A tristeza do Brasil
Oque pensa o governo Lula? Qual sua ideia de Brasil? Em grande parte, o presidente foi eleito por suas credenciais democráticas. Fez, durante a campanha, um discurso vago, sem grandes compromissos, mas em essência prometendo que não seria Jair Bolsonaro. A esta altura de maio, porém, alguns sinais deveriam preocupar. Tudo indica que ele não acredita na ideia de economia verde, o caminho mais fácil de inserção do País no século 21. Também há sinais de que ele não percebe como fomentar uma indústria digital. O noticiário desta semana deixa tudo isso alarmantemente claro.
Na edição de ontem do Estadão, Lula assinou um artigo com seu vice, Geraldo Alckmin, afirmando o compromisso com a reindustrialização do País. O cheiro que deixa é, embora nunca dito, de que ainda procura empregos bons para operários. Eles não existem mais. Insinua o sonho de exportar motores a combustão de etanol para a África. É sonhar pequeno. Aposta na indústria de semicondutores – aí é sonhar grande. Será que deseja competir com Taiwan, coisa que EUA e China estão batalhando para conseguir? No rastro, deixa um mísero parágrafo no pé para educação. E fala só de educação de base.
Os exemplos de China e Coreia do Sul mexem com os sonhos de boa parte dos economistas desenvolvimentistas do Brasil. O que raramente é comentado são dois fatores. O primeiro é que esses países têm poupanças internas formidáveis. Nós não temos. O segundo é outra coisa que ambos os países têm de estupendo: educação. Criança pequena aprende as quatro operações e engenheiros são formados em vastas quantidades ano após ano.
Uma indústria do século 21 não precisa só de dinheiro, seja privado ou estatal. É movida a cérebros. Se a conversas obre reindustrialização és éria, deveria começar pelo M EC. Nas duas pontas: ensino de base e superior.
À jornalista Mônica Bergamo, um ministro palaciano explicou que a negociação com Arthur Lira, na Câmara, vem sendo difícil. E que, por isso, o governo precisou abrir mão de “pautas simbólicas, como o Ministério do Meio Ambiente”, para produzir crescimento econômico. Pautas simbólicas.
“O petróleo é nosso”, o fetiche que não morre. A indústria verde, créditos de carbono, exploração científica da biodiversidade, as patentes que podem surgir. Ao que parece, “indústria verde”, no Planalto, é um termo de marketing. Não enxergam. Manter intacto o ministério de Marina Silva não é prioritário.
Prioritário é vender carro zero a menos de R$ 60 mil para uma classe média endividada. Mas quem quer comprar carro em 2023? Em que o Brasil do século 21 será diferente do Brasil do século 20? Qual a visão que temos de possibilidades? Como pode ser tão pequena a imaginação de nossos políticos? Nem com criança que sabe fazer conta, parece, podemos sonhar. •
Para o governo, prioritário é vender carro zero para uma classe média endividada