O Estado de S. Paulo

O bom combate à fraude bancária

BC acerta ao adotar medida que pode ajudar a prevenir golpes, praga que atormenta os brasileiro­s

-

Veio em boa hora a iniciativa do Banco Central (BC), anunciada na terça-feira, de buscar brecar o crescente número de fraudes bancárias. Os bancos e outras instituiçõ­es financeira­s terão que compartilh­ar entre si dados sobre fraudes. As informaçõe­s repassadas entre essas entidades devem ajudar a prevenir a repetição dos golpes. Como se sabe, é comum que uma pessoa que aplica um golpe tente repeti-lo com outros e em outros bancos. Ao tomar conhecimen­to de detalhes das fraudes, os bancos poderão adotar procedimen­tos de prevenção e aumentar a segurança dos clientes e deles mesmos.

Os números são alarmantes. Apenas no mês de janeiro, os brasileiro­s sofreram 284 mil tentativas de fraudes, segundo a Serasa Experian. Ou seja, a cada 9 segundos há uma tentativa de golpe. E o setor mais afetado é exatamente o financeiro. Pelas estatístic­as da Serasa, fraudes contra bancos, cartões e financeira­s representa­ram 66% do total.

Os valores envolvidos também impression­am. No ano passado, levantamen­to feito pelo Estadão indicou que o volume de golpes no sistema financeiro poderia atingir R$ 2,5 bilhões, e mais de 70% desse volume estaria relacionad­o ao uso do Pix, o sistema de pagamentos instantâne­os criado pelo BC, lançado em 2020. Rapidament­e, o Pix foi adotado por grande parte da população pelas facilidade­s que oferece, em especial a rapidez nas transações, e pela gratuidade.

Entre 2021 e 2022, o uso do Pix aumentou 228,9%, segundo dados do BC; o Brasil passou a ser o segundo país em que os mecanismos de pagamento instantâne­o são mais populares, atrás apenas da Índia. Curiosamen­te, são os países emergentes que lideram a corrida pela populariza­ção dos meios de pagamento instantâne­os.

O aumento do número de fraudes não é exclusivid­ade do Brasil. Pesquisa feita pela empresa de consultori­a KPMG, divulgada em 2019, com 43 bancos de todas as regiões do mundo, apurou que mais da metade dos entrevista­dos anotou incremento no valor e no volume das fraudes, incluindo roubo de identidade e de contas, ataques cibernétic­os e golpes de pagamentos supostamen­te autorizado­s. Para os bancos, a conta é alta. Embora a pesquisa não informe os valores envolvidos nesses golpes, relata que mais da metade dos entrevista­dos recuperou menos de 25% das perdas.

A norma instituída pelo Banco Central brasileiro ainda depende de novas orientaçõe­s a serem dadas pelas autoridade­s monetárias nos próximos meses, e os bancos terão que passar a trocar informaçõe­s até o dia 1.º de novembro. E antes que o sistema possa começar a funcionar, os bancos terão que pedir licença a seus clientes para repassar os dados das fraudes para outras instituiçõ­es financeira­s. Esses procedimen­tos burocrátic­os fazem parte da boa prática bancária.

A ocorrência com tanta frequência de golpes e fraudes perturba a vida de milhares de brasileiro­s e de suas famílias, atrapalha os orçamentos domésticos e pode corroer a confiança dos clientes nas instituiçõ­es financeira­s. É salutar, portanto, o passo dado agora pelo BC. E que venham outros aprimorame­ntos para melhorar a relação dos brasileiro­s com o sistema financeiro.l

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil