O Estado de S. Paulo

Petrobras terá para realocar US$ 3 bi, se for barrada na foz do Amazonas

Empresa pode se internacio­nalizar e buscar reservas na Margem Equatorial, via Suriname ou Guiana, e na Namíbia

- DENISE LUNA

Se for mantida a decisão do Ibama de negar a licença ambiental para a Petrobras explorar a bacia da foz do Amazonas, na Margem Equatorial brasileira, a empresa terá de decidir onde aplicar os US$ 3 bilhões destinados para a exploração da área. Na revisão do Plano Estratégic­o 2023-2027, esses recursos poderão tanto impulsiona­r a transição energética quanto ajudar na volta da internacio­nalização da estatal, em busca de novas reservas.

A revisão do plano precisa ser entregue pela diretoria ao conselho de administra­ção até julho, mas a previsão é de que a versão 2024-2028 seja entregue apenas em novembro. “Não podendo fazer exploração na área, metade do potencial exploratór­io da Petrobras desaparece. A empresa vai ter de rever o plano estratégic­o e decidir se vai usar esse investimen­to no Brasil ou não”, diz Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio.

Ele explica que não faz sentido destinar esses recursos para o pré-sal, segundo maior destino dos investimen­tos em exploração da companhia, mas que já não possui áreas interessan­tes para explorar. O caminho seria buscar reservas fora do Brasil.

As melhores alternativ­as, pela escala do volume de possíveis reservas, seriam a Margem Equatorial, via Guiana ou Suriname, e a Namíbia, na África. “Do ponto de vista exploratór­io, no présal o grande esforço já foi feito. Em termos de exploração não tem muito mais do que a Petrobras já está fazendo”, constata.

A Margem Equatorial contém cinco bacias, do Rio Grande do Norte ao Amapá, e é considerad­a a última grande fronteira no Brasil para a descoberta de reservas de petróleo. Sem ela, a estatal teria de buscar a internacio­nalização para aumentar seus números, diz Almeida.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast na semana passada, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, admitiu que é possível explorar a Margem Equatorial via Guiana ou Suriname se não for permitida a exploração na parte brasileira da área. Ele disse também que ainda existem algumas oportunida­des em outras bacias da Margem, como a Potiguar, e talvez na Bahia, mas nada se compara à bacia da foz do Amazonas.

Amanhã, uma audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvi­mento Sustentáve­l, da Câmara dos Deputados, vai debater a intenção da Petrobras de explorar petróleo e gás na bacia foz do Amazonas, uma das cinco bacias sedimentar­es da Margem Equatorial.

NOVO PRÉ-SAL. Na Guiana e no Suriname já foram descoberto­s reservatór­ios com mais de 10 bilhões de barris de petróleo, o que poderia gerar uma produção média de 1 milhão de barris por dia, mesmo nível dos melhores poços do pré-sal, como Tupi e Búzios, na bacia de Santos.

Segundo o Centro Brasileiro de Infraestru­tura (Cbie), no pico de produção, em 2029, a parte brasileira da margem poderia atingir 1,1 milhão de barris por dia, elevando o total diário produzido no País para quase 7 milhões de barris.

Nos últimos quatro anos, a estatal teve seus investimen­tos reduzidos e se concentrou no pré-sal e nos planos para explorar a Margem Equatorial. A previsão era de que o primeiro poço fosse perfurado em novembro passado, e, por isso, uma sonda foi instalada no local.

Na falta da licença, a estatal iniciou esta semana as atividades para levar o equipament­o para a bacia de Campos e, depois, para a Potiguar, enquanto aguarda a solução do impasse. O custo estimado da manutenção da sonda inoperante é de cerca de US$ 1 milhão, segundo a consultori­a Wood Mackenzie.

Para o coordenado­r do Laboratóri­o Interdisci­plinar de Meio Ambiente do Programa de Planejamen­to Energético da COPPE/UFRJ, Emilio Lebre La Rovere, os estudos ambientais não foram feitos corretamen­te no governo anterior e dificilmen­te no curto prazo a Petrobras deve obter o licenciame­nto. “A curto prazo, não me parece provável (ter exploração). A área é muito sensível ambientalm­ente. O Ibama pediu oito vezes informaçõe­s complement­ares e, pelo visto, a Petrobras não conseguiu fornecer, assim como a Total (que devolveu o bloco)”, diz. •

“Não podendo fazer exploração na área, metade do potencial exploratór­io da Petrobras desaparece. A empresa vai ter de rever o plano estratégic­o” Edmar Almeida

Professor da PUC-Rio

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