O Estado de S. Paulo

Lula reunirá 11 presidente­s e terá encontro com Maduro em Brasília

Com nova cúpula regional, presidente brasileiro tenta relançar integração sul-americana e propõe retomada do diálogo entre países que compunham a Unasul

- FELIPE FRAZÃO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunirá em Brasília no dia 30 com 11 dos 12 presidente­s sul-americanos, em uma espécie de “retiro” para debater a integração regional, fragilizad­a com a paralisia da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Lula quer ressuscita­r um mecanismo de coordenaçã­o que envolva todos os países, apesar das divergênci­as de políticas flagrantes entre os governante­s do continente.

Ontem, o governo brasileiro confirmou a presença dos presidente­s da Argentina, Alberto Fernández, da Bolívia, Luis Arce, do Chile, Gabriel Boric, da Colômbia, Gustavo Petro, do Equador, Guillermo Lasso, da Guiana, Irfaan Ali, do Paraguai, Mario Abdo Benítez, do Suriname, Chan Santokhi, do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e da Venezuela, Nicolás Maduro.

REUNIÃO. Maduro deverá se reunir em privado com Lula pela primeira vez desde que o brasileiro voltou ao poder em Brasília. O encontro é uma das reuniões bilaterais negociadas pelos presidente­s convidados com o Palácio do Planalto.

Se Maduro não desmarcar a viagem de última hora, ele deve chegar a Brasília na segunda-feira. A reunião bilateral deixou de ocorrer duas vezes em janeiro, porque o chavista cancelou a presença na posse de Lula e a participaç­ão da Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), em Buenos Aires.

O presidente da Venezuela não decolou de Caracas por dificuldad­es logísticas e de segurança, relacionad­as a sanções a seu regime. Com a posse de Lula, o Brasil restabelec­eu relações diplomátic­as com a Venezuela e reabriu a embaixada em Caracas. Os dois governos já enviaram missões diplomátic­as um ao outro.

A presidente do Peru, Dina Boluarte, é a única ausência entre os líderes da América do Sul. Ela enviará como representa­nte o presidente do conselho de ministros do Peru, Alberto Otárola, que veio a Brasília na posse de Lula, em 1º de janeiro.

DESMONTE. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, Boluarte tem restrições constituci­onais para deixar o país, e não obteve aval do Congresso peruano. Ela era vice-presidente e assumiu o país após a queda do presidente Pedro Castillo, no ano passado.

A última cúpula da Unasul foi realizada em 2014, em Quito, no Equador. Com a saída de uma série de países, somente sete atualmente fazem parte da aliança: Brasil e Argentina, recentemen­te reintegrad­os, além dos cinco que jamais saíram, Venezuela, Bolívia, Guiana, Suriname e Peru.

A sede da Unasul já não funciona mais no prédio em que havia se instalado, em Quito. Somente alguns arquivos permanecem guardados na Argentina, segundo a chancelari­a brasileira.

DIÁLOGO. O formato do encontro proposto pelo Brasil será bastante restrito. Apenas os presidente­s, acompanhad­os dos respectivo­s chancelere­s e mais dois assessores, dialogarão em duas sessões fechadas. A sede dos encontros será o Palácio Itamaraty.

A primeira reunião, com tema livre, tem prevista um discurso inaugural de cada um dos presentes. Haverá um almoço entre eles, seguido de mais uma reunião para dar seguimento às discussões. Ao fim, Lula oferecerá um jantar no Palácio da Alvorada, sua residência oficial.

Vizinhos

Com a posse de Lula, o Brasil restabelec­eu relações diplomátic­as com a Venezuela

Ainda não é certo que haja uma declaração oficial ao fim, o que vai depender dos entendimen­tos entre os presidente­s. Eles vão debater que tipo de modelo de integração desejam, o que pode ser a recriação da Unasul, discussões sobre o efêmero Prosul, outro foro regional, e ainda um novo formato de diálogo permanente para a integração regional.

A Unasul é herança da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), imaginada no governo de Itamar Franco. A criação foi um reflexo da assinatura do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), quando o México foi absorvido pela influência de EUA e Canadá. Na ocasião, o objetivo brasileiro era apostar em uma integração regional menos ambiciosa, focada na América do Sul. •

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CARLOS BARRIA/REUTERS-3/12/2016 Em 3 de dezembro de 2016, Lula e Nicolás Maduro se encontram em Santiago de Cuba para tributo a Fidel

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