O Estado de S. Paulo

Quase duas cargas são roubadas a cada hora; consumidor paga a conta

Brasil registrou alta de 4,8% nesse tipo de ocorrência no ano passado ante a 2022; empresas têm prejuízo de R$ 1,2 bilhão

- WESLEY GONSALVES

Quase duas cargas foram roubadas por hora nas estradas brasileira­s em 2023, somando mais de 17 mil ocorrência­s. Segundo o estudo Brasil: Relatório Anual de Roubo de Cargas, da consultori­a Overhaul, houve um aumento de 4,8% nas ocorrência­s no ano passado ante a 2022. O Brasil ocupa hoje a segunda colocação no ranking global de cargas roubadas, atrás do México e à frente de África do Sul, conforme a consultori­a.

Os custos com a segurança logística são repassados ao consumidor, diz Ulysses Reis, especialis­ta em varejo da Strong Business School (SBS). “As varejistas, as distribuid­oras, os centros de distribuiç­ão e companhias em geral não ficam com esse prejuízo. As empresas acabam repassando isso para o cliente final.”

Reis afirma que tradiciona­lmente custos como os da segurança já eram contabiliz­ados pelas companhias, mas que agora elas precisam recalcular o passivo diante da alta nos crimes. “Na prática, essa inseguranç­a acaba onerando os preços ainda mais, que faz parte do custo Brasil. Isso é mais uma das ineficiênc­ias logísticas que temos por aqui.”

Segundo o gerente de inteligênc­ia da Overhaul no Brasil, Reginaldo Catarino, parte da explicação para a elevação do número de ocorrência­s está em uma demanda crescente do consumo de produtos roubados. “Essa é uma questão social muito importante que tem de ser analisada”, afirma o consultor.

SEM SAÍDA. Antonio Wrobleski, presidente do grupo BBM, um dos maiores operadores logísticos do Mercosul, aponta outros dois fatores: a precarieda­de das estradas, que facilita a ação de criminosos, e à ineficiênc­ia da segurança em rodovias e periferias.

O resultado, diz o executivo, é que só em 2022 as empresas tiveram um prejuízo de R$ 1,2 bilhão com o roubo de cargas. Wrobleski afirma que para mitigar os roubos e furtos no transporte, a BBM investe em áreas como operação, tecnologia e pessoas. “Investimos

em tecnologia de segurança embarcada em nossos veículos e segurança dos softwares de controle e monitorame­nto.”

Maior segurança significa muito dinheiro. Fazer um seguro custa caro e comprar softwares de segurança, também. Wrobleski diz que as despesas com segurança em um grupo como o BBM, que tem mais 4 mil veículos e faz 20 milhões de entregas anuais, ficam entre 2% e 3% da receita bruta.

As empresas, porém, não têm muita saída. O empresário José Prado, dono de uma distribuid­ora de vidros, diz investir em seguro do veículo e da carga, rastreador­es em tempo real e câmeras internas e externas nos caminhões e na companhia. Prado afirma que casos de roubos são comuns e que os veículos são achados, mas a carga, não. “Usamos um sistema israelense que faz o acompanham­ento a todo momento dos nossos motoristas”, afirma.

EVOLUÇÃO. Segundo o modelo da Overhaul para monitorar as ocorrência­s de roubo de cargas, a projeção inicial é de que o número de casos cresça entre 1% e 2% neste ano. “A tendência é de que continue subindo”, diz Catarino. •

COLABOROU RENÉE PEREIRA

Brasil ocupa hoje o 2ª lugar no ranking global de cargas roubadas, atrás do México e à frente de África do Sul

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