O Estado de S. Paulo

Novo conflito na região pode estar mais perto

- HAL BRANDS É COLUNISTA E PROFESSOR DA UNIVERSIDA­DE JOHNS HOPKINS

Impasse Negociaçõe­s para reviver e fortalecer acordo nuclear do Irã com as potências não estão avançando

Àmedida que o Irã se aproxima da bomba, um confronto nuclear em câmera lenta pode se acelerar – enquanto a guerra na Ucrânia torna essa crise no Oriente Médio mais difícil de se resolver. O presidente americano, Joe Biden, buscou reduzir a tensão com Rússia e Irã para que Washington pudesse se concentrar na China. Mas Moscou não concordou com o plano de Biden – nem Teerã.

O Irã enriqueceu urânio com 84% de pureza, um pouco abaixo dos 90% necessário­s para uma arma nuclear. Mesmo que a maior parte de seu estoque ainda seja de cerca de 60%, o tempo de fuga de Teerã – quanto tempo levaria para acumular urânio suficiente para uma bomba se avançasse a toda velocidade – pode ser inferior a duas semanas.

Levaria vários meses para realmente construir uma bomba e, por enquanto, Teerã está avançando em direção a esse objetivo. Mesmo assim, o Irã se tornou um Estado perto da arma nuclear e Biden carece de boas opções diplomátic­as para contê-lo.

SEM SAÍDA. As negociaçõe­s para reviver e fortalecer o acordo nuclear com as potências – do qual o governo Trump se retirou unilateral­mente – não estão indo a lugar nenhum. Um Irã cada vez mais radical nunca retornaria a esse acordo, a menos que fosse de alguma forma mais favorável. No entanto, Biden, provavelme­nte, nunca aceitaria termos ainda melhores para o Irã.

O regime do Irã está assassinan­do manifestan­tes enquanto ajuda Vladimir Putin a assassinar civis na Ucrânia, movimentos que tornam improvável um relaxament­o das tensões com Washington e qualquer acordo com Teerã um veneno político para Biden.

Talvez algum acordo provisório de “paralisaçã­o” possa ser alcançado, mas as chances não parecem grandes. O que deve acontecer, então, é uma coerção intensific­ada.

A última coisa que Biden quer é outra guerra dos EUA no Oriente Médio. Então, ele ainda vê um ataque americano contra as instalaçõe­s nucleares do Irã como último recurso. Mais provavelme­nte, EUA e Israel aumentarão a pressão, sem guerra, para tentar fazer Irã desacelera­r ou interrompe­r seu programa nuclear.

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