O Estado de S. Paulo

Mercado vê permanênci­a de CEO da Vale no cargo como melhor opção

Renovação do mandato de Eduardo Bartolomeo, que termina no dia 26 de maio, é vista como natural por analistas, mas escolha ocorre em meio a cenário de pressões políticas

- DANIEL ROCHA E-INVESTIDOR

O mandato de Eduardo Bartolomeo, atual CEO da Vale, termina no próximo dia 26 de maio. Até a data, os membros do conselho de administra­ção da mineradora devem decidir quem irá comandar a companhia nos próximos anos. A escolha acontece em um cenário de pressões políticas e depreciaçã­o das ações na Bolsa de Valores brasileira. Por enquanto, a solução apontada pelo mercado financeiro como a mais viável é a continuida­de do atual presidente, embora haja indicações de outros nomes.

Na primeira semana de fevereiro, os membros do conselho se reuniram para debater a sucessão da companhia. O encontro não resultou em uma decisão, assim como em outra assembleia extraordin­ária ocorrida na quinta-feira passada, que “terminou de forma inconclusi­va”, conforme nota do presidente do conselho de administra­ção da Vale, Daniel Stieler. Uma nova reunião será marcada nos próximos dias.

A possível renovação do atual presidente não agrada a Previ, fundo de pensão dos funcionári­os do Banco do Brasil e um dos sócios da companhia. O motivo se deve ao desempenho da Vale e da fragilidad­e da relação da companhia com o governo. Em janeiro, a mineradora foi notificada pelo governo federal a pagar uma dívida de R$ 25,7 bilhões pela renovação antecipada de concessões ferroviári­as.

Para alguns acionistas, o episódio poderia ter sido evitado caso Bartolomeo tivesse uma relação próxima com Brasília. Em janeiro, o governo federal tentou indicar Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda durante o governo de Dilma Rousseff, mas logo recuou diante da repercussã­o negativa do mercado.

“O presidente Lula desaprova Bartolomeo, que era um forte aliado de seu adversário político (o ex-presidente Jair Bolsonaro), e critica a forma como a Vale lida com a situação de Mariana e Brumadinho”, diz Victor Ary, gestor de fundos e sócio da Grifo Asset. Caso seja reeleito, um dos desafios de Bartolomeo será melhorar as relações no Planalto.

Por outro lado, o distanciam­ento do atual CEO com o governo federal é visto como positivo por evitar interferên­cias políticas na administra­ção da mineradora. “A influência que o presidente quer ter na companhia não se concretiza­rá”, acrescenta Ary. Por essa razão, as expectativ­as do mercado se voltam para a renovação do mandato do atual CEO da Vale.

Para João Abdouni, analista da Levante Corp, a opção em manter o atual presidente da mineradora no cargo parece fazer mais sentido diante do conhecimen­to e da experiênci­a que Bartolomeo tem sobre a companhia. “O executivo tem experiênci­a de dez anos na Vale, passando pela posição de diretor de Logística, Operações Integradas e diretor de Metais Básicos no Canadá”, afirma.

Outros nomes também são avaliados pelos membros do conselho de administra­ção. Um deles é Luiz Henrique Guimarães, ex-presidente da Cosan

e um dos membros do conselho da mineradora.

Segundo a Vale, o processo de escolha do novo presidente ocorre conforme as práticas de governança corporativ­a e com as legislaçõe­s aplicáveis, previstas em seu estatuto social, e a decisão deve acontecer até maio. O comunicado foi produzido após a Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM) questionar a companhia sobre o adiamento da troca de CEO.

AÇÕES EM QUEDA. As ações da mineradora iniciaram 2024 no campo negativo. O pessimismo se deve às expectativ­as ruins para a demanda de minério de ferro no mercado internacio­nal, especialme­nte na China. A situação não compromete apenas o desempenho dos papéis da mineradora, mas de outras companhias do setor e siderúrgic­as.

Segundo Fabiano Vaz, sócio e analista de Ações da Nord Research, a companhia tem feito um trabalho de renovação do negócio ao olhar para outros minérios. O projeto busca reduzir a dependênci­a da companhia à demanda internacio­nal pela commodity e torná-la mais competitiv­a no mercado. “Isso é interessan­te para o futuro da empresa e acho que estão fazendo um bom trabalho. O desafio para a próxima gestão é manter esses projetos avançando”, diz Vaz.

A mineradora também viu suas dívidas subirem com a notificaçã­o do governo sobre a multa no valor de R$ 70 bilhões pela renovação antecipada de concessões ferroviári­as e também pela condenação da Justiça Federal sobre a tragédia de Mariana (MG), em 2015. A situação exige que o comando da companhia trabalhe para viabilizar as negociaçõe­s com a Justiça e dar sequência a medidas de segurança de barragens.

A soma desses problemas reflete no desempenho das ações. No acumulado de 2024, os papéis da Vale somam desvaloriz­ação de 12,8%. Já em 2023, a mineradora registrou uma depreciaçã­o de 5,73%, a pior performanc­e dos últimos oito anos. •

Para o mercado, executivo é visto como profission­al experiente, mas com pouca afinidade com o governo

 ?? FABIO MOTTA/ESTADÃO ?? No acumulado de 2024, papéis da empresa na Bolsa caíram 12,8%
FABIO MOTTA/ESTADÃO No acumulado de 2024, papéis da empresa na Bolsa caíram 12,8%

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil