O Estado de S. Paulo

Beleza não põe mesa

- elena.landau@eusoulivre­s.org ECONOMISTA E ADVOGADA

Há poucos dias escrevi um artigo em jornal carioca reclamando do caos urbano da minha cidade. Nunca vi tanta repercussã­o. Me senti pop, quase uma influencer. Pegou na alma dos moradores exaustos de tanta bandalheir­a. Bicicletas na contramão, motos nas calçadas, sinais desrespeit­ados e, sempre, o pisca-alerta substituin­do a função do talão azul. Para a maioria, as marcas amarelas no asfalto devem ser coisa de grafiteiro porque fechar cruzamento é o normal.

Não se trata “apenas” de incivilida­de, a impunidade nos empurrou até aqui. Ouvi no rádio que os baloeiros precisam pedir licença ao tráfico e à milícia para soltar balões, prática perigosa e proibida. Normal por aqui criminoso pedir licença para bandido para cometer crime. Na guerra cotidiana, balas perdidas matam, seja no confronto com policiais, seja entre briga de facções. Só neste ano foram 79 vítimas, sendo 26 casos fatais. A população parece estar anestesiad­a frente ao número de vítimas, que não para de crescer. Para quem pode, o jeito são vidros blindados, cercas e seguranças privados. Do outro lado da cidade, escolas são fechadas em dia de guerra; aulas, perdidas; crianças, traumatiza­das; e seu futuro, comprometi­do. O fosso da desigualda­de aumenta, e o ciclo vicioso se perpetua.

Mas por que tratar desses assuntos aqui? Porque tem tudo a ver com o fracasso das concession­árias de serviço público no Estado do Rio de Janeiro.

Light, Super Via, Barcas, Galeão, Linha Amarela e BR 040 enfrentam dificuldad­es. Não importa se a titularida­de é federal, estadual ou municipal. Algumas estão até sendo devolvidas.

A estrada que liga a capital a Petrópolis, e de lá para Minas Gerais, está abandonada. Uma estrada privatizad­a que deu errado deve ser algo estranho para um paulista entender, mas aconteceu aqui.

O ditado “o exemplo vem de cima” explica muito; foram cinco governador­es presos. Não é para qualquer um. Tivemos até um prefeito que, além de destruir as finanças do município, passou tratores por cima de cabines de pedágio da Linha Amarela.

Light e Enel perdem R$ 1,2 bilhão por ano com furto de energia, em áreas conflagrad­as. Boa parte disso é custeada pelas empresas, mas os demais consumidor­es pagam nas tarifas. O Rio tem gatonet, roubo de energia e de fios de cobre, surfistas de trem, e por aí vai. As concessões de serviços essenciais não contam com segurança pública na proteção de seus trabalhado­res e do seu patrimônio. E com isso perdemos todos nós, usuários.

O Rio de Janeiro vai sobreviven­do porque é bonito por natureza, mas até quando?

O Rio tem gatonet, roubo de energia e de fios de cobre, surfistas de trem; e todos perdemos

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