O Estado de S. Paulo

Lula anuncia COP no Brasil; ministros falam em reverter perdas de Marina

Presidente e auxiliares tentam reagir às desconfian­ças em relação ao real compromiss­o da gestão petista com a pauta ambiental; cúpula da ONU sobre o clima será em 2025, em Belém

- • WESLLEY GALZO, EDUARDO GAYER, SOFIA AGUIAR, MARLLA SABINO E VERA ROSA

O governo federal se mobilizou ontem para tentar reverter as desconfian­ças em relação ao real compromiss­o da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a pauta ambiental. O próprio Lula participou do anúncio da realização da COP-30 no Brasil, a Conferênci­as das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. A cúpula sobre sustentabi­lidade e mudanças climáticas vai ocorrer em 2025, na cidade de Belém (PA), como pleiteava o Palácio do Planalto. A candidatur­a brasileira foi aprovada no dia 18 pela ONU.

Antes da divulgação do vídeo em que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira – junto com Lula e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) –, comunicou a realização da conferênci­a no País, o presidente já havia se reunido com as ministras Marina Silva, do Meio Ambiente, e Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas. Ele disse que o governo vai trabalhar para reverter o esvaziamen­to das pastas promovido pela Câmara ao alterar a medida provisória de reestrutur­ação dos ministério­s.

O encontro entre Lula e as ministras ocorreu no Palácio do Planalto. Também participar­am da reunião o ministro das Relações Institucio­nais, Alexandre Padilha, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicaçã­o Social (Secom).

“Feita a avaliação, a gente precisa reafirmar a prerrogati­va de quem ganhou a eleição e de quem ganhou a implementa­ção de um projeto político. A prerrogati­va é do governo de poder se organizar da melhor forma possível”, disse Costa. “Portanto, o governo continuará trabalhand­o nos outros espaços legislativ­os que a MP tramitará para que os conceitos originais que foram mexidos e, em nossa opinião estão desalinhad­os com as políticas que precisam ser implementa­das, que nós possamos retomar o conceito original”, completou.

As mudanças realizadas pela comissão mista de análise da MP ainda precisa passar pelos plenários de Câmara e Senado. É nessa fase que a articulaçã­o de Lula pretende atuar para reverter a derrota imposta ao setor ambiental do governo. A pasta de Marina perdeu a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) para o Ministério da Integração e a gestão de resíduos sólidos para Cidades. Também o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que, pelo texto aprovado, passará para o Ministério da Gestão.

O CAR é o registro público eletrônico obrigatóri­o para todos os imóveis rurais e funciona como um dos principais instrument­os do governo contra a grilagem de terras e para o controle do desmatamen­to no País. Costa defendeu a manutenção do cadastro no Meio Ambiente, mas disse que a ferramenta é apenas um banco de dados e não seria alterada caso fosse para outro ministério. Os críticos do remanejame­nto, contudo, apontam que a pasta da Gestão não tem especialid­ade técnica para administra­r essa ferramenta.

Já Sônia Guajajara não terá mais sob seu comando a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), devolvida ao Ministério

da Justiça. A desidrataç­ão das pastas de Marina e de Sonia gerou reação em grupos organizado­s da sociedade civil e dentro do próprio governo. “A reunião de hoje (ontem) com o presidente Lula e colegas ministros foi fundamenta­l para reafirmar nosso compromiss­o de amparo aos povos indígenas. Garantirem­os uma pauta ambiental sólida. Seguiremos

“A reunião com o presidente Lula foi fundamenta­l para reafirmar nosso compromiss­o. Garantirem­os uma pauta ambiental sólida”

Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas

fazendo todos os diálogos possíveis para a manutenção dos direitos indígenas”, escreveu Sônia Guajajara no Twitter. A postagem foi compartilh­ada por Lula.

‘PROGRAMA’. Em entrevista à CNN Brasil, Marina negou que deixará o governo, mas admitiu que a situação no Legislativ­o é “delicada”. “Infelizmen­te, temos uma situação delicada no Congresso, em que há uma maioria de parlamenta­res que gostariam de reeditar a estrutura e políticas do governo anterior, e o governo está lutando muito fortemente para manter o seu programa, aquilo que foi a decisão soberana da sociedade”, afirmou.

Além de ter a pasta esvaziada por ação do Centrão e da bancada ruralista, a ministra do Meio Ambiente entrou em confronto com o titular de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em torno de pedido da Petrobras para exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas.

Lula também chamou ao Planalto os líderes do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues; no Senado, Jacques Wagner; e na Câmara, José Guimarães. Eles serão os responsáve­is por negociar eventuais modificaçõ­es no relatório apresentad­o pelo deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), aprovado por 15 votos a 3 na comissão mista que analisa a reestrutur­ação do governo.

IMAGEM. Lula não deu declaraçõe­s após o encontro com as ministras. Ele chamou a reunião de ontem com o objetivo de desfazer a imagem de que atuou para desidratar as pastas comandas pelas duas mulheres. Conforme apurou o Estadão, o presidente ficou contrariad­o com o tom usado por Marina, na quarta-feira, quando ela disse, em audiência na Câmara, que o desmonte de seu ministério poderia até inviabiliz­ar o acordo União Europeia-Mercosul. A ministra afirmou, ainda, que a credibilid­ade de Lula não era suficiente para garantir a boa imagem do Brasil no exterior. Lula também não gostou de ver Sônia Guajajara admitindo “frustração” e “um pouquinho de falta de empenho” da parte do petista para reverter o quadro de descalabro nas negociaçõe­s com o Centrão.

A confirmaçã­o, ontem, da realização da COP-30 no Brasil serviu como um contrapont­o ao noticiário negativo da semana. No vídeo, Lula diz estar “convencido” de que a conferênci­a será um “grande evento” para “mostrar a cara do Brasil” ao mundo. “Vamos fazer a melhor COP que já aconteceu”, declarou o presidente. “Se preparem: vai ter gente do mundo inteiro, vão ter muitos governante­s, gente do mundo inteiro que vai ficar maravilhad­a com a cidade de Belém”, acrescento­u o petista.

“Aumenta a nossa responsabi­lidade de mostrar que o Brasil está preparado. Acima de tudo, a responsabi­lidade da agenda ambiental conciliand­o os amazônidas da nossa região e o respeito ao meio ambiente”, disse Helder Barbalho. Marina não participou do vídeo de anúncio da COP-30. O governador do Pará já se posicionou a favor do projeto de exploração de petróleo na foz do Amazonas.

A aprovação das Nações Unidas ocorreu após grupo dos países da América Latina e Caribe endossar a candidatur­a brasileira.

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RICARDO STUCKERT/PRESIDENCI­A DA REPRUBLICA Lula com o chanceler Mauro Vieira e o governador Helder Barbalho em vídeo de anúncio da COP-30
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