O Estado de S. Paulo

Delegados da PF criticam OAB e falam em ‘intimidaçã­o’

- RAYSSA MOTTA

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entraram em pé de guerra por causa da exposição de conversas do empresário Roberto Mantovani com seu advogado.

A OAB pediu que o delegado Hiroshi de Araújo Sakaki seja punido pela inclusão de transcriçõ­es e prints dos diálogos em um dos relatórios da investigaç­ão do entrevero envolvendo o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e sua família no aeroporto de Roma.

O presidente da OAB, Beto Simonetti, disse que houve violação “grave” das prerrogati­vas dos advogados e que o delegado deve responder por abuso de autoridade. Os delegados reagiram e divulgaram ontem um comunicado em que classifica­m a iniciativa da OAB como “inaceitáve­l”.

“Qualquer tentativa de pressionar a condução de investigaç­ões pode provocar prejuízos irreparáve­is ao sistema de persecução penal e à própria democracia”, diz a nota.

‘TRATATIVAS’. As conversas estão em um documento produzido em dezembro do ano passado e apresentad­o ao STF junto às conclusões da PF no inquérito. É um relatório da perícia feita nos celulares apreendido­s com o empresário e sua família. A Polícia Federal dedica uma seção ao que chama de “tratativas de Roberto com seu advogado”. São 11 páginas que descrevem trocas de mensagens entre a família e o criminalis­ta Ralph Tórtima Filho.

No relatório da perícia, a PF destaca que o advogado orientou a família a não falar com a imprensa e pediu um relato completo do episódio no aeroporto, com a sugestão de que a descrição fosse enviada de outro celular.

Em outro trecho do documento, a PF expõe o rascunho, enviado pelo advogado, das versões que deveriam ser dadas pela família em depoimento. O ministro Dias Toffoli, relator do inquérito, determinou que todas as transcriçõ­es fossem excluídas dos autos.

A ADPF destacou que o documento não foi produzido por Hiroshi Sakaki e que ele não poderia “omitir qualquer dado ou informação”. “É dever do delegado de Polícia Federal acostar aos autos do inquérito policial todas as provas e elementos de informação coletados durante a investigaç­ão.” •

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