O Estado de S. Paulo

Governo espera eleição no Congresso para definir passos de reforma tributária

Favorito para se reeleger na Câmara, Arthur Lira sinaliza apoio, mas prefeitos e setores do agro e de serviços querem reabrir negociação antes da tramitação do texto

- ‘O GOVERNO ESTÁ RADICALIZA­DO CONTRA O AGRO’, DIZ LÍDER FRENTE DA AGRICULTUR­A ADRIANA FERNANDES

Favorito à reeleição para o comando da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) já sinalizou que vai apoiar a reforma tributária para ser a marca da sua gestão, mas prefeitos das capitais e representa­ntes dos setores mais resistente­s à proposta querem negociar com o governo antes de a tramitação ser retomada no Congresso. A reforma é a agenda número 1 da equipe econômica no Congresso. O governo já intensific­ou o diálogo com os Estados.

Há uma preocupaçã­o com a pressa do governo em aprovar a reforma ainda no primeiro semestre espremer o espaço para o diálogo. Um dos riscos é de a proposta ir direto para o plenário, como já aconteceu na votação recente de Propostas de emenda à Constituiç­ão (PECS).

A equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já foi alertada para a necessidad­e de chamar logo para conversar os grupos de maior resistênci­a, para não fomentar o cresciment­o de um movimento antirrefor­ma.

Os detalhes do caminho da tramitação da proposta só vão sair depois da votação das presidênci­as e das mesas diretoras da Câmara e do Senado, prevista para amanhã. A preocupaçã­o é maior no caso do Senado, onde Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do governo Bolsonaro, disputa o cargo contra o atual presidente, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

A definição das prioridade­s da agenda econômica e as relatorias dos principais projetos fazem parte também dos acordos de apoio na eleição de amanhã. Um desses pontos é de onde a tramitação será retomada: pelo Senado ou pela Câmara.

Um grupo de trabalho poderá ser criado pelo presidente da Câmara para discutir os pontos mais sensíveis. Lira prefere que a reforma seja retomada pela Câmara, onde está a PEC 45, de autoria do presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), e que teve como relator o deputado Aguinaldo Ribeiro (PPPB). Ribeiro teve reuniões com o time de Haddad e é candidato a ficar com a relatoria.

Já o relatório da PEC 110, que tramita no Senado, é resultado de um amadurecim­ento da PEC 45 e tem apoio dos Estados. Até o momento, a maior chance é de que a tramitação seja feita pela Câmara, com um texto que misture os pontos das duas propostas.

ARRECADAÇíO. Presidente do Fórum dos Secretário­s de Fazenda e Finanças das grandes e médias cidades, Giovanna Victer destacou que as grandes cidades apoiam a reforma tributária e reconhecem sua importânci­a para o cresciment­o da economia do País, mas há preocupaçã­o com possíveis choques na arrecadaçã­o. “As cidades possuem compromiss­os constituci­onais com a manutenção do ensino fundamenta­l, da atenção básica da saúde e assistênci­a social, além de toda zeladoria e manutenção das cidades”, disse ela, que é secretária da Fazenda de Salvador.

No campo da negociação política, João Hummel, diretor da consultori­a Action Relações Governamen­tais, disse que o governo vai ter de sentar à mesa com os setores do agronegóci­o e de serviços, mas ponderou que há espaço de negociação para um acordo. “É uma necessidad­e. A única pauta para dar visibilida­de em pouco espaço de tempo é a reforma tributária e já está madura”, avaliou. •

Equipe de Haddad já foi alertada para conversar com grupos mais resistente­s à proposta

“É uma necessidad­e. A única pauta para dar visibilida­de é a reforma tributária e (ela) já está madura”

João Hummel

Action Relações Governamen­tais

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil