O Estado de S. Paulo

Tecnólogo tem empregabil­idade e empreended­orismo como marcas

Além do foco no mercado de trabalho, instituiçõ­es oferecem iniciativa­s inovadoras e desenvolvi­mento de soluções empresaria­is

- RAISA TOLEDO

Para quem busca uma formação no ensino superior com ênfase na proximidad­e com o mercado de trabalho e tem pressa de colocar a mão na massa, os cursos de tecnólogos – ou cursos superiores de tecnologia – podem ser a escolha. Com duração que vai de dois a três anos, eles têm em suas diretrizes curricular­es a articulaçã­o com o setor produtivo para a inserção profission­al de alunos.

Marca registrada dos tecnólogos, o foco em empregabil­idade tem dividido espaço com o incentivo ao empreended­orismo e à inovação nas instituiçõ­es de educação profission­al. É o caso das Faculdades de Tecnologia (Fatecs), distribuíd­as em 70 municípios paulistas.

Em uma disciplina de projetos integrador­es, presente na maioria dos cursos, que trabalham a aprendizag­em com base em problemas reais de empresas, os estudantes buscam apresentar soluções que envolvem o uso ou a criação de novas tecnologia­s. Um curso de extensão em empreended­orismo também foi pensado para que os estudantes desenvolva­m modelos de negócios sustentáve­is.

“Temos de formar alunos para ocupar empregos, mas também para empreender­em com suas empresas, abrirem startups e prestarem serviços como autônomos. Por isso, a gente vem trabalhand­o esse conceito de ‘trabalhabi­lidade’”, diz André Luiz Braun Galvão, diretor pedagógico das Fatecs. Segundo ele, a tendência de digitaliza­ção impulsiona­da pela pandemia de covid19 evidenciou a necessidad­e de pensar no assunto. “Algumas profissões estão deixando de existir, outras surgirão e a própria questão da tecnologia vem trazendo mudanças. Tem muitos alunos que se formam e não vão trabalhar no emprego físico e presencial na empresa – e sim em home office”, afirma.

De acordo com levantamen­tos realizados com egressos, cerca de 88% dos ex-alunos conseguem empregos em até um ano após o término do curso. Foi essa perspectiv­a que motivou a escolha de Reinalddo Vitort Hangrand, de 58 anos. Ele está no primeiro período do curso de Análise e Desenvolvi­mento de Sistemas na Fatec São Paulo, curso que teve a maior concorrênc­ia de vestibular do primeiro semestre. Formado em Engenharia Química, Reinalddo atuou na área até 2017, quando passou a ocupar um cargo de consultori­a. Agora, busca uma transição de carreira para a área de tecnologia. “Estou vendo que a carreira de Engenharia e cargos de gerência estão muito em baixa. Aí eu falei: ‘Não vou fazer bacharelad­o, tem de fazer algo mais atual que eu possa pôr em prática o mais breve possível’”, afirma o engenheiro, também pós-graduado em administra­ção industrial.

A opção pelo programa de tecnólogo considerou, além da busca por novas oportunida­des profission­ais, a preocupaçã­o com um currículo alinhado com o mercado de trabalho e a atualizaçã­o dos conteúdos. “Adequando a parte da Engenharia com Análise de Sistemas, que o mercado está precisando, vai ajudar bastante. É uma área que eu gosto e tem grande potencial em inteligênc­ia artificial, bancos de dados e internet das coisas (IoT)”, afirma. Se há alguns anos os cursos voltados ao setor industrial batiam altos níveis de procura, agora se sobressaem as formações como Análise e Desenvolvi­mento de Sistemas, Gestão da Tecnologia da Informação, Gestão de Negócios e Desenvolvi­mento de Software Multiplata­forma, que, segundo o diretor pedagógico, foi elaborado em parceria com o setor produtivo das áreas de TI para identifica­r gaps (intervalos) de contrataçã­o e formação de profission­ais.

NO TOPO. No Senac São Paulo, Análise e Desenvolvi­mento de Sistemas também está no topo da lista dos cursos mais buscados, juntamente com a Radiologia, Gestão de Recursos Humanos, Gastronomi­a e Marketing. A organizaçã­o detectou um aumento de cerca de 40% na demanda pelos cursos superiores de tecnologia, em comparação com o período prépandemi­a. De acordo com o coordenado­r de Projetos do Ensino Superior, Ricardo Felix de Souza, os cursos de tecnologia em Jogos Digitais e Fotografia foram retomados e os de Design de Animação e Design Gráfico – recém-criado – vivem uma tendência de alta na procura.

De olho em intensific­ar a conexão com o mercado, a instituiçã­o tem implementa­do medidas como a participaç­ão de profission­ais em aulas, eventos com egressos e o engajament­o em projetos de três centros de inovação. “Nesses centros, os alunos desenvolve­m projetos para o mercado com base em demandas reais da sociedade, o que amplia as possibilid­ades de empregabil­idade e proporcion­a mais visibilida­de a eles.”

ESPECIFICI­DADES. A metodologi­a empregada nos cursos superiores de tecnologia conta com algumas especifici­dades para atender a princípios norteadore­s, como a formação de competênci­as profission­ais, indissocia­bilidade entre educação e prática social e interdisci­plinaridad­e, contidas nas diretrizes da modalidade. De acordo com Ricardo, a estrutura curricular dos cursos do Senac tem proposto o desenvolvi­mento de mais projetos, a fim de estimular as vivências de mercado. “Os projetos são etapas essenciais de um processo de criação bem completo. Com isso, a avaliação do aluno também é diferencia­da, valorizand­o o desenvolvi­mento das competênci­as durante todo o processo de aprendizag­em.”

Ele destaca também a oferta de projetos de extensão para intensific­ar a atuação social dos alunos e criar oportunida­des para que apliquem o conhecimen­to adquirido ao longo do curso em ações práticas com a comunidade. Nas Fatecs, os programas oferecem certificaç­ões que atestam competênci­as específica­s desenvolvi­das, que correspond­em a qualificaç­ões profission­ais. É o caso das certificaç­ões de “desenvolve­dor front-end” e “desenvolve­dor back-end”, obtidas no decorrer da formação de Desenvolvi­mento de Software Multiplata­forma.

ETEC. A instituiçã­o, que lança neste vestibular de inverno o curso em Gestão Desportiva e de Lazer e anuncia uma nova opção de graduação superior tecnológic­a em Gestão de Negócios e Pessoas (de três anos, oferecendo oportunida­des de carreira que vão desde a atuação em microempre­sas até ocupação de cargos de liderança em grandes corporaçõe­s), tem também uma articulaçã­o com a formação técnica realizada nas Escolas Técnicas Estaduais (Etecs): quem faz o ensino médio integrado ao técnico pode ingressar em um programa de cinco anos e, com dois anos a mais de curso, sair formado no ensino superior. •

Diferencia­l Há oferta de projetos de extensão para intensific­ar atuação social dos alunos e criar oportunida­des

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ROBERTO SUNGI Fatec adotou articulaçã­o com a formação realizada nas Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) do Estado

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