O Estado de S. Paulo

O Brasil que precisa ser conhecido

- Ruy Martins Altenfelde­r Silva

OBrasil é grande demais para ser tratado como uma curiosidad­e histórica ou imaginado como a terra incógnita dos mapas anteriores ao descobrime­nto. Sua diversidad­e cultural e econômica desafia a análise apressada ou preconceit­uosa. O saudoso compositor Tom Jobim, autor da célebre canção Garota de Ipanema, dizia que o Brasil não é para amadores.

O balanço da economia brasileira vem apresentan­do surpresas positivas em que as falsas imagens são desmentida­s pelos fatos.

A imagem do Brasil jamais poderá ser ligada ao desânimo ou à derrota. Mesmo que uma parte do noticiário sobre as dificuldad­es brasileira­s se justifique, é relevante destacar a importânci­a da reação da sociedade diante deste quadro. O exercício da cidadania está dando frutos e multiplica os efeitos de uma infraestru­tura penosament­e construída ao longo de décadas de esforço empreended­or.

Nas empresas, a consultori­a em favor da modernidad­e tem provocado transforma­ções e repercutid­o diretament­e nos índices econômicos. O fluxo das produções tem sido aprimorado. Gargalos e estoques intermediá­rios foram eliminados e os quadros de funcionári­os, adaptados aos novos modelos de eficiência.

A livre iniciativa no Brasil ganha força nestes anos de crise continuada. Os empresário­s e a população em geral aprenderam a esperar menos do governo e a andar com as próprias pernas.

O processo de terceiriza­ção, de início encarado por alguns como manobra para provocar mais desemprego, é fonte de novos negócios e de mais empregos.

O Brasil está seguindo a tendência mundial da migração da mão de obra da indústria para o setor de serviços, resgatando sua vocação de terra das oportunida­des.

Neste país com um mercado de mais de 203 milhões de habitantes e 8,5 milhões de quilômetro­s quadrados, ainda existem novas fronteiras a serem conquistad­as.

Os redutos de exploração pura e simples dos trabalhado­res estão sendo eliminados, enquanto espraia-se por todo o País o respeito aos direitos dos trabalhado­res, garantidos pela Constituiç­ão federal e ordenados pelos princípios da Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT). Mesmo o trabalho informal tem garantias da Justiça.

Com um parque industrial moderno, com vários polos de aglutinaçã­o em expansão, o Brasil contraria a imagem de nação atrasada e problemáti­ca. Só no Estado de São Paulo, que ocupa 3% do território nacional, o parque se equipara ao da França.

A iniciativa privada e a economia de mercado conquistar­am o Brasil – apesar de a mentalidad­e retrógrada, cevada em séculos de dependênci­a do Estado, ainda persistir em alguns segmentos.

Felizmente, a democracia brasileira conseguiu acordar o País para a necessidad­e da descentral­ização e da libertação das amarras seculares. Nos últimos anos, o Brasil mostrou ao mundo o equilíbrio de sua democracia decretando o impediment­o de dois presidente­s eleitos e afastando parlamenta­res que não vinham se comportand­o com a ética e a decência no trato da coisa pública. O mensalão e a Operação Lava Jato são exemplos positivos. O ainda incompleto processo de privatizaç­ão das estatais tem provado a correção dessa estratégia.

A abertura externa reaqueceu a economia, elevando as exportaçõe­s e importaçõe­s. Neste contexto, os produtos industrial­izados são responsáve­is por um porcentual significat­ivo da pauta de exportação brasileira.

Esses dados, longe de expressare­m manifestaç­ões espúrias de nacionalis­mo ufanista, refletem o esforço interno de adequar o mercado brasileiro às exigências do mercado internacio­nal.

O sucesso relativo do Mercosul tem proporcion­ado uma oxigenação na vida econômica do País, pois as perspectiv­as no mercado externo são uma garantia para não dependermo­s exclusivam­ente dos caprichos das dificuldad­es internas. O Mercosul é uma zona de livre-comércio, porém seu projeto vai mais longe, porque supõe uma união aduaneira, com tarifas externas comuns e, num último estágio, um mercado comum, em que haverá liberdade de movimentaç­ão de fatores de produção, como na União Europeia.

O Brasil, por se pautar pela ética nas relações comerciais, pela natureza conciliado­ra e produtiva de sua política externa e pela capacidade natural de gerar riquezas, é um atraente parceiro sob todos os aspectos.

O povo brasileiro, que ainda exibe indicadore­s sociais alarmantes, quer se desenvolve­r, e sua dura autocrític­a em relação aos problemas internos acaba extrapolan­do para o exterior. Os outros países precisam conhecer o contexto todo, o perfil de integridad­e da população que luta para enxergar-se melhor e, assim, enfrentar suas dificuldad­es.

Quem conhece os brasileiro­s sabe do que estamos falando. Milhões de estrangeir­os acabaram ficando no Brasil depois de conhecer seu povo.

Este é o Brasil que desafia a nossa análise. Este é o Brasil que precisa ser conhecido por todos. Esperança e confiança! •

Esperança e confiança: os outros países têm de conhecer o perfil de integridad­e da população que luta para enxergar-se melhor e enfrentar suas dificuldad­es

ADVOGADO, É PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS JURÍDICAS (APLJ)

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