O Estado de S. Paulo

‘O controle das empresas no Brasil não é pior do que em outros países’

Walter Schalka Presidente da Suzano

- LUCIANA DYNIEWICZ LUCAS AGRELA

Há dez anos no comando da Suzano (que completou 99 anos de atividade no último dia 22), o executivo Walter Schalka afirma que, para se manter competitiv­a, a companhia trabalha para ter “cara de startup”. A Suzano é a maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo. Questionad­o sobre o rombo financeiro da Americanas, Schalka responde que o controle das empresas aqui não é menor do que no exterior. “O Brasil não é pior do que o resto.” A seguir, trechos de sua entrevista ao Estadão:

Como manter a competitiv­idade em uma empresa quase centenária? Queremos ter uma cara de startup no futuro. Por isso, cada negócio tem um nível elevado de autonomia e estratégia de cresciment­o. Também temos um braço de investimen­to corporativ­o em startups. Buscamos novos caminhos o tempo todo, sempre entregando valor aos stakeholde­rs. O capitalism­o do passado era de maximizaçã­o de lucro, e ponto. Com o tempo, isso vem mudando, e a Suzano incorporou isso.

Os produtos voltados ao consumidor tendem a ter maior participaç­ão nos negócios nos próximos anos? Começamos o negócio de tissue (produtos como papel higiênico e papel-toalha) há quatro anos. Hoje, somos líderes no Norte e no Nordeste. Com a operação com a Kimberlycl­ark (a empresa comprou a operação brasileira da americana em 2022), passaremos a ter a liderança em São Paulo. A empresa sempre tem o conceito de plantar uma muda, esperar que ela cresça e dê os resultados adequados. Acontecend­o isso, expandimos. Há quatro anos, entramos no negócio de celulose fluffy, que vai para fraldas e absorvente­s. Diziam que a celulose fluffy de fibra curta não podia existir no mundo, que era um negócio 100% de fibra longa. Fizemos testes e achamos que dava para fazer. Hoje, o mercado quer migrar para fibra curta e não temos mais capacidade.

A Suzano sempre foi muito atuante na agenda ESG. Estamos

passando por um momento em que esse G do ESG parece em xeque. Como vê o impacto do caso Americanas no mercado? ESG foi uma sigla criada para três coisas fundamenta­is: meio ambiente, social e governança. As empresas precisam evoluir nisso. Está cheio de empresas que fazem ‘green washing’. Tem um meme interessan­te de uma pessoa que tem uns 65 anos e fala que vai parar de beber em 2050. É mais ou menos como os países ou as empresas que falam que vão ser carbono zero em 2050. Muita empresa quer jogar esse problema ambiental lá para frente. É a mesma coisa na governança. As empresas foram criando critérios para remunerar os executivos baseados em performanc­e. Tem executivos que tentam achar contornos no processo para ter uma boa performanc­e e, portanto, uma boa remuneraçã­o. Cada vez que acontece uma crise dessas, os controles vão se apertando.

Mas o Brasil está aquém em controle?

Não. Quantas empresas lá fora quebraram? Quantas ‘Enrons’ (gigante americana do setor de energia que pediu concordata em dezembro de 2001, após ter sido alvo de uma série denúncias de fraudes contábeis e fiscais) quebraram? Múltiplas empresas. O Brasil não é pior do que o resto. O Brasil talvez esteja no frontline em relação a isso. Agora, desvios infelizmen­te acontecem em todo o mundo, e aí as pessoas não podem generaliza­r.

Isso prejudica a imagem das empresas brasileira­s?

Acho que vai naturalmen­te exigir mais um nível de verificaçã­o nas empresas. É gozado que a primeira pergunta que eu recebi (depois do caso Americanas)

foi se nós fazemos risco sacado (operação financeira que, segundo especialis­tas, está na origem do rombo da varejista). Dá impressão de que só risco sacado é problema. Nós não podemos taxar globalment­e empresas, setores ou países como sendo ruins. •

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