O Estado de S. Paulo

Silveira defende ‘governo único’; ‘Ibama é que vai julgar’, diz Marina

Em audiências no Congresso, ministros reafirmam visões divergente­s sobre exploração de petróleo na foz do Amazonas

- LEVY TELES MARLLA SABINO

Os ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, e de Minas e Energia, Alexandre Silveira, expuseram publicamen­te ontem as divergênci­as sobre a extração de petróleo na foz do Rio Amazonas. Os dois apresentar­am suas visões sobre o tema durante audiências realizadas na Câmara dos Deputados e no Senado e dividiram as atenções no Congresso.

No Senado, Silveira defendeu a posição da Petrobras, responsáve­l pelo projeto, e apontou a dissonânci­a no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Não temos e não devemos ter dentro de um governo dois ou três governos. Devemos ter um único governo”, afirmou o ministro, que definiu o tema como “estratégic­o”. “Não consigo compreende­r não haver nas questões estratégic­as a possibilid­ade de superarmos questões burocrátic­as”, declarou.

A Petrobras é a favor da exploração na Foz do Amazonas, enquanto um parecer técnico do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) recomenda o indeferime­nto do pedido de licença ambiental feito pela companhia. Considerad­a como “novo présal”, a região constitui uma das cinco bacias da Margem Equatorial, que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte e fica próxima à fronteira marítima com a Guiana Francesa. Como mostrou o Estadão, Marina entrou em confronto com Silveira para barrar o projeto.

O que está em jogo agora, na prática, é uma licença para perfuração, com o objetivo de averiguar o volume de petróleo disponível. Para a exploração em si, a Petrobras precisaria abrir um segundo pedido de licenciame­nto. Segundo Marina, o processo levaria de dois a dois anos e meio.

Silveira ressaltou que o respeito do Brasil à questão ambiental e legal é indiscutív­el e que, ainda que haja discussões legais no Congresso Nacional, a atual legislação será “completame­nte respeitada”.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que a companhia aguarda uma resposta do Ibama ao pedido de reconsider­ação da negativa de explorar no local (mais informaçõe­s nesta página). “É uma chance de ouro que se perde”, afirmou.

‘COURO’. Na Câmara, Marina reforçou o posicionam­ento do Ibama. “Esse relatório técnico de dez técnicos do Ibama, todos assinaram que precisa da avaliação ambiental estratégic­a. Uma avaliação dessa leva de dois a dois anos e meio. E a decisão do governo é a que vamos fazer, sim, a avaliação ambiental estratégic­a”, afirmou.

Em seguida, disse que está tranquila sobre a possibilid­ade de uma derrota. “O Ibama é que vai julgar. Às vezes a gente perde muito tempo com os atalhos e os atalhos não são bons em determinad­as questões”, afirmou. “Eu compreendo, estou com 65 anos, comecei essa luta desde que eu nasci. Já apanhei igual a couro de pisar tabaco. Eu prefiro sofrer injustiça a praticar injustiça.”

Numa crítica à Petrobras, Marina falou que a empresa deveria não apenas explorar petróleo, mas também deveria atuar no campo da geração de energia. Para ela, o Brasil não pode perder a oportunida­de de ser vanguarda na produção de energias renováveis.

Anteontem, Marina disse que a decisão do Ibama será cumprida. Ainda nesta semana, após Lula indicar ser a favor de estudos para a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, a ministra afirmou que destruir um “presente de Deus” é uma “ingratidão com o criador”. O presidente havia dito, durante viagem ao Japão, achar “difícil” não poder explorar a região. •

 ?? ?? A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante audiência na Câmara, e o titular de Minas e Energia, Alexandre Silveira, no Senado
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante audiência na Câmara, e o titular de Minas e Energia, Alexandre Silveira, no Senado
 ?? FOTOS WILTON JUNIOR / ESTADÃO ??
FOTOS WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil