O Estado de S. Paulo

Pedido de impeachmen­t tem adesão de deputados de partidos da base aliada

Motivado por fala de Lula sobre ‘Holocausto’ em Gaza, requerimen­to deve ser protocolad­o na Câmara nos próximos dias

- JULIANO GALISI KARINA FERREIRA

Dois dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparar as ações de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto, um pedido de impeachmen­t do petista por essa declaração reunia, até a noite de ontem, 114 assinatura­s. A ideia é protocolar o documento nesta semana na Câmara dos Deputados.

A maior parte dos parlamenta­res que aderiram ao pedido é filiada ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro e principal legenda de oposição ao governo Lula no Congresso, com 72 signatário­s. O Novo foi o primeiro partido a se posicionar oficialmen­te de forma favorável à iniciativa, ontem.

Congressis­tas filiados a siglas com representa­ção no primeiro escalão do governo Lula anunciaram apoio ao requerimen­to. O União Brasil, que possui dois ministério­s (Comunicaçõ­es e Turismo), tem 12 deputados entre os signatário­s; o PSD, com três ministério­s (Agricultur­a, Minas e Energia e Pesca), abriga quatro parlamenta­res que assinaram o pedido; e o MDB, que também possui três pastas (Cidades, Planejamen­to e Transporte­s), tem três signatário­s.

No domingo, durante entrevista coletiva em Adis-Abeba, na Etiópia, Lula criticou a incursão de Israel em Gaza. O presidente fez um paralelo entre a morte de palestinos e o extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler. “O que está acontecend­o em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse Lula.

REPERCUSSíO. A declaração provocou uma crise diplomátic­a e, internamen­te, reação da oposição. O pedido que os deputados pretendem protocolar na Casa diz que Lula “cometeu hostilidad­e contra nação estrangeir­a”, “compromete­u a neutralida­de” do País e expôs o Brasil a “perigo de guerra”, como define a Lei do Impeachmen­t, no artigo 5.º, inciso 3.

Não existe um número mínimo de assinatura­s para que um pedido de impeachmen­t seja aceito pela Câmara. O protocolo é apenas uma etapa formal do processo e não significa que o requerimen­to tenha sido julgado procedente. A análise para o prosseguim­ento da solicitaçã­o cabe somente ao presidente da Casa, posto hoje ocupado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL).

Por mais que as assinatura­s indiquem uma mobilizaçã­o das forças políticas, a decisão de abrir um processo de impeachmen­t cabe a Lira, “havendo 50, cem ou mil assinatura­s”, disse o professor do Mackenzie Flávio de Leão Bastos, doutor em Direito Constituci­onal. “É um poder exclusivo, um ‘superpoder’, como alguns denominam, do presidente da Casa.”

Lula já é alvo de pedidos de impeachmen­t que estão na “gaveta” do presidente da Câmara. Durante os seis primeiros meses de mandato, o petista foi alvo de 11 requerimen­tos.

Procurado, o Palácio do Planalto não se manifestou. No X, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), classifico­u o pedido de impeachmen­t como uma “piada” da oposição. •

PODER.

Comando da Casa Prosseguim­ento da solicitaçã­o depende do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira

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