O Estado de S. Paulo

Orcas estão afundando barcos no sul da Europa e ninguém sabe a razão

Segundo pesquisado­res, elas já levaram a naufrágio três barcos desde o verão passado e interrompe­ram as viagens de dezenas

- ISABELLA KWAI

Alta desde 2020

Houve registro de orcas se aproximand­o ou reagindo a embarcaçõe­s cerca de 500 vezes até agora

Horas depois de uma viagem de Marrocos para Portugal, a tripulação de um veleiro de 46 pés notou que algo estava errado com o leme. Então, alguém gritou: “Orcas! Orcas!” As orcas acompanhar­am o ritmo do barco, batendo em sua lateral e mastigando o leme, de acordo com o capitão, um fotógrafo a bordo e um vídeo do encontro. Por cerca de uma hora, a tripulação sinalizou sua situação para a Guarda Costeira espanhola e tentou ficar calma.

“Não havia nada que pudéssemos fazer”, disse Stephen Bidwell, o fotógrafo, que estava há dois dias em um curso de vela de uma semana com seu parceiro quando o choque começou. “Você fica maravilhad­o e nervoso ao mesmo tempo.” O capitão Gregory Blackburn disse que lutou pelo controle do barco enquanto as orcas batiam nele, interferin­do no leme. “É um lembrete de onde estamos na cadeia alimentar e no mundo natural.”

Por fim, o barco conseguiu voltar para Tânger, no Marrocos. Mas cientistas marinhos prestaram atenção no episódio, ocorrido em 2 de maio, e disseram que ele seguiu um padrão de comportame­nto intrigante de um pequeno grupo de orcas na costa oeste da Península Ibérica. Segundo pesquisado­res, já causaram o naufrágio de três barcos desde o verão passado e interrompe­ram as viagens de dezenas de outros.

SEM EXPLICAÇÃO.

Orcas selvagens, embora sejam predadoras que caçam tubarões e baleias, geralmente não são considerad­as perigosas para os humanos. Os animais, os maiores da família dos golfinhos, são conhecidos por tocar, bater e seguir barcos, mas colidir com eles é incomum.

“Sabemos que é um comportame­nto complexo que não tem nada a ver com agressão”, disse Alfredo López Fernandez, biólogo da Universida­de de Aveiro, em Portugal, que trabalhou em um estudo a respeito. As orcas não mostram nenhum sinal de querer machucar os humanos, disse ele.

Na maioria dos avistament­os, elas não mudam seu comportame­nto ou fazem contato físico, de acordo com o Atlantic Orca Working Group, que começou a rastrear interações diretas – bem como avistament­os – em 2020. Desde o aumento inicial naquele ano, houve registros de orcas se aproximand­o ou reagindo a embarcaçõe­s cerca de 500 vezes, causando danos físicos em cerca de 20% das vezes, nos mares de alto tráfego perto de Marrocos, Portugal e Espanha, disse o grupo.

AMEAÇADAS.

As orcas da costa ibérica são considerad­as uma população ameaçada: o grupo chega às águas próximas do Estreito de Gibraltar toda primavera, vindo de águas mais profundas e mais ao norte da costa para caçar atum. Mas, embora sejam uma visão comum, os cientistas não sabem como impedir o comportame­nto recente do pequeno grupo, que deixou os marinheiro­s preocupado­s com a segurança e os danos aos navios e chamou a atenção das autoridade­s espanholas e portuguesa­s. •

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