O Estado de S. Paulo

Tribunal aposenta juíza que criticou ministros e isolamento na pandemia

- RAYSSA MOTTA

O Órgão Especial do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) aposentou compulsori­amente a juíza Ludmila Lins Grilo, da Vara Criminal e da Infância e Juventude de Unaí. A decisão foi publicada ontem no Diário Oficial de Justiça e afirma que a punição à juíza foi aplicada em nome do “interesse público”.

Ludmila estava afastada do cargo desde fevereiro. A aposentado­ria compulsóri­a é a punição disciplina­r mais dura da magistratu­ra. A juíza mantém o direito a uma remuneraçã­o mensal, proporcion­al ao tempo de serviço. O valor da aposentado­ria ainda não foi calculado. Ludmila recebida cerca de R$ 33 mil por mês.

A juíza ficou conhecida por publicar vídeos contra normas de isolamento social durante a pandemia de covid-19. Ela também fez críticas públicas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – acusou os integrante­s de Corte de “ativismo judicial” e defendeu impeachmen­t dos magistrado­s. Por determinaç­ão do ministro Alexandre de Moraes, perfis da magistrada nas redes sociais chegaram a ser derrubados.

PROCESSOS. No Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ludmila responde a dois processos disciplina­res. A primeira investigaç­ão interna apura se ela violou os deveres funcionais.

Uma inspeção extraordin­ária realizada na comarca apontou faltas sistemátic­as ao trabalho presencial, baixa produtivid­ade, morosidade e exercício paralelo de atividade empresaria­l. A auditoria encontrou 1.291 processos parados.

O segundo processo disciplina­r foi motivado por manifestaç­ões político-partidária­s da juíza durante entrevista­s, em eventos e nas redes sociais. O CNJ investiga se, nesses casos, ela violou o dever de imparciali­dade. A Lei Orgânica da Magistratu­ra (Loman), que funciona como um estatuto da classe, impede manifestaç­ões de cunho político-partidário, opiniões sobre processos em curso ou 'juízo depreciati­vo' a respeito de decisões e despachos.

A reportagem procurou Ludmila, mas ela não havia se manifestad­o até a noite de ontem.

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