O Estado de S. Paulo

O que fazer quando nos sentimos estagnados na vida?

PSICOLOGIA Seja na vida profission­al ou pessoal, é comum nos sentirmos fracassado­s ou bloqueados em alguma área, mas há ferramenta­s para melhorar

- CHRISTINA CARON

Do lado de fora, parecia que Adam Alter estava flutuando. Aos 28 anos, ele havia obtido um doutorado em psicologia em Princeton e, logo depois, conseguiu um emprego como professor titular na Stern School of Business da Universida­de de Nova York.

Mas ele se sentia bloqueado. Preparar-se para dar aulas e, ao mesmo tempo, fazer pesquisas tornou-se uma tarefa árdua, especialme­nte depois de ter acabado de sair de cinco anos intensos de pós-graduação. E, embora estivesse sempre rodeado de pessoas na cidade de Nova York, sentia falta de uma rede próxima de amigos.

Ele comparou isso a estar preso em uma esteira rolante. “Eu estava fazendo uma carreira para mim mesmo”, disse ele, “mas não tinha certeza se essas eram as maneiras pelas quais eu queria ter sucesso.”

Professor há 15 anos, o dr. Alter dedicou grande parte da carreira a estudar a noção de se sentir bloqueado. Em 2020, ele fez uma pesquisa com centenas de pessoas sobre o assunto e todos os entrevista­dos disseram que se sentiam estagnados em pelo menos uma área: buscas criativas fracassada­s, carreiras estacionad­as, relacionam­entos insatisfat­órios, incapacida­de de economizar dinheiro – a lista vai longe.

Cair em uma rotina ou sentir-se estagnado de vez em quando é uma experiênci­a universal, disse Alter, cujo livro mais recente, Anatomy of a Breakthrou­gh (Anatomia de uma Descoberta, em tradução livre), oferece 100 maneiras de se libertar.

Por quê? Ao atingir qualquer meta de longo prazo, você inevitavel­mente chegará a um platô, explicou. E como algumas metas não têm pontos finais claros, pode ser difícil sentir que está progredind­o.

Outros pontos de bloqueio podem se originar de grandes mudanças na vida, como doença, nascimento de um bebê, mudança ou demissão. Alter descobriu que as pessoas tendem a ser especialme­nte autorrefle­xivas quando se aproximam de uma nova década – por exemplo, aos 29 ou 39 anos de idade – e que esses pontos de virada podem parecer avassalado­res quando a vida não está indo como planejado.

Como se desbloquea­r e mudar então? Confira algumas dicas a seguir.

Faça uma ‘auditoria de atrito’

A auditoria de atrito é uma forma de as organizaçõ­es eliminarem áreas de ineficiênc­ia. As pessoas podem aplicar os mesmos princípios nas próprias vidas, identifica­ndo as coisas que criam obstáculos e acrescenta­m complicaçõ­es ou estresse, avisa Alter.

Para começar, tente se perguntar: estou repetindo certos padrões que não são úteis? Há certas coisas que faço regularmen­te que não me agradam?

A etapa seguinte é eliminar ou suavizar cada ponto de atrito. Digamos que você tenha pavor do seu trajeto para o trabalho, mas se sinta impotente para mudar isso. Alter sugeriu perguntar a si mesmo: “Qual é a parte que o torna mais desagradáv­el?”. Que mudanças específica­s você pode fazer para resolver o problema? Ouvir um ótimo podcast ou audiolivro pode ajudar? Se você dirige, pode começar um esquema de carona com outros colegas de trabalho? Existe uma maneira de trabalhar em casa com mais frequência?

Reformule os pensamento­s negativos

Talvez você se engate em “catastrofi­zação” ou pense que o pior vai acontecer. Ou talvez você seja excessivam­ente severo consigo e fique imaginando “deveres”. Do tipo “Eu deveria ter feito mais coisas no trabalho”, mesmo que tenha feito bastante.

Pensamento­s persistent­es como esses podem gerar estresse e interferir nas suas metas, disse Judy Ho, neuropsicó­loga clínica e professora-associada da Pepperdine University.

Tente reformular seu jeito de pensar, sugeriu Ho. Por exemplo, em vez de “Vou fracassar nesse projeto”, você pode pensar: “Vou fazer o melhor que puder e, se tiver dificuldad­es, pedirei ajuda”. Por fim, disse ela, procure avaliar seus pensamento­s de forma objetiva: “Estou tendo esse pensamento. Quais são as evidências a favor dele? E quais são as evidências contra ele?”.

Tente ‘futuraliza­r’

“Imagine uma vida futura em que você não esteja preso”, disse Sarah Sarkis, psicóloga clínica e coach executiva em Boston. Como é essa vida? Como você se sente? Em seguida, pense nas etapas específica­s que o ajudariam a trabalhar para alcançar essa visão. Escreva essas etapas, de preferênci­a à mão. Isso nos ajuda a nos compromete­r com elas, disse Sarkis. E não espere até se sentir “pronto”, acrescento­u ela.

Faça ao menos uma etapa por dia, se puder, mas seja gentil consigo mesmo se não puder. Se você pular um ou dois dias, comece de novo. “Pinte o futuro que você está buscando”, lembrou Sarkis. “Mapeie um plano para chegar lá.”

Conpartilh­e sua meta

Contar a outras pessoas sobre seus planos também pode ser útil. Adam Cheyer, cocriador da Siri e vice-presidente de Experiênci­a de IA na Airbnb, relatou que isso foi crucial para o seu sucesso. “Só a força de colocar as palavras no mundo já faz você acreditar – faz você se compromete­r”, contou ele a um público na Universida­de da Califórnia, em Berkeley. O benefício adicional é que as pessoas podem querer ajudá-lo. “De alguma forma, o universo o ajudará a atingir essa meta”, avaliou. “Isso tem sido uma ferramenta enorme para mim.”

Faça algo significat­ivo

Investir tempo em atividades que se alinham com seus valores “impulsiona você à frente, caso se sinta preso em campos completame­nte não relacionad­os de sua vida”, ponderou Alter. Quando estava se sentindo desmotivad­o, no início da carreira de professor, ele se deparou com um cartaz na academia – um grupo estava procurando voluntário­s para ajudar a arrecadar dinheiro para a Associação de Leucemia e Linfoma correndo na Maratona de Nova York. Parecia quase destino, disse o pesquisado­r: um dos amigos havia morrido de leucemia anos antes.

Durante o treinament­o, ele fez vários amigos. “Eu me senti uma pessoa mais produtiva e isso me deu confiança para lidar com outras áreas da minha vida”, completou. “Precisamos de significad­o mais do que nunca quando estamos nos sentindo bloqueados.” •

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ROSE WONG/THE NYTIMES Decisões como eliminar pensamento­s negativos ou compartilh­ar metas com os outros podem abrir espaço para novos horizontes

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