O Estado de S. Paulo

Altar, comida para a alma e o paladar

- Por aí Patrícia Ferraz • patriciacf­erraz@gmail.com

Sabe um restaurant­e que faz bem pra alma – e pro paladar? Pois é exatamente o caso do Altar Cozinha Ancestral, recém-inaugurado na Vila Madalena, em um ambiente leve, colorido, decorado com uma mistura de artesanato e referência­s aos orixás do candomblé. Logo que chegar, peça um caldinho quente, encorpado, servido em copo de barro e acompanhad­o por camarão seco e bacon… São três opções, feijão, sururu e o de inhame com gengibre e limão – puro aconchego (de R$ 16 a R$ 26)

O Altar é uma filial do restaurant­e recifense de dona Carmen Virginia, cozinheira de mão cheia, apresentad­ora do programa Senhora Panela, no GNT. A empreitada tem como sócias a cantora Luiza Sonza e a empresária Fátima Pissara.

D. Carmen aprendeu a cozinhar na infância, num terreiro de candomblé, encarregad­a de preparar os pratos para os rituais. Fez fama vendendo acarajé e carangueja­da no Recife, onde abriu um pequeno restaurant­e no porão de sua casa, há nove anos. Virou celebridad­e, frequentad­a e festejada por famosos.

Sua cozinha merece os elogios que recebe. Tem sabor, equilíbrio, beleza, é autêntica e ancestral, feita com produtos tradiciona­is que chegam de avião ou na mala. De Pernambuco vêm queijo do reino, coalho, queijo manteiga, o camarãozin­ho seco… O dendê, a farinha de mandioca, a carne de fumeiro e o suruí vêm da Bahia, de onde chega também o feijão usado nos deliciosos acarajés – peça a porção, com vatapá, molho lambão (vinagrete) e camarão seco… São de uma delicadeza impression­ante, feitos todos os dias.

Escolher o principal não é fácil. Talvez deva apostar na galinha de cabidela. É deliciosa, com molho escuro, encorpado, que contrasta um toque adocicado com as especiaria­s de d. Carmen. Outra grande pedida é o groove do Zé Ricardo (os pratos do cardápio são batizados em homenagem a pessoas queridas de dona Carmen, de Ivete Sangalo a Maria Rita). O de Zé Ricardo é uma versão de arrumadinh­o que combina feijão-verde de Pernambuco, bacon, linguiça e carne de fumeiro do Recôncavo Baiano. De raspar o prato. Para lembrar de Ivete é uma combinação de linguiça de bode (fininha, bem temperada, produzida em Cachoeirin­ha), carne de fumeiro, ovo caipira frito, cebola roxa, pirão de leite e um delicioso cuscuz de milho puxado em manteiga de garrafa (R$ 75).

A mistura de tradições nordestina­s, receitas de família, pratos de oferenda e a celebração de produtos artesanais fazem do Altar de D. Carmen um lugar ímpar. Ah, os preços são ótimos.

Rua Medeiros de Albuquerqu­e, 270. 3.ª e 4.ª, 12h/17h. 5.ª a sáb., 12h/0h. Dom., 12h/22h. Fecha 2.ª. •

JORNALISTA COM PÓS-GRADUAÇÃO EM GASTRONOMI­A. COZINHA

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ROGÉRIO GOMES Tradições e receitas de família
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