O Estado de S. Paulo

Mudança climática já afeta o consumo e o preço do azeite

Seca na Espanha, que produz metade do que o mundo consome, faz o produto ficar mais caro nos supermerca­dos

- AMUDALAT AJASA

Os efeitos da seca que atinge a Espanha estão reverberan­do no mundo todo, que obtém metade de seu azeite do país mediterrân­eo. Na semana passada, os preços globais atingiram seu nível mais alto em 26 anos, US$ 5.989,7 por tonelada métrica, segundo o Fundo Monetário Internacio­nal.

É o exemplo mais recente de como as mudanças climáticas surgem nos corredores dos supermerca­dos à medida que o clima fica mais extremo. Com as secas enfrentada­s pela Espanha e por outros países produtores de azeite, não se deve esperar preços mais baixos tão cedo. “Não vejo motivos para os preços caiam”, disse John Cancilla, economista que acompanha a indústria do azeite. Os preços mais altos já estão diminuindo a demanda entre os consumidor­es americanos, acrescento­u ele.

“Não sabemos como essa situação vai acabar, mas as previsões não são animadoras”, disse Ximo Sempere, CEO da Almazara El Tendre, produtora de azeite em Alicante, na Espanha. A empresa costuma processar cerca de 5 milhões de quilos de azeitonas. Na temporada passada, não chegou a 3 milhões de quilos.

TEMPORADA RUIM. A Espanha vem enfrentand­o chuvas abaixo do normal desde outubro. Em abril, registrou as condições mais secas e quentes para o mês na história da região, com cerca de um quinto da precipitaç­ão média, segundo a agência meteorológ­ica do país. Como resultado, a Espanha deve colher metade do que na última temporada.

O Ministério da Agricultur­a, Pesca e Alimentaçã­o espanhol prevê que o país só produzirá 680 mil toneladas na temporada 2022-2023 – em comparação com quase 1,5 milhão de toneladas no ano anterior. A queda contribuiu para um aumento nos preços globais do azeite desde outubro.

Pilar Peláez, dona da fazenda de oliveiras e do moinho La Grama, no norte da Espanha, não se lembra de uma época em que chovesse tão pouco. Para ela, que administra 33 hectares de olivais, o tempo para recuperar parte da safra deste ano está se esgotando. Sua única esperança são chuvas no fim da primavera ou no início do outono. “Se a situação continuar piorando, as safras de áreas como a nossa serão ainda mais reduzidas.”

Em Jaén, província do sul da Espanha, as comunidade­s fizeram no início deste mês uma procissão pedindo chuva, disse Ana Ortega, cuja família vende azeite da região na Aceteira Jaenera, loja na cidade de Jaén. Para compensar o impacto esperado nos negócios, ela está lançando novos produtos, como azeite selvagem e azeite de bagaço, um óleo de sabor neutro produzido a partir da polpa da azeitona.

Chuvas abaixo da média Espanha registrou em abril as condições mais secas e quentes para o mês na história da região

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil