O Estado de S. Paulo

‘Se o torcedor grita coisas racistas, devemos intervir’

Javier Tebas, da LaLiga, agora quer mudança na lei e na punição em casos como o de Vini Jr.

- RODRIGO SAMPAIO

Depois de quase condenar o brasileiro Vinícius Júnior por ele ter exposto em suas redes sociais os ataques racistas que recebeu em Valencia, no domingo, e ver o mundo se revoltar com sua postura, Javier Tebas, presidente da LaLiga (organizado­ra do Campeonato Espanhol), mudou completame­nte o seu discurso. Ontem, o cartola pediu mudanças na lei da Espanha para que a entidade tenha competênci­a para punir casos de racismo e defendeu a perda de pontos como forma de punição aos clubes.

Questionad­o pelo Estadão sobre como a LaLiga pretende agir na relação com o Governo da Espanha para evitar novos casos, Tebas afirmou que a liga emitirá um comunicado hoje pedindo aos partidos políticos e aos membros do Congresso uma “modificaçã­o urgente” na Lei 19/2007, que versa sobre crimes de ódio e discrimina­ção”, pedindo competênci­a para agir e punir infrações por racismo, homofobia e xenofobia no futebol do país. Não há prazo estimado para o trâmite dessas mudanças.

Atualmente, no âmbito do futebol, apenas a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) está apta a punir os clubes – a entidade multou o Valencia em € 45 mil e fechou o setor do estádio de onde saíram os insultos a Vini Jr. no último domingo. O presidente da LaLiga destacou ainda que a Procurador­ia-Geral da Espanha arquivou outros casos de racismo ocorridos no futebol espanhol, e que transcorre­ram três anos desde a primeira denúncia para que o Ministério Público tomasse providênci­as. Ontem, a Justiça determinou que quatro torcedores que penduraram, em janeiro boneco com camisa de Vini Jr. em ponte de Madri, simulando um enforcamen­to, sejam proibidos de ir a estádios no país.

“Queremos provar que temos competênci­a para resolver esse problema, mas fica difícil terminar com esses insultos. Somos responsáve­is pelo torcedor desde a hora em que sai de casa para ver o jogo até o estádio. Se ele grita coisas racistas, devemos intervir”, disse Tebas.

Tebas disse que vê com bons olhos, agora, a introdução da perda de pontos aos clubes envolvidos em casos de racismo. Ele relembra que, atualmente, a competição espanhola só pode aplicar a medida no caso de inscrição irregular de atletas.

“Seria bom pensar na perda de pontos (para o racismo)? Creio que sim. Isso seria bom poder introduzir. Com o regime atual de sanções, queremos mais competênci­as para nós. Temos de pensar no futuro. Contra o racismo é fundamenta­l lutar todo dia.”

O dirigente disse, ainda, que “estaria maluco” se não estivesse preocupado com a imagem que a Espanha deixou para o mundo após mais um caso de racismo contra Vinícius Júnior, principal jogador do Brasil em atuação na Europa. Ele afirma que a Espanha não é racista e irá trabalhar para recuperar a reputação do país e torce para Vini Jr. seguir jogando no futebol espanhol, apesar dos seguidos ataques.

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