Secretários de SP disputam vaga de R$ 35 mil
Marcela Arruda, da Gestão, é a preferida de Nunes para o cargo de conselheira. Milton Leite, presidente da Câmara, quer opinar
Secretários do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disputam uma das vagas mais atrativas do serviço público paulistano, com salário de R$ 35,4 mil, estabilidade até os 75 anos, uma série de benefícios e aposentadoria integral. O emedebista sinaliza com a indicação de um auxiliar de confiança para o Tribunal de Contas do Município (TCM) e o rompimento da tradição de escolher um vereador. O presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), já fez chegar a Nunes a insatisfação com uma eventual mudança no processo de nomeação do próximo conselheiro.
A vaga será aberta com a aposentadoria compulsória de Maurício Faria, indicado pela então prefeita Marta Suplicy em 2002. Com uma série de obras paralisadas pelo TCM, Nunes terá a chance de, em junho, passar a influenciar mais diretamente nas decisões do órgão. Com foco na reeleição, o emedebista espera pelo aval da Corte para dar prosseguimento a empreendimentos como corredores de ônibus na zona sul e o BRT da zona leste (corredor expresso).
A secretária de Gestão, Marcela Arruda, é a preferida de Nunes, segundo o Estadão apurou. No entanto, a pouca experiência política da advogada pode fazer com que o secretário de Governo, Edson Aparecido, passe à frente na disputa e já assuma o cargo mesmo como conselheiro interino – caso a escolha definitiva se arraste tanto na Prefeitura como na Câmara, que precisa respaldar o nome indicado e onde o processo pode ficar emperrado.
ACORDO. Leite espera que Nunes cumpra um acordo firmado ainda em 2020, durante a formação da chapa vencedora da última eleição. À época, em troca de seu apoio na Câmara Municipal, o então prefeito Bruno Covas – morto em 2021 – e Nunes teriam prometido ao vereador a Leite a escolha do próximo conselheiro. O presidente da Câmara, então, teria passado a exigir a indicação de um de seus filhos: o deputado federal Alexandre Leite (União Brasil) ou o deputado estadual Milton Leite Filho (União Brasil), preferido do pai para o posto.
Eleito para um terceiro mandato consecutivo após alterar o regimento interno com o apoio maciço dos colegas, o atual presidente da Câmara asseguraria a aprovação de qualquer um dos nomes. Nunes, porém, resiste. Na conta do prefeito, com a indicação de Eduardo Tuma, que assumiu uma vaga em dezembro de 2020, o acordo já foi cumprido. A saída do então vereador tucano teve o aval de Leite e abriu caminho para que ele seguisse na presidência da Casa desde então.
Além disso, há a avaliação na Prefeitura de que a indicação de um nome mais próximo de Nunes poderia ajudar a liberar obras importantes suspensas pelo TCM. Além de Marcela, o secretário da Fazenda, Ricardo Torres, também é cotado.
Procurado, Leite apenas afirmou não comentar especulações. Já Nunes declarou que a relação de ambos é “muito boa”, “respeitosa” e que a indicação ao TCM não tem potencial para atrapalhar a parceria. A aliados, o prefeito tem listado uma série de elogios a Marcela – que, caso escolhida, será a primeira mulher a ocupar uma cadeira no TCM.
ELEIÇÕES. A indicação se dará em momento delicado para o prefeito. Pré-candidato à reeleição em 2024, Nunes tem se esforçado nos bastidores para manter as alianças partidárias que dão sustentação a seu governo e que abrigam nomes com aspirações eleitorais. É o caso do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), já citado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro como opção para disputar a Prefeitura. Líderes do partido são bastante próximos a Leite, como o vereador Isaac Félix, que defende a manutenção do apoio a Nunes.
O próprio União Brasil, que atua como fiador do governo, pode desembarcar da aliança para a próxima eleição, a depender do cenário eleitoral e dos acordos, cumpridos ou não. Diferentemente do MDB, partido de Nunes, a sigla colocou a imagem do prefeito em sua propaganda partidária, mas, até abril de 2024, deve ter de volta a seus quadros o exgovernador Rodrigo Garcia (PSDB), cada vez mais interessado em disputar o cargo, segundo aliados.l
Aposentadoria. O posto será aberto porque Maurício Faria, indicado por Marta Suplicy, em 2002, completará 75 anos