SOLANGE SROUR
Economista-chefe do Credit Suisse no Brasil
• O texto aprovado buscou reduzir brecha que permitia ao governo gastar mais em 2024. Há alguma mudança no cenário?
Na verdade, não está explícito como no projeto anterior, na primeira versão, mas o crescimento de 2,5% (limite superior de gastos) real da despesa em 2024 ainda me parece ser um cenário mais provável. A inovação também é que vai haver um ajuste em 2025 caso a receita estimada em 2024 não se torne verdade. Dito isso, qual é a grande diferença? Em vez de estar explicitamente na lei os 2,5% de crescimento real, arrumou-se uma maneira de conseguir chegar aos 2,5% mesmo assim. Na prática, não vai mudar nada nas nossas contas.
• E traz alguma mudança para 2025?
Não dá para chegar a um número (fechado), porque vai depender muito do que o governo vai estimar de receita e o que vai efetivamente se realizar em 2024. Mas a gente não vai mudar. A nossa expectativa é de que o gasto cresça 2,2% em 2025, muito próximo de 2,5%.
• Dado que pouca coisa mudou, como avalia o arcabouço?
Eu acho que existem duas visões, uma de curto prazo e outra de médio prazo. No curto prazo, existe, pelo menos, um limite de despesa. Essa é a visão que está prevalecendo no mercado, que tem recebido muito bem o arcabouço. A gente pode discutir que 2,5% de crescimento real (das despesas) não é o ideal, mas é melhor do que era no passado, antes de existir o teto. Eu acho que é uma avaliação de curto prazo. Não é a que eu mais me apego.
• E qual é a visão de médio prazo?
No fim das contas, quando você desenha uma regra fiscal, o que você almeja? Você almeja que a dívida estabilize no médio prazo. E, nesse quesito, eu acho que essa regra não cumpre o seu objetivo. Nas nossas contas, a dívida não vai estabilizar. Ele vai crescer ano após ano durante os próximos quatro anos. Não tem uma estabilização. Mas, mais do que isso, além de ela não estabilizar e não cumprir esse requisito importante, eu tenho muito medo de que o arcabouço não se mostre factível em 2025.
• Faz sentido o mercado ter recebido tão bem o arcabouço?
Esse otimismo está muito relacionado em como o mercado estava precificando o cenário em dezembro, janeiro e fevereiro. Dá para entender essa animação quando se parte de um ponto de ativos muito depreciados. Eu entendo isso como um alívio, mas eu também acho que ninguém no mercado está acreditando que este arcabouço veio para ficar para os próximos governos. A grande maioria acha que no final de 2025 e 2026 será preciso rediscutir e, de fato, tentar uma estabilização da dívida via reforma nos gastos. •