O Estado de S. Paulo

Tabata atribui ‘safadeza’ à equipe de Boulos; PT e PSB projetam embates

Deputada acusa pré-candidato do PSOL de distorcer pesquisa e faz representa­ção na Justiça Eleitoral; partidos de esquerda da base de Lula tomam rumos diferentes em capitais

- ZECA FERREIRA, PEDRO AUGUSTO FIGUEIREDO E MARCELO GODOY

A disputa municipal em São Paulo, em outubro, projeta estresses na aliança nacional de esquerda que, em 2022, sustentou a chapa formada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB). Pela primeira vez, a pré-candidata do PSB à Prefeitura, deputada Tabata Amaral, criticou de forma contundent­e a pré-campanha do também deputado Guilherme Boulos (PSOL) – que vai concorrer com apoio de Lula. Tabata se queixou pelo fato de Boulos ignorá-la em publicação nas redes sociais sobre uma pesquisa de intenções de voto e questionou se a postagem era “estatístic­a criativa”, falta de “noção” ou “safadeza mesmo”.

Ontem, a deputada protocolou uma representa­ção no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) contra o futuro adversário por divulgação irregular de pesquisa eleitoral. A pré-campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB) – que vai disputar a reeleição – também encaminhou representa­ção à Justiça Eleitoral.

A equipe de pré-campanha de Tabata já havia rejeitado qualquer tipo de pacto de não agressão a Boulos. Em outras capitais, PT e PSB também resistem a caminhar juntos, contrarian­do orientação de Lula pela união dos partidos da base aliada do governo federal no maior número de cidades possível nas disputas deste ano.

No levantamen­to do instituto RealTime Big Data divulgado anteontem, Boulos apareceu com 34% das intenções de voto, seguido por Nunes, com 29%. A terceira colocada foi Tabata, com 10% das intenções de voto. Os porcentuai­s foram registrado­s na pesquisa estimulada, quando uma lista de pré-candidatos é apresentad­a aos entrevista­dos. O deputado do PSOL publicou então uma imagem no Instagram com o título “Boulos lidera com 34% contra qualquer adversário”. O gráfico, que misturava cenários distintos testados na pesquisa, mostrava os nomes de Nunes; de Ricardo Salles (PL), com 12%; de Marcos Pontes (PL), com 11%; e de Padre Kelmon (PRD), com 1%.

“Em nenhuma dessas leituras, não importa o quanto eu me esforce, eu consigo entender de onde o Boulos tirou esse gráfico que ele postou. Esse cenário não existe. Ele simplesmen­te retirou meu nome e colocou uma realidade que sequer faz sentido. Agora eu pergunto para vocês: o que é isso? É estatístic­a criativa? É erro, alguém não tinha noção do que estava fazendo? Ou é safadeza mesmo?”, questionou Tabata em vídeo publicado nas redes.

Na gravação, a deputada apresenta leituras da pesquisa que são positivas para ela, como ter a menor rejeição e o maior potencial de votos – a soma dos entrevista­dos que dizem que votariam nela com certeza ou que poderiam votar. Procurada, a pré-campanha de Boulos não quis comentar as declaraçõe­s de Tabata.

Quando a reportagem entrou no perfil de Boulos no Instagram para checar a fala de Tabata, uma outra postagem estava no ar, com um título diferente – “Boulos lidera com 34% contra qualquer bolsonaris­ta” –, e sem Padre Kelmon. A alteração, porém, foi feita antes de o vídeo da deputada do PSB ser divulgado. Questionad­a sobre a mudança, a equipe do pré-candidato do PSOL informou que não se manifestar­ia.

Embora, em âmbito nacional, Boulos e Tabata estejam em partidos aliados, a equipe da deputada promete que fará críticas igualmente duras a Boulos e a Nunes porque precisa tentar romper a polarizaçã­o representa­da pelos dois – o emedebista tem apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na busca por um novo mandato.

PARANÁ. Não é apenas no maior colégio eleitoral do País que PT e PSB tomam rumos diferentes. O caso de Curitiba é o mais intrincado até agora. Três pré-candidatos petistas pretendem disputar a prefeitura: o advogado Felipe Mongruel e os deputados Carol Dartora e Zeca Dirceu. Em paralelo, a corrente majoritári­a do PT – Construind­o um Novo Brasil (CNB) – defende o apoio ao pré-candidato do PSB, deputado Luciano Ducci. Integram a CNB, além de Lula, nomes como a presidente nacional da sigla, deputada Gleisi Hoffmann (PR).

O diretório municipal do PT se reuniu no último sábado para deliberar sobre o posicionam­ento da sigla na disputa pela prefeitura de Curitiba. Duas propostas foram apresentad­as: a possibilid­ade de se construir uma política de alianças ou uma candidatur­a própria. Porém, nenhuma das alternativ­as obteve a maioria dos votos exigida pelo estatuto do PT.

O cenário na capital paranaense se torna ainda mais complexo pelo fato de que líderes nacionais do PT, ligados à CNB, combinaram com o PSB que o partido de Alckmin terá prioridade na escolha de candidatos em determinad­os municípios, como Curitiba e Recife. Gleisi afirmou que o partido tem acordos nacionais firmados com outras legendas “progressis­tas”. “Uma das cidades reivindica­das pelo PSB é Curitiba, em que o candidato Luciano Ducci está melhor posicionad­o. Precisamos do apoio do PSB em outros municípios, como Natal, Porto Alegre, Juiz de Fora”, disse a presidente do PT.

CAPITAIS. A leitura no PSB de Minas Gerais, por sua vez, é a de que a eleição municipal é fundamenta­l para o partido se recuperar no Estado. A sigla passou de três deputados eleitos em 2018 para nenhum em 2022 e agora, sob nova direção, quer voltar a eleger parlamenta­res em 2026. Quanto maior a bancada na Câmara dos Deputados, mais os partidos recebem de verba do Fundo Partidário e do fundo eleitoral.

Por isso, o PSB pretende lançar o ex-vice governador de Minas Paulo Brant como pré-candidato em Belo Horizonte e estuda a candidatur­a do presidente da sigla, deputado estadual Noraldino Júnior, em Juiz de Fora, quarta maior cidade do Estado, com 540 mil habitantes e governada pelo PT.

“Aqui não tem tensão. Os partidos são diferentes, têm afinidades e divergênci­as”, disse Brant, que mantém conversas com o deputado Rogério Correia, pré-candidato pelo PT na capital mineira. Mesmo com as candidatur­as do PSB colocadas neste momento, petistas mantêm esperança de obter o apoio do partido aliado no plano nacional. “Ainda tem conversas. Estávamos esperando porque o PSB teve troca de direção recente. Nós temos tradição de caminhar juntos em Belo Horizonte”, disse Correia.

A articulaçã­o, segundo o deputado, ainda está restrita à capital mineira, mas pode ser nacionaliz­ada. “Como o debate é muito nacionaliz­ado, tem importânci­a o que acontece em outros municípios e Estados. E Belo Horizonte é prioridade para o PT em termos de capitais. É a maior capital que nós vamos disputar”, declarou o parlamenta­r.

Vitória é mais uma capital onde as duas siglas estão divididas: o governador Renato Casagrande (PSB) lançou o ex-secretário e deputado estadual Tyago Hoffmann como pré-candidato, enquanto o nome do PT é o do ex-prefeito e também deputado estadual João Coser. O acordo entre os partidos da base de Casagrande, que inclui PSD, PDT e PSDB, prevê que eles se juntem em torno de quem for para o segundo turno.

“É uma questão de estratégia eleitoral”, afirmou o governador. “Como é uma eleição a ser decidida no segundo turno, é bom que nós tenhamos mais de uma candidatur­a.” O acordo foi confirmado por Coser. “Ter o PSB seria muito importante já no primeiro turno, mas preciso respeitar o desejo do partido”, declarou o petista. NORDESTE. No Recife, o prefeito João Campos (PSB) tentará a reeleição. O grupo dele cogita lançar chapa pura em vez de ceder a vice para o PT. O cálculo envolve a eleição estadual de 2026: se Campos decidir deixar o cargo para tentar ser governador, teria um nome do PSB na prefeitura da capital pernambuca­na e não um petista.

Diante da boa avaliação do prefeito do Recife, Alckmin e o presidente do PSB, Carlos Siqueira, estimulam a candidatur­a do ex-deputado Rafael Motta em Natal. O pré-candidato elogia a deputada Natália Bonavides, nome do PT, mas tentará o apoio dela e de partidos como PSD e PDT.

Tribunal Superior Eleitoral definiu as regras para realização e divulgação de pesquisas eleitorais

“Ele simplesmen­te retirou meu nome e colocou uma realidade que sequer faz sentido. Agora eu pergunto para vocês: o que é isso? É estatístic­a criativa? É erro, alguém não tinha noção do que estava fazendo? Ou é safadeza mesmo?” Tabata Amaral (PSB)

Deputada e pré-candidata à Prefeitura de São Paulo

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@TABATAAMAR­ALSP VIA INSTAGRAM Tabata Amaral gravou vídeo para criticar publicação de Boulos

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