O Estado de S. Paulo

‘Pauta-País’

- Adriana Fernandes adriana.fernandes@estadao.com

Não resta dúvida de que a votação acachapant­e do projeto do novo arcabouço fiscal, com placar mais do que suficiente para aprovação de uma emenda à Constituiç­ão, coloca lenha na fogueira da pressão no Banco Central pela redução dos juros.

As críticas ao BC e a repetição diária, por integrante­s do governo, da narrativa de que a aprovação da nova regra fiscal abre o caminho para o início da queda da taxa Selic tiveram um papel político que consolidou a vitória do ministro Fernando Haddad na votação.

O placar (372 votos a favor) mostrou que a maioria esmagadora dos deputados não quis ficar do lado daqueles que poderiam ser acusados depois de terem impedido a queda dos juros.

Até o PL, partido da oposição e sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, liberou a votação garantiu 31 votos da sigla a favor do projeto. É a “pautaPaís”, como tem ressaltado o presidente da Câmara, Arthur Lira. Nem do governo nem do PT nem da oposição.

Haddad tem o que comemorar. Saiu da batalha com elogios públicos e repetidos das lideranças do Congresso. Faz tempo que não se vê em Brasília um ministro da Fazenda recebendo esse tipo de tratamento. Se tanto elogio é bom ou ruim para Haddad, em confronto com o resto do governo e o PT, só mais para frente saberemos.

Por ora, o substituti­vo do relator Cláudio Cajado aprovado pela Câmara trouxe avanços importante­s que podem ser observados na análise dos detalhes.

Servidores públicos do time fiscal da área econômica ouvidos pela coluna avaliaram que o texto aprovado melhorou os instrument­os de controle das despesas à disposição da área econômica.

O principal ganho é a “emenda antipedala­da” numa referência às manobras feitas no passado para melhorar o resultado das contas públicas e cumprir as metas fiscais. “É um ganho absurdo”, resumiu um técnico, que acompanhou todo o processo de fragilizaç­ão da meta fiscal, com os descontos que a cada ano só aumentaram. O texto aprovado também reduziu o piso dos investimen­tos, que caiu de 0,8% para 0,6% do PIB e, agora, pode ser contingenc­iado. O projeto aprovado também melhora a parte do texto que trata do limite para o contingenc­iamento.

Outro ponto positivo citado é que o aumento no teto das despesas (2,5%) em 2024 está condiciona­do, e não é mais obrigatóri­o, como na primeira versão.

Nenhuma dessas mudanças, porém, muda o fato de que Haddad terá de correr para buscar mais arrecadaçã­o. A mudança do texto para 2024 só deu mais tempo para ele conseguir colocar mais dinheiro para dentro dos cofres do governo. •

Haddad tem o que comemorar; saiu da batalha com elogios públicos de líderes do Congresso

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