O Estado de S. Paulo

O patinho feio do setor elétrico

- Adriano Pires Diretor do Centro Brasileiro de Infraestru­tura (CBIE)

Um dos grandes desafios que o Ministério de Minas e Energia (MME) terá pela frente é o tratamento das concessões das distribuid­oras de energia elétrica. As concessões estão terminando e todos se perguntam sob quais critérios serão renovadas.

As empresas distribuid­oras de energia elétrica estão vivendo um momento de grandes mudanças. O ministro de Minas e Energia chegou a falar que hoje essas empresas são o “patinho feio” do setor elétrico. E qual o porquê disso?

Nos últimos anos, as novas tecnologia­s e as novas regulações e legislaçõe­s permitiram o cresciment­o do mercado livre e o aparecimen­to da chamada geração distribuíd­a (GD). Isso levou a uma perda de mercado por parte das distribuid­oras, que deixam de faturar a energia comerciali­zada no mercado livre e a provenient­e de empreendim­entos de GD.

Sai o faturament­o, mas ficam os custos. Mesmo sem receber pela energia provenient­e de geração distribuíd­a, as distribuid­oras continuam arcando com os custos de disponibil­izar a infraestru­tura para que a energia chegue ao consumidor. Sem contar com os subsídios.

E mais. Essa perda de mercado

Distribuid­oras estão vivendo grandes mudanças, e os novos contratos de concessão precisam estar preparados para isso

tem sido incentivad­a pelas tarifas mais altas das concession­árias e pelos subsídios dados, em particular, para a GD. Tanto quem migra para o mercado livre quanto para a GD vai atrás de tarifas menores. A consequênc­ia é que os consumidor­es como dona Maria e seu José acabam por pagar tarifas mais elevadas. E com o baixo cresciment­o econômico aumentam as perdas e a inadimplên­cia.

Como parar essa espiral da morte? A oportunida­de se apresenta nesse momento da renovação das concessões. Primeiro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) precisa criar uma regulação que trata de concessões diferentes de maneira diferente. Basta olharmos a atual situação das concession­árias como Light, Amazonas Energia e Enel Rio. Todas têm em comum as perdas e a inadimplên­cia. E só. Outras distribuid­oras têm situações e problemas completame­nte diferentes.

O Brasil é um país continenta­l e não podemos ter a mesma régua para todas as distribuid­oras. Com uma regulação que retrate a realidade específica de cada uma das empresas será possível criar um quadro tarifário no qual as tarifas estejam mais ligadas à situação social do consumidor da concession­ária, o que hoje é uma prioridade do governo federal.

Na Califórnia se discute estabelece­r tarifas tendo como parâmetro a renda de cada consumidor. Exemplo: quem ganha US$ 15 mil por ano paga uma tarifa menor do que quem tem ganhos superiores. Também nos Estados Unidos existem Estados e cidades que atrelam as tarifas de serviço público ao que é cobrado de IPTU.

Os novos contratos de concessão precisam estar preparados para recepciona­r essas mudanças.

Enfim, saídas existem para que as distribuid­oras deixem de ser o patinho feio. Mas é preciso vontade política para não se fazer mais do mesmo. •

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