‘Hóspedes não buscam opulência, mas autenticidade’
Sonia Cheng é CEO do Rosewood Hotel Group, rede hoteleira de luxo que engloba 41 hotéis em 19 países, entre eles o Brasil. Jovem e asiática, Sonia lidera o grupo com os olhos no futuro. “Trabalhamos para garantir que estamos protegendo os destinos e as comunidades em que atuamos, para que as gerações futuras possam continuar a vivenciálos”, disse em entrevista a repórter Sofia Patsch. “Afinal, o que seria da indústria hoteleira se não existirem mais as pessoas e os lugares para servir?”.
Com metas sustentáveis ambiciosas, a herdeira do New World Development – grupo chinês que comprou a rede Rosewood em 2011, conta que pretende reduzir o consumo de energia e água do grupo em 25% até 2025 e atingir 100% de neutralidade de carbono até 2050. Confira a entrevista a seguir:
Você é formada em artes e bacharel em Matemática pela Harvard. A formação em artes ajuda a liderar um grupo que tem a estética como pano de fundo de todas as suas propriedades? Sabendo que meu objetivo final era o ramo da hotelaria, me desafiei a seguir um caminho menos óbvio, o que trouxe uma perspectiva diferente e um conjunto de ferramentas que agregam ao meu cargo atual. A filosofia da rede sempre foi ‘A Sense of Place’, que significa que cada propriedade é um reflexo do cenário em que se encontra. Um grande exemplo é o Rosewood São Paulo, que é o lar de uma coleção de 450 obras de arte criadas em parceria com artistas brasileiros.
É mulher asiática e jovem num alto cargo de liderança. Quais obstáculos enfrentou para chegar na posição que está?
Cresci rodeada de hotéis por causa dos negócios da minha família. Mas assumir o comando de uma marca de hospitalidade é muito diferente de observar uma. Quando me tornei CEO do grupo, eu passei dois anos visitando metodicamente cada hotel, conversando com a equipe e entendendo a marca e sua história. Isso antes de traçar meus planos de transformar a marca em um grupo global de estilo de vida e hospitalidade de luxo que é hoje.
Você é engajada em sustentabilidade e meio ambiente. Quais os maiores desafios da indústria hoteleira de luxo nesses segmentos atualmente?
São muitos os desafios que a indústria enfrenta no esforço de se tornar mais sustentável. A sustentabilidade, no sentido
“Assumir o comando de uma marca de hospitalidade é muito diferente de observar uma. Quando me tornei CEO passei dois anos visitando cada hotel, conversando com a equipe e entendendo a marca”
“Buscar a sustentabilidade não é apenas responsável, mas essencial para a continuidade do negócio.” Sonia Cheng
CEO Rosewood Hotel Group
mais amplo, exige investimento tanto em infraestrutura física, como edifícios amigáveis, espaços verdes e fontes de energia limpa, quanto em infraestrutura leve, como educação, treinamento e requalificação. Também estabelecemos metas ambiciosas para o grupo, incluindo a redução do consumo de energia e água em 25% até 2025 e atingir 100% de neutralidade de carbono até 2050.
Hoje é possível manter um hotel sem pensar em sustentabilidade?
Acredito que não. Buscar a sustentabilidade não é apenas responsável, mas também essencial para a continuidade do negócio. Precisamos trabalhar juntos para garantir que estamos protegendo os destinos e as comunidades em que atuamos – para que as gerações futuras possam continuar a vivenciá-los. Afinal, o que seria da indústria hoteleira se não existirem mais as pessoas e os lugares para servir?
Com o fim da pandemia, sente que as pessoas já voltaram a viajar como antes? Do ponto de vista comercial parece que as viagens estão caminhando para uma recuperação total – e alguns mercados até excedem os níveis pré-pandemia. O que reparamos no póspandemia é uma mudança monumental no que os consumidores desejam.
E o que eles desejam?
Não estão mais procurando mimos tradicionais ou opulência, mas experiências autênticas e exclusivas. Hóspedes também estão dispostos a gastar mais para garantir que estão apoiando marcas que são socialmente, ambientalmente e culturalmente responsáveis.
Atualmente, a marca Rosewood está presente em 19 países, entre eles o Brasil. Quais foram os maiores desafios que encontraram em construir uma propriedade em São Paulo? Sabíamos desde o início que este projeto em São Paulo seria um divisor de águas no mercado hoteleiro de luxo, e de fato tem sido, especialmente porque a propriedade faz parte de um projeto maior, que é o complexo Cidade Matarazzo. Abraçamos a cultura brasileira trabalhando com artistas e artesãos locais e fizemos questão de criar quase tudo dentro do País. O trabalho foi árduo, mas claramente valeu a pena. Criamos uma carta de amor ao Brasil – que simultaneamente serve como referência para a hospitalidade de ultra luxo em todo o mundo.