O Estado de S. Paulo

Oi depende de venda de ativos e vitórias contra a Anatel

- CIRCE BONATELLI

A E&Y, que assina o laudo divulgado com o plano da empresa, alerta para o fato de o processo incluir etapas que vão além do controle da companhia

O plano de recuperaçã­o judicial apresentad­o pela Oi aos credores passa por etapas que vão além do controle da companhia e que podem ter resultados diferentes dos esperados. Quem faz o alerta é a assessoria Ernst & Young (E&Y), responsáve­l pelo laudo econômico publicado com o plano de recuperaçã­o.

A estratégia da Oi para garantir sustentabi­lidade financeira no médio e longo prazos passa pela venda de ativos e vitórias nas disputas regulatóri­as travadas com a Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel).

Tanto a venda de ativos quanto os ganhos nos processos regulatóri­os foram embutidos no fluxo de caixa projetado pela operadora em seu plano de recuperaçã­o. A expectativ­a de vitória com essas iniciativa­s já havia sido anunciada pela Oi em recentes reuniões com investidor­es e analistas, mas o laudo da Ernst & Young revelou mais informaçõe­s.

Na parte de alienação de ativos, a empresa projetou a venda de participaç­ão de 14,6% na V.tal, obtendo R$ 14,4 bilhões em duas etapas: a primeira fatia de 7,3% em 2025, por R$ 6,7 bilhões; e a outra fatia de 7,3% em 2026, por R$ 7,7 bilhões.

A Oi possui 34% da V.tal, empresa de redes de fibra óptica cujo controle foi vendido para o BTG Pactual no ano passado. O valor a ser obtido com a venda da sua participaç­ão é estimado em R$ 91,7 bilhões, montante que supera o valor de mercado da Telefônica Brasil, dona da Vivo (R$ 69 bilhões), e da TIM (R$ 34 bilhões).

O plano da Oi ainda prevê a criação de uma nova empresa – batizada temporaria­mente de ClientCo – que abrigará os ativos da Oi Fibra. Entrarão aí a base de 3,86 milhões de clientes de banda larga, os equipament­os na casa dos clientes, os canais de comunicaçã­o, vendas, atendiment­o e os imóveis usados para prestação do serviço. Segundo o laudo da assessoria, a Oi projetou uma venda, em 2025, de 40% de participaç­ão na ClientCo, estimada em R$ 4,8 bilhões. O plano não estabelece­u o porcentual a ser alienado.

“Estas premissas carregam algumas subjetivid­ades relacionad­as às transações, não sendo possível garantir a exatidão de determinad­os prazos, valores e estruturas”, ponderou a E&Y, no documento. Em outro trecho, a assessoria acrescento­u que os valores previstos pela companhia “não foram objeto de negociação com potenciais investidor­es, podendo, portanto, sofrer variações que impactarão o fluxo de caixa projetado no laudo”. Uma eventual operação de venda das ações detidas pela Oi na V.tal irá exigir a anuência prévia da Anatel, conforme já avisou o presidente da agência reguladora.

Entre os ativos incluídos na lista para alienação, a grande novidade foi a Oi Soluções, braço de conectivid­ade e TI para empresas. O segmento é um dos negócios estratégic­os do grupo após a venda das redes móveis, além de ter grande contribuiç­ão para a geração de caixa. Conforme o plano de recuperaçã­o, existe a possibilid­ade de se segregar este braço de negócios em uma unidade produtiva independen­te (UPI) a fim de ser colocada à venda.

No entanto, uma eventual venda da Oi Soluções ficou de fora do fluxo de caixa projetado pela Oi. Uma pessoa a par do processo explicou que a inclusão da Oi Soluções na lista de ativos à venda teve como objetivo dar mais opções à companhia na busca de injeções de capital.

BRIGAS REGULATÓRI­AS. O plano da Oi conta ainda com uma vitória no processo arbitral contra a Anatel em que pede uma compensaçã­o pelos desequilíb­rios econômicos e financeiro­s da concessão de telefonia. O serviço está caindo em desuso e as receitas vêm despencand­o, mas as despesas para manutenção do serviço seguem de pé, conforme contrato da concessão.

De acordo com o descrito no laudo, a Oi estima que tem R$ 16 bilhões a receber de contrapart­ida, mas esse seria um valor “provisório e não atualizado”. De acordo com a Oi, este valor, ainda que de maneira estimada, poderia chegar a cerca de R$ 50 bilhões.

ORELHÕES. Paralelame­nte, a Oi avalia a viabilidad­e de migrar do regime de concessão para o de autorizaçã­o, o que a libertaria de cumprir certas obrigações previstas no contrato, como manutenção de orelhões. Mas, para isso, a Anatel pede o pagamento de R$ 12,2 bilhões, conforme último cálculo divulgado pela agência regulatóri­a em abril do ano passado. Esse cálculo ainda está sujeito a aprovação do Tribunal de Contas da União (TCU).

A previsão da Oi é de uma resolução da arbitragem em 2024, com os créditos oriundos dessa esperada decisão favorável contribuin­do com o fluxo de caixa a partir do ano que vem, inclusive, cobrindo potenciais custos com o fim da concessão.

A E&Y também alertou sobre os riscos de concretiza­ção dessas premissas. “Os procedimen­tos com órgãos reguladore­s estão em andamento e não são necessaria­mente conectados e subordinad­os, fazendo com que o resultado final possa ser diverso do projetado pela companhia para este laudo, com possíveis efeitos no caixa futuro da Oi”, ponderou a assessoria. “Portanto, não há definição ou evidência que suporte essa premissa até a data de conclusão deste laudo.”

A Oi prevê Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciaçã­o e amortizaçã­o) ainda negativo em 2023, de R$ 1,295 bilhão. Resultado positivo deve ocorrer só em R$ 2026, com previsão de R$ 2,234 bilhões. •

 ?? MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO-10/9/2016 ?? Empresa quer compensaçã­o por gastos com manutenção de telefonia
MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO-10/9/2016 Empresa quer compensaçã­o por gastos com manutenção de telefonia

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil