Tabata atribui ‘safadeza’ à equipe de Boulos; PT e PSB projetam embates
Deputada acusa pré-candidato do PSOL de distorcer pesquisa e faz representação na Justiça Eleitoral; partidos de esquerda da base de Lula tomam rumos diferentes em capitais
A disputa municipal em São Paulo, em outubro, projeta estresses na aliança nacional de esquerda que, em 2022, sustentou a chapa formada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB). Pela primeira vez, a pré-candidata do PSB à Prefeitura, deputada Tabata Amaral, criticou de forma contundente a pré-campanha do também deputado Guilherme Boulos (PSOL) – que vai concorrer com apoio de Lula. Tabata se queixou pelo fato de Boulos ignorá-la em publicação nas redes sociais sobre uma pesquisa de intenções de voto e questionou se a postagem era “estatística criativa”, falta de “noção” ou “safadeza mesmo”.
Ontem, a deputada protocolou uma representação no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) contra o futuro adversário por divulgação irregular de pesquisa eleitoral. A pré-campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB) – que vai disputar a reeleição – também encaminhou representação à Justiça Eleitoral.
A equipe de pré-campanha de Tabata já havia rejeitado qualquer tipo de pacto de não agressão a Boulos. Em outras capitais, PT e PSB também resistem a caminhar juntos, contrariando orientação de Lula pela união dos partidos da base aliada do governo federal no maior número de cidades possível nas disputas deste ano.
No levantamento do instituto RealTime Big Data divulgado anteontem, Boulos apareceu com 34% das intenções de voto, seguido por Nunes, com 29%. A terceira colocada foi Tabata, com 10% das intenções de voto. Os porcentuais foram registrados na pesquisa estimulada, quando uma lista de pré-candidatos é apresentada aos entrevistados. O deputado do PSOL publicou então uma imagem no Instagram com o título “Boulos lidera com 34% contra qualquer adversário”. O gráfico, que misturava cenários distintos testados na pesquisa, mostrava os nomes de Nunes; de Ricardo Salles (PL), com 12%; de Marcos Pontes (PL), com 11%; e de Padre Kelmon (PRD), com 1%.
“Em nenhuma dessas leituras, não importa o quanto eu me esforce, eu consigo entender de onde o Boulos tirou esse gráfico que ele postou. Esse cenário não existe. Ele simplesmente retirou meu nome e colocou uma realidade que sequer faz sentido. Agora eu pergunto para vocês: o que é isso? É estatística criativa? É erro, alguém não tinha noção do que estava fazendo? Ou é safadeza mesmo?”, questionou Tabata em vídeo publicado nas redes.
Na gravação, a deputada apresenta leituras da pesquisa que são positivas para ela, como ter a menor rejeição e o maior potencial de votos – a soma dos entrevistados que dizem que votariam nela com certeza ou que poderiam votar. Procurada, a pré-campanha de Boulos não quis comentar as declarações de Tabata.
Quando a reportagem entrou no perfil de Boulos no Instagram para checar a fala de Tabata, uma outra postagem estava no ar, com um título diferente – “Boulos lidera com 34% contra qualquer bolsonarista” –, e sem Padre Kelmon. A alteração, porém, foi feita antes de o vídeo da deputada do PSB ser divulgado. Questionada sobre a mudança, a equipe do pré-candidato do PSOL informou que não se manifestaria.
Embora, em âmbito nacional, Boulos e Tabata estejam em partidos aliados, a equipe da deputada promete que fará críticas igualmente duras a Boulos e a Nunes porque precisa tentar romper a polarização representada pelos dois – o emedebista tem apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na busca por um novo mandato.
PARANÁ. Não é apenas no maior colégio eleitoral do País que PT e PSB tomam rumos diferentes. O caso de Curitiba é o mais intrincado até agora. Três pré-candidatos petistas pretendem disputar a prefeitura: o advogado Felipe Mongruel e os deputados Carol Dartora e Zeca Dirceu. Em paralelo, a corrente majoritária do PT – Construindo um Novo Brasil (CNB) – defende o apoio ao pré-candidato do PSB, deputado Luciano Ducci. Integram a CNB, além de Lula, nomes como a presidente nacional da sigla, deputada Gleisi Hoffmann (PR).
O diretório municipal do PT se reuniu no último sábado para deliberar sobre o posicionamento da sigla na disputa pela prefeitura de Curitiba. Duas propostas foram apresentadas: a possibilidade de se construir uma política de alianças ou uma candidatura própria. Porém, nenhuma das alternativas obteve a maioria dos votos exigida pelo estatuto do PT.
O cenário na capital paranaense se torna ainda mais complexo pelo fato de que líderes nacionais do PT, ligados à CNB, combinaram com o PSB que o partido de Alckmin terá prioridade na escolha de candidatos em determinados municípios, como Curitiba e Recife. Gleisi afirmou que o partido tem acordos nacionais firmados com outras legendas “progressistas”. “Uma das cidades reivindicadas pelo PSB é Curitiba, em que o candidato Luciano Ducci está melhor posicionado. Precisamos do apoio do PSB em outros municípios, como Natal, Porto Alegre, Juiz de Fora”, disse a presidente do PT.
CAPITAIS. A leitura no PSB de Minas Gerais, por sua vez, é a de que a eleição municipal é fundamental para o partido se recuperar no Estado. A sigla passou de três deputados eleitos em 2018 para nenhum em 2022 e agora, sob nova direção, quer voltar a eleger parlamentares em 2026. Quanto maior a bancada na Câmara dos Deputados, mais os partidos recebem de verba do Fundo Partidário e do fundo eleitoral.
Por isso, o PSB pretende lançar o ex-vice governador de Minas Paulo Brant como pré-candidato em Belo Horizonte e estuda a candidatura do presidente da sigla, deputado estadual Noraldino Júnior, em Juiz de Fora, quarta maior cidade do Estado, com 540 mil habitantes e governada pelo PT.
“Aqui não tem tensão. Os partidos são diferentes, têm afinidades e divergências”, disse Brant, que mantém conversas com o deputado Rogério Correia, pré-candidato pelo PT na capital mineira. Mesmo com as candidaturas do PSB colocadas neste momento, petistas mantêm esperança de obter o apoio do partido aliado no plano nacional. “Ainda tem conversas. Estávamos esperando porque o PSB teve troca de direção recente. Nós temos tradição de caminhar juntos em Belo Horizonte”, disse Correia.
A articulação, segundo o deputado, ainda está restrita à capital mineira, mas pode ser nacionalizada. “Como o debate é muito nacionalizado, tem importância o que acontece em outros municípios e Estados. E Belo Horizonte é prioridade para o PT em termos de capitais. É a maior capital que nós vamos disputar”, declarou o parlamentar.
Vitória é mais uma capital onde as duas siglas estão divididas: o governador Renato Casagrande (PSB) lançou o ex-secretário e deputado estadual Tyago Hoffmann como pré-candidato, enquanto o nome do PT é o do ex-prefeito e também deputado estadual João Coser. O acordo entre os partidos da base de Casagrande, que inclui PSD, PDT e PSDB, prevê que eles se juntem em torno de quem for para o segundo turno.
“É uma questão de estratégia eleitoral”, afirmou o governador. “Como é uma eleição a ser decidida no segundo turno, é bom que nós tenhamos mais de uma candidatura.” O acordo foi confirmado por Coser. “Ter o PSB seria muito importante já no primeiro turno, mas preciso respeitar o desejo do partido”, declarou o petista. NORDESTE. No Recife, o prefeito João Campos (PSB) tentará a reeleição. O grupo dele cogita lançar chapa pura em vez de ceder a vice para o PT. O cálculo envolve a eleição estadual de 2026: se Campos decidir deixar o cargo para tentar ser governador, teria um nome do PSB na prefeitura da capital pernambucana e não um petista.
Diante da boa avaliação do prefeito do Recife, Alckmin e o presidente do PSB, Carlos Siqueira, estimulam a candidatura do ex-deputado Rafael Motta em Natal. O pré-candidato elogia a deputada Natália Bonavides, nome do PT, mas tentará o apoio dela e de partidos como PSD e PDT.
Tribunal Superior Eleitoral definiu as regras para realização e divulgação de pesquisas eleitorais
“Ele simplesmente retirou meu nome e colocou uma realidade que sequer faz sentido. Agora eu pergunto para vocês: o que é isso? É estatística criativa? É erro, alguém não tinha noção do que estava fazendo? Ou é safadeza mesmo?” Tabata Amaral (PSB)
Deputada e pré-candidata à Prefeitura de São Paulo