Com mercado externo a toda, Brasil fica de fora e tem pior janeiro desde 2016
Tradicional mês para emissões de títulos de dívidas no exterior (bonds), janeiro termina com mais de US$ 60 bilhões em papéis de companhias de países emergentes emitidos no mercado internacional, com forte demanda por parte dos investidores. Nenhuma companhia brasileira, porém, acompanhou o movimento neste começo de 2023. Situação semelhante foi vista pela última vez em 2016, auge da crise política que desencadeou o impeachment de Dilma Rousseff e dos efeitos da Operação Lava Jato. Nos bancos de investimento na Faria Lima, algumas empresas começam a sondar o mercado e a expectativa é que em fevereiro alguma delas capte no exterior. Caso seja bem-sucedida, será a primeira emissão externa brasileira em mais de sete meses.
• VERDE E AMARELO. Até países emergentes mais complicados, como a Turquia, conseguiram captar com sucesso no mercado internacional. Mas nada do Brasil. O responsável por mercado de capitais de dívida do Bank of America no Brasil, Caio de Luca Simões, afirmou que dois fatores podem ter feito as empresas brasileiras adiarem planos. Primeiro porque estão conseguindo tomar recursos no Brasil. A evidência foi o recorde na emissão de debêntures em 2022, que somou R$ 271 bilhões.
• EFEITO LULA. Outro fator foi o período de incerteza que marcou a transição do governo, com dúvidas sobre a política fiscal e a posse de Lula. Normalmente as emissões começam a ser desenhadas no fim de novembro para irem a mercado no início do ano.
• EFEITO JUROS. No mercado internacional, executivos de bancos de investimento dizem que o cenário ficou um pouco menos incerto em relação à inflação nos EUA, que deu mostras de estar cedendo. Assim, o Federal Reserve (Fed) deve desacelerar esta semana o ritmo de alta de juros. O reflexo foi a queda da volatilidade no mercado futuro de juros, que travou emissões corporativas e soberanas em boa parte de 2022.
• COFRE CHEIO. Pelo lado da demanda, como 2022 foi fraco em emissões externas, os fundos estavam com caixa sobrando. Com o cenário mais claro, foram às compras e as emissões saíram com livro de ordens acima dos valores que as empresas queriam captar.
• CHAMADO AO TRIO. Um empréstimo-ponte para empresas com problemas, o chamado DIP, é a alternativa mais discutida para injetar recursos na Americanas. Pelo desenho à mesa, os acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles participariam com metade do aporte e o restante seria captado no mercado, com parte a ser feita no exterior.
• COMPAREÇAM. Sem a participação do trio, esse empréstimo teria muito mais dificuldade de ser fechado. No início da recuperação, se falava em cerca de US$ 2 bilhões. O aporte, que só resolve o curto prazo, pode sair em breve. E as conversas são tocadas, incluindo com fundos – locais e estrangeiros – que compram papéis de empresas com problemas.
• SINAL DE FUMAÇA. O trio tem sido cobrado pelos credores a fazer um aporte via ações na Americanas, mas “as conversas estão paradas”, diz fonte de um banco credor. A Americanas não se manifestou.
• P&D. Enquanto o 5G avança pelas cidades brasileiras, um dos setores com maior potencial de se beneficiar da tecnologia ainda busca respostas sobre as formas mais eficientes de aplicação. Para ampliar o conhecimento sobre o tema, a indústria nacional contará com a ajuda de pesquisadores.
• ALIANÇA. A iniciativa envolve a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), três grandes empresas do setor de telecomunicação, entre as quais a Cisco, e três centros de pesquisa brasileiros. Haverá ainda a participação de duas startups.