Otan deve subir gasto com defesa para 3%
Aliança militar tem de ser igualmente corajosa e inflexível com suas ações como foi 25 anos atrás
Andrzej Duda Presidente da Polônia
Há 25 anos, o sonho de gerações de poloneses se concretizou. Após dois séculos de dificuldades para se manter como Estado independente seguidos de quatro décadas de domínio soviético, em 12 de março de 1999, em Independence, Missouri, a República da Polônia – juntamente com República Checa e Hungria – foi admitida oficialmente na Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar mais poderosa do mundo.
Usamos bem este tempo. A Polônia, localizada estrategicamente e quinto maior país da União Europeia em termos de população e área, com o produto interno bruto de US$ 690 bilhões, é um dos membros mais comprometidos da Otan. As Forças Armadas polonesas estão em linha com os padrões da aliança em termos de treinamento, comando e equipamentos – comprados principalmente dos nossos fornecedores americanos.
Nosso gasto anual em defesa alcançou um nível recorde dentro da Otan e se coloca em cerca de 4% do PIB.
A ordem mundial com base em regras, que a Polônia ajudou a moldar, foi abalada em 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia lançou uma invasão em escala total à Ucrânia. O combate do outro lado da nossa fronteira oriental foi travado com intensidade comparável à de batalhas da 2.ª Guerra. Desde o início do conflito, a Polônia se envolveu no maior grau possível.
MODO DE GUERRA. A Polônia tem alertado há muito contra um cenário desse tipo. Agora, enquanto acompanhamos o conflito de suas proximidades, declaramos o seguinte: um retorno ao status quo não é possível. As ambições imperialistas da Rússia e seu revisionismo agressivo estão empurrando Moscou na direção de um confronto direto com a Otan, com o Ocidente e, em última instância, com todo o mundo livre. A Federação Russa mudou sua economia para o modo de guerra, está alocando em torno de 30% de seu orçamento anual para se armar. Esse número e outros dados vindos da Rússia são alarmantes. O regime de Vladimir Putin representa a maior ameaça para a paz global desde o fim da Guerra Fria.
Dez anos atrás, na cúpula da Otan em Newport, no País de Gales, todos os aliados prometeram gastar pelo menos 2% de seus PIBs anuais em defesa. Eu acredito que, em razão das crescentes ameaças, chegou a hora de elevar esse número para 3% do PIB. E pretendo persuadir nossos aliados, tanto na América quanto na Europa, a isso. Alegra-me que, tendo já ultrapassado bastante esse mínimo, EUA e Polônia possam liderar pelo exemplo e inspirar os demais.
Ao recordar a adesão da Polônia à Otan, vale notar a abordagem visionária dos líderes na época. A quarta ampliação da aliança, em 1999, foi um acontecimento histórico, comparável à adesão da Alemanha Ocidental à Otan, em 1955. Em ambos os casos, Moscou se opôs à decisão. Contudo, os líderes da aliança permaneceram inabaláveis em sua determinação. Em ambos os casos, seguiu-se uma estabilização de longo prazo na arquitetura da segurança europeia.
Hoje, a Otan tem de ser igualmente corajosa e inflexível em suas ações, da mesma forma que foi 25 anos atrás. Estou contente pelo fato de a aliança ter recebido como membros Suécia e Finlândia – Estados que mantiveram seu status de neutralidade por décadas. Mas a Otan deve permanecer aberta para mais expansões. Uma decepcionante falta de unidade na cúpula da Otan em abril de 2008 tornou fúteis os esforços da Polônia, de outros países na nossa região e da diplomacia americana: não foi oferecido à Ucrânia e à Geórgia um caminho claro para a adesão – o que deixou essas duas nações vulneráveis à agressão russa. A Rússia invadiu a Geórgia apenas dois meses depois da cúpula e, em 2014, atacou a península ucraniana da Crimeia e o Donbas.
UNIDADE. Trata-se de um capítulo lamentável na história da Otan, que oferece uma importante lição para o futuro. O que a aliança precisa hoje é de unidade, e mais unidade. Membros da Otan devem trabalhar juntos no futuro da aliança, em seus investimentos em segurança e numa estratégia comum para dar apoio à Ucrânia. Creio que a cúpula de julho em Washington marcando o 75.º aniversário da Otan produzirá decisões significativas.
A Polônia acredita que a Otan é o principal pilar global de segurança, uma comunidade de nações livres fundada em valores universais. Acreditamos no princípio da solidariedade: “Um por todos e todos por um”. A Polônia acredita que essa força não pode ser equiparada por nenhuma potência agressora.
Simultaneamente, a Polônia reconhece e aprecia a liderança dos EUA na aliança – obviamente com base nas fundações mais fortes possíveis, incluindo recursos humanos e materiais, assim como adesão aos objetivos imutáveis da Otan. Noto que a Polônia entrou em seu caminho para integrar a Otan quando George H.W. Bush era presidente e o processo foi concluído durante o mandato do ex-presidente Bill Clinton. O Congresso também esteve unido nessa questão – pois não é segredo que uma Otan forte na Europa centro-oriental constitui um objetivo estratégico duradouro com os EUA como líderes da aliança.
Isso continua verdadeiro. A cooperação estratégica Varsóvia-Washington desenvolve-se, independentemente de quem ocupe o poder, tanto na Polônia quanto nos EUA. No que tange ao fortalecimento da Otan e da cooperação com os americanos, todos os políticos poloneses, seja qual for a cor de sua bandeira, sempre falaram e continuarão a falar em uníssono.
No primeiro semestre de 2025, a Polônia ocupará a presidência da União Europeia. Nossa prioridade será: mais EUA na Europa. Isso significa uma presença americana mais ativa em todas as esferas militares, econômicas e políticas. Na mesma medida que a Otan não é forte sem a Europa, a Europa não é forte sem os EUA e a Otan. •
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