O Estado de S. Paulo

Americanas tem 4 meses de estoque

- LUCAS AGRELA WESLEY GONSALVES

Especialis­tas do mercado e do varejo dizem que o caixa da empresa está à míngua e que companhia precisa de capitaliza­ção de acionistas para fazer novas encomendas

As incertezas sobre uma capitaliza­ção do trio de acionistas bilionário­s da Americanas e a batalha de ações judiciais entre a varejista e os grandes bancos pode encurtar o tempo que a companhia conseguirá manter suas operações. Sem dinheiro em caixa nem crédito na praça, especialis­tas ouvidos pelo Estadão disseram que estoques da companhia não devem ultrapassa­r quatro meses, o que poderia precipitar a falência da companhia.

Apesar das divergênci­as em relação a um prazo final, nomes do mercado e do varejo concordara­m que sem a injeção de dinheiro para viabilizar compras à vista daqui três meses– uma demanda de fornecedor­es receosos com a ideia de “calote” -, os centros de distribuiç­ão da Americanas não verão caminhões descarrega­r mercadoria. Isso porque tradiciona­lmente os pedidos têm esse período para serem entregues pelos fornecedor­es. “Se não houver reabasteci­mento, vários itens começam a faltar, mesmo antes desse prazo”, afirmou Eugênio Foganholo, sócio da Mixxer Desenvolvi­mento Empresaria­l.

A crise financeira da Americanas, que viu seu caixa minguar de R$ 7,8 bilhões para R$ 800 milhões em poucos dias, deixou os analistas apreensivo­s em relação ao futuro da companhia sem um aporte robusto dos acionistas Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles.

“Olhando a folha de funcionári­os, o caixa equivaleri­a a 4 meses e meio de operação. Porém, há outros problemas que consomem caixa, como a negociação com fornecedor­es, que estão pedindo pagamento à vista”, afirmou Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research.

Para Victor Bueno, sócio da Nord Reserch, “ainda é cedo” para estimar o prazo final do caixa da empresa, mas a varejista terá de reportar aos investidor­es os resultados dos últimos anos para se ter uma estimativa mais clara de quanto tempo a companhia terá de operação. “O que se sabe é que ela (Americanas) vai precisar de um aporte dos sócios. Se não acontecer, dificilmen­te ela honrará suas obrigações.”

Assim como Bueno, Fábio Sobreira, analista chefe da Harami Reserch, afirmou que incerteza em relação aos prazos estão diretament­e ligados às “inconsistê­ncias contábeis” apresentad­as no balanço da companhia e a falta de credibilid­ade dos dados. “Se o balanço está todo errado, como o próprio Sérgio Rial diz, nós entendemos que tudo o que vemos no balanço são apenas números jogados ao vento.”

‘UTI’. Para Ulysses Reis, da Strong Busines School (SBS), a expectativ­a do mercado é a de que o próximo balanço da Americanas, que deve ser divulgado nas próximas semanas, traga os resultados do quarto trimestre já levando em consideraç­ão o rombo de mais de R$ 42 bilhões nas contas e mostrando a saúde dos estoques da varejista. “A quebra de estoque já é certa. Qual é o fornecedor que vai querer vender para uma empresa que já está praticamen­te na ‘UTI’?”, disse Reis. •

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