O Estado de S. Paulo

Casacor valoriza autocuidad­o e introspecç­ão na edição de 2023

Mostra que abre hoje no Conjunto Nacional conta com 74 ambientes criados por 99 arquitetos e paisagista­s e focados na sustentabi­lidade

- ANA LOURENÇO

Se em uma exposição imersiva ou um museu o visitante passeia entre projeções e quadros, na Casacor a arte toma a forma de decoração. Quadros, sofás, tapetes e diversos estilos decorativo­s são elaborados por 99 arquitetos, paisagista­s e designers de interiores que participam da 36.ª edição do evento.

Neste ano, a mostra leva o tema Corpo & Morada, exaltando o autocuidad­o e a introspecç­ão da casa, uma consequênc­ia da pandemia, que soou o alerta para o fato de que o mundo continua clamando por cura, afeto, cuidado e atenção.

“Quando falamos de corpo, não estamos apenas nos referindo ao corpo físico, mas a algo no sentido de sermos todos um, de sermos todos humanos e, a partir disso, temos de olhar para os problemas delicados que dividimos: a cidade, a vida comunitári­a, a casa, o corpo, a alma e o espírito”, esclarece Lívia Pedreira, que assina a curadoria da Casacor ao lado de Pedro Ariel Santana e Cristina Ferraz.

Esta edição, que ocupa 11 mil m² da parte superior do Conjunto Nacional, na Paulista, conta com 74 ambientes, divididos entre banheiros, quartos, lofts, lounges, salas e escritório­s. Em cada um deles, um convite para o visitante viver mais no estilo Slow Living, uma proposta de vida mais leve.

O intuito, segundo os curadores, é criar a fusão entre o corpo do sujeito e a própria morada. “Eu me inspirei muito no abraço e como ele fez falta durante a reclusão social. Ele me remete a essas curvas, à fluidez das formas orgânicas do corpo e da casa. É algo que vai te abraçando e envolvendo”, conta a arquiteta Cilene Lupi. Assim, vemos muitas curvas, formas orgânicas e integração de ambientes, agora mais aconchegan­tes com tapetes e almofadas.

Os tons terrosos também ganham espaço na decoração da casa pela referência à terra e à natureza, assim como os objetos de afeto pessoal, seja uma antiga máquina de escrever, quinquilha­rias que remetem a uma época boa ou simplesmen­te algo vintage. “A tendência é deixar cada vez mais perto essas memórias de família, do lugar de onde a gente veio. Um cobogó, um relógio, um piano, tudo isso tem um significad­o afetivo grande”, explica Lívia.

DIVERSIDAD­E. Por isso, é indicado fazer o passeio com tempo. Não só pela quantidade de ambientes, mas também pela diversidad­e que há em cada um deles.

Muito além da estética da casa, o que transforma um espaço em moradia são os chamados “alimentos da alma”. Arte, cultura, vivência. De acordo com o manifesto do tema escolhido, a casa passa a ser vista como lugar de subjetivid­ade, permanênci­a e conhecimen­to. Para isso nada melhor do que elementos que levem à introspecç­ão.

Pela primeira vez, a Casacor tem uma galeria de arte, com curadoria de Cesar Prestes que, além das obras, traz também uma higienizaç­ão mental para o visitante depois de tantas decorações. Outro espaço para essa pausa é a Floresta de Bolso, de Ricardo Cardim. Nela, o visitante entra em um bosque, mesmo estando no Conjunto Nacional.

TOQUE. Ao chegar a cada ambiente, logo surge o desejo de tocar no tecido da cortina, dos tapetes e até de descobrir do que é feito um objeto de arte. Muitos desses materiais são conhecidos: trapos reaproveit­ados, papelão, palha. O que também leva o visitante a perceber a importânci­a da sustentabi­lidade. Um tijolo pode dar um ótimo artefato na parede ou uma antiga garrafa de azeite se transforma­r em um vaso.

Essa foi a premissa seguida pela arquiteta e ativista Ester Carro para o ambiente Motirõ. “Temos de pensar de que forma ajudar, contribuir, como reutilizar materiais”, observa ela, que usa uma espécie de lona para fazer o jardim vertical e borras de café como tinta. O seu espaço, que alude ao trabalho em conjunto na língua tupi-guarani, é o primeiro voltado para moradia social na Casacor. “Fiz a releitura de soluções que os moradores de favelas encontram, como reaproveit­amento de água, e também do uso de espaços pequenos. Ter um ambiente na Casacor é trazer um olhar educativo, com novas possibilid­ades. É mostrar como um layout bem pensado pode mudar a estrutura de uma casa”, diz.

Outro ambiente com uma nova visão de casa é o espaço Casa do Ser, assinado pelo escritório ARQTAB e do arquiteto Maycon Fogliene. Com tecnologia, automatiza­ção e seguindo a premissa do Design Universal, que sustenta a ideia de projetos que possam ser usados pelo maior número de pessoas possível, montaram uma casa segura para pessoas com deficiênci­a visual, auditiva e física.

“A ideia é promover a casa como um espaço em que a pessoa possa ser quem ela é, com suas limitações e possibilid­ades”, conta a arquiteta Audrey Carolini. “Falar sobre diversidad­e na arquitetur­a é pensar a democratiz­ação dos espaços, é ter o ser humano como figura central do processo de criação do ambiente e planejar de pessoa para pessoa”, complement­a a arquiteta Thamires Mendes. •

Especiais Merecem visita a moradia social, da arquiteta e ativista Ester Carro, e a Floresta de Bolso, de Ricardo Cardim

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RAFAEL RENZO 1. Abraço é inspiração para a arquiteta Cilene Lupi
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ANA LOURENÇO/ESTADÃO 2. Casa segura para pessoas com deficiênci­a, de Maycon Fogliene

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