Altar, comida para a alma e o paladar
Sabe um restaurante que faz bem pra alma – e pro paladar? Pois é exatamente o caso do Altar Cozinha Ancestral, recém-inaugurado na Vila Madalena, em um ambiente leve, colorido, decorado com uma mistura de artesanato e referências aos orixás do candomblé. Logo que chegar, peça um caldinho quente, encorpado, servido em copo de barro e acompanhado por camarão seco e bacon… São três opções, feijão, sururu e o de inhame com gengibre e limão – puro aconchego (de R$ 16 a R$ 26)
O Altar é uma filial do restaurante recifense de dona Carmen Virginia, cozinheira de mão cheia, apresentadora do programa Senhora Panela, no GNT. A empreitada tem como sócias a cantora Luiza Sonza e a empresária Fátima Pissara.
D. Carmen aprendeu a cozinhar na infância, num terreiro de candomblé, encarregada de preparar os pratos para os rituais. Fez fama vendendo acarajé e caranguejada no Recife, onde abriu um pequeno restaurante no porão de sua casa, há nove anos. Virou celebridade, frequentada e festejada por famosos.
Sua cozinha merece os elogios que recebe. Tem sabor, equilíbrio, beleza, é autêntica e ancestral, feita com produtos tradicionais que chegam de avião ou na mala. De Pernambuco vêm queijo do reino, coalho, queijo manteiga, o camarãozinho seco… O dendê, a farinha de mandioca, a carne de fumeiro e o suruí vêm da Bahia, de onde chega também o feijão usado nos deliciosos acarajés – peça a porção, com vatapá, molho lambão (vinagrete) e camarão seco… São de uma delicadeza impressionante, feitos todos os dias.
Escolher o principal não é fácil. Talvez deva apostar na galinha de cabidela. É deliciosa, com molho escuro, encorpado, que contrasta um toque adocicado com as especiarias de d. Carmen. Outra grande pedida é o groove do Zé Ricardo (os pratos do cardápio são batizados em homenagem a pessoas queridas de dona Carmen, de Ivete Sangalo a Maria Rita). O de Zé Ricardo é uma versão de arrumadinho que combina feijão-verde de Pernambuco, bacon, linguiça e carne de fumeiro do Recôncavo Baiano. De raspar o prato. Para lembrar de Ivete é uma combinação de linguiça de bode (fininha, bem temperada, produzida em Cachoeirinha), carne de fumeiro, ovo caipira frito, cebola roxa, pirão de leite e um delicioso cuscuz de milho puxado em manteiga de garrafa (R$ 75).
A mistura de tradições nordestinas, receitas de família, pratos de oferenda e a celebração de produtos artesanais fazem do Altar de D. Carmen um lugar ímpar. Ah, os preços são ótimos.
Rua Medeiros de Albuquerque, 270. 3.ª e 4.ª, 12h/17h. 5.ª a sáb., 12h/0h. Dom., 12h/22h. Fecha 2.ª. •
JORNALISTA COM PÓS-GRADUAÇÃO EM GASTRONOMIA. COZINHA
E COME A TRABALHO HÁ 22 ANOS.