O Estado de S. Paulo

Mais pressão sobre o Banco Central

Com arcabouço fiscal e inflação menor, empresário­s se unem ao governo para demandar queda nos juros

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Com a rejeição dos destaques, a Câmara concluiu a votação do arcabouço fiscal. O projeto segue agora para o Senado, onde a expectativ­a é aprová-lo antes do recesso parlamenta­r. Na Câmara, o espaço extra para gastos foi reduzido de mais de R$ 80 bilhões para algo entre R$ 15 bilhões e R$ 28 bilhões, condiciona­do ao cumpriment­o do ambicioso objetivo de zerar o déficit em 2024. Mais rígido do que o governo queria e mais frouxo do que a oposição desejava, o sucesso do arcabouço dependerá fortemente do aumento de receitas.

Bem ou mal, trata-se da primeira vitória do governo Lula no Legislativ­o, e ainda que ela se deva menos à articulaçã­o política do petista e de seus ministros e mais à liderança do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e ao esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é fato que o mercado financeiro reagiu bem à aprovação da proposta.

Mais do que o reconhecim­ento do compromiss­o fiscal do governo, da credibilid­ade das projeções, da perenidade do dispositiv­o e de sua capacidade para estabiliza­r a trajetória da dívida pública no médio prazo, o movimento foi um ajuste de posições de investidor­es diante da diminuição da percepção de risco. Afinal, bem ou mal, o País voltará a ter algum limite para o cresciment­o das despesas, o que não existia desde a completa desmoraliz­ação do teto de gastos.

Assim, as atenções se voltam imediatame­nte para o Banco Central (BC), alvo preferenci­al de Lula. O BC já havia afirmado, nas atas das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), que a apresentaç­ão do arcabouço reduzia incertezas, embora não houvesse relação mecânica entre a aprovação da proposta e a convergênc­ia da inflação. A autoridade monetária havia reconhecid­o, no entanto, que um arcabouço sólido e crível poderia levar a um processo desinflaci­onário mais benigno, reduzindo as expectativ­as e, consequent­emente, as projeções com as quais o Copom trabalha.

Horas antes da aprovação do arcabouço, no entanto, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi instado a levar em conta em suas decisões, além das expectativ­as do mercado, a percepção das empresas sobre a economia brasileira. Como mostrou o Estadão, em um almoço com a cúpula do Congresso, ele ouviu de alguns dos maiores empresário­s do País críticas sobre o patamar da taxa básica de juros e alertas sobre a situação delicada por que passa o setor produtivo.

Para completar o quadro, no dia seguinte à aprovação do arcabouço, o IPCA-15, prévia do índice oficial de inflação do mês de maio, subiu 0,51%, menos do que o esperado. Ainda assim, Campos Neto manteve o discurso. Disse que ainda é preciso ter certeza de que a inflação vai convergir à meta e mencionou a lentidão do ritmo do processo desinflaci­onário, um trabalho que requer “paciência e sinergia”.

Há dúvidas sobre se o arcabouço será capaz de estabiliza­r a dívida pública – e o endividame­nto, afinal, é um fator que contribui para manter os juros em níveis elevados. O que é certo é que a pressão sobre o BC deve aumentar ainda mais.l

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