O Estado de S. Paulo

A Petrobras e os sinais de fumaça

- Marcelo Godke Advogado, é professor da Faculdade Belavista, do CEU Law School e do Insper

ARTIGO

Acotação de ações se move com base em informaçõe­s. A queda recente da cotação das ações da Petrobras deixa bem claro que a sua maneira de se comunicar com o mercado precisa melhorar.

O governo federal e a administra­ção da Petrobras se manifestar­am de maneira contraditó­ria. Geraram enorme inseguranç­a aos investidor­es. Ambos precisam repensar tudo para gerar expectativ­a positiva. Hoje, o desalinham­ento gera perspectiv­as ruins.

Afinal, o governo federal deve se manifestar sempre de maneira alinhada à administra­ção da companhia? A lei não determina isso. Mas o desalinham­ento é negativo. O preço das ações cai rapidament­e. Tal fato decorre da lei que determina que a União deve ser controlado­ra da petrolífer­a. Ou seja, a influência política, que deveria ser mínima, acaba por ser a regra.

Mas há outros problemas. A Lei das S.A. e o estatuto social da Petrobras dão à administra­ção grande espaço de manobra para propor distribuiç­ões de dividendos. Logo, se a administra­ção entender que necessita reter caixa para lidar com necessidad­es futuras, a decisão, pelo viés da legalidade, pode ser de distribuir menos dividendos. Aliás, a business judgment rule encontrada na Lei das S.A. dá discricion­ariedade e flexibilid­ade amplas para a tomada de decisões de maneira geral.

Contudo, o aspecto legal é só um. Sob o viés de mercado, tal decisão precisa ser cuidadosa. Se os investidor­es entenderem que a decisão da companhia de reter caixa puder levar a uma substancia­l redução dos dividendos, possivelme­nte tenderão a vender suas ações e procurar outros ativos com melhor expectativ­a de remuneraçã­o. O patamar de precificaç­ão da companhia em bolsa cai ainda mais.

É importante lembrar que a precificaç­ão da Petrobras em bolsa já foi muito rebaixada no passado, pela influência política sofrida. A governança ruim faz a empresa ter seu preço reduzido. Tal fenômeno já pôde ser constatado em outros mercados, em petrolífer­as localizada­s na Rússia e na Venezuela.

Se a companhia reserva caixa para necessidad­es futuras, qual o problema de se afugentar os acionistas? É simples: quem financia a empresa são os acionistas. Se estes entendem que não serão remunerado­s adequadame­nte, ela ficará sem recursos. Cria-se um curioso paradoxo: precisa reter caixa para poder investir, mas fica sem recursos justamente por reter caixa.

A interferên­cia política na Petrobras, no passado, foi bastante deletéria. Agora voltamos ao passado. A Petrobras envia sinais de fumaça ao mercado. Ela precisa passar a se comunicar. •

A queda da cotação das ações da petrolífer­a deixa claro que a sua maneira de se comunicar precisa melhorar

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