofício”, explica a arquiteta. Mas, pontua ela, dentro de uma abordagem responsável.” Às necessidades às quais todo projeto deve responder se somam, hoje, a outras. Confrontados com uma sociedade que enfrenta questões fundamentais, não podemos abandonar nossos compromissos. É um fator de respeito por nós mesmos”, conclui.
SUSTENTABILIDADE. Frente à crise desencadeada pela Guerra da Ucrânia e pandemia, que dificultou o fornecimento e a escassez de matérias-primas nos mercados globais, mais do que nunca, segundo Cristina, todos devem estar atentos. “Não podemos abrir mão de critérios de sustentabilidade, respeito aos materiais e ética já alcançados”, defende ela. Opinião partilhada por oito designers, naturais ou em atividade na Holanda, país convidado do segmento Rising Talents.
É o caso de Simone Post, que já teve trabalhos adquiridos por instituições como a Cooper Hewitt Museum, em Nova York, e o Vitra Design Museum. Apaixonada por têxteis desde criança – “Minha mãe dava aulas de costura em casa. Tínhamos dez máquinas em um dos quartos” –, ela prefere trabalhar com materiais não sólidos e reciclados. Sua linha de tapetes para a Vlisco, inspirada na lateral de grandes rolos de tecidos, segue a receita. Assim como a série criada para a Adidas, feita a partir de fios provenientes de calçados esportivos reaproveitados.
Ou ainda de Théophile Blandet, de Estrasburgo, que homenageou o alumínio, em sua última coleção de móveis escultura. “Trata-se do terceiro recurso mais abundante da Terra”, argumenta ele.
Pós-pandemia Para os organizadores, a busca pela leveza se tornou o espírito de nossos tempos