Vitória de Erdogan ameaça mudar relação da Turquia com Otan
Presidente turco, reeleito no domingo, trava adesão da Suécia à aliança e arrisca isolar ainda mais seu país
A reeleição do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deve mudar a relação da Turquia com a Otan e complicar a adesão da Suécia à aliança militar. Sua oposição à entrada dos suecos lhe rendeu votos na campanha, assim como sua posição de intermediário entre Rússia e Ucrânia.
A Turquia é um membro vital da Otan, um país que controla a entrada e a saída do Mar Negro, crítico na guerra entre Rússia e Ucrânia. Erdogan, cada vez mais imprevisível, tenta navegar entre Moscou e o Ocidente. Ele depende da energia russa, do comércio e das injeções de moeda forte e se recusa a embarcar nas sanções contra Moscou.
Ao mesmo tempo, a Turquia fornece drones à Ucrânia e tem sido um importante intermediário para convencer a Rússia a permitir a exportação de grãos ucranianos, além de ter sido anfitrião das negociações de paz fracassadas entre Moscou e Kiev.
Outra dor de cabeça para o Ocidente é a reaproximação com a Síria do ditador Bashar Assad. Erdogan quer a ajuda síria para conter os curdos e recuperar alguns dos 4 milhões de refugiados que a Turquia recebeu em nome da solidariedade islâmica.
DEBATE. “A reeleição de Erdogan abre um debate sobre como nos relacionamos com aliados e parceiros estratégicos com os quais temos afinidade em declínio, e a Turquia não será a única”, disse Ian Lesser, um especialista que dirige o escritório de Bruxelas do German Marshall Fund.
O afastamento dos valores democráticos e do estado de direito significa pouco progresso nas negociações congeladas sobre a adesão da Turquia à União Europeia. Segundo Nathalie Tocci, diretora do Instituto de Assuntos Internacionais da Itália, Bruxelas respirou aliviada, neste sentido, já que uma vitória da oposição turca significaria levar as negociações de adesão mais a sério. “A relação caminha para ser puramente econômica”, disse Tocci.
As necessidades domésticas, provavelmente, influenciarão os movimentos de Erdogan. A inflação continua alta e o aumento nos gastos do governo antes da eleição ampliou a pressão. Emre Peker, do Eurasia Group, acredita que Erdogan vá endurecer internamente, para impedir vitórias da oposição nas grandes cidades nas eleições municipais do ano que vem.
Uma prévia do tipo de governo que virá será dada pela posição turca diante da adesão sueca à Otan. Para enfatizar o apoio dos EUA à entrada da
Suécia e da Finlândia, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, visitará os dois países esta semana como parte de uma cúpula informal na Noruega de chanceleres de países da aliança atlântica.
RAPIDEZ. Mark Esper, ex-secretário de defesa dos EUA, disse durante uma visita à Finlândia que a ratificação da Turquia é a chave para melhores relações com a Casa Branca. Se Erdogan não anunciar sua aprovação em breve, e a filiação demorar para além da cúpula da Otan, aumenta o risco de o processo se arrastar. “Aderir à Otan é obviamente crítico para a segurança da
Suécia, é importante para a segurança nórdica, para a segurança da Otan e dos EUA”, disse Esper.
Após décadas de desalinhamento militar, tanto Suécia quanto Finlândia oficializaram a intenção de entrar na Otan há quase um ano, com grande alarde dos EUA. Desde o início, Erdogan foi uma trava no processo.
TERRORISMO. O presidente turco afirmou que os dois países nórdicos eram brandos com o terrorismo, especialmente em relação aos exilados e refugiados curdos filiados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado um grupo terrorista pelos EUA e pela UE. “Esses países quase se tornaram retiros para organizações terroristas”, disse Erdogan. “Não é possível sermos a favor.”
Mesmo com os ventos soprando contra, a Finlândia obteve a aprovação de Erdogan em março, fazendo mudanças políticas relativamente pequenas, incluindo o endurecimento de suas leis antiterrorismo e a suspensão do embargo de armas à Turquia.
Quanto à Suécia, o presidente turco bate o pé, embora possa reivindicar o crédito por uma nova e dura lei antiterrorismo que entrará em vigor no país em 1.º de junho.
Para Evelyn Farkas, ex-funcionária do Pentágono e diretora do Instituto McCain, se a Suécia não for admitida o mais rápido possível, a resposta contra a Rússia perderá força. “Se Erdogan vetar a entrada dos suecos, Putin irá tomar isso como uma espécie de vitória”, disse. •
NYT
Diplomacia O veto de Erdogan à entrada da Suécia na Otan seria considerado uma vitória de Putin