Convocada pelo PT, manifestação não terá adesão de presidente
Partido irá às ruas para pedir a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro e relembrar os 60 anos do golpe militar de 1964
O PT convocou apoiadores da legenda para participar de atos de rua marcados para hoje que vão pedir a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e relembrar os 60 anos do golpe militar de 1964. Apesar de a convocação ter vindo de seu partido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vai comparecer. Assim como seus ministros, receosos de que a presença em uma manifestação com esse teor piore a relação do Palácio do Planalto com as Forças Armadas.
As manifestações devem ocorrer em 19 cidades, sendo 16 capitais brasileiras e duas cidades europeias – Lisboa, em Portugal, e Barcelona, na Espanha. Conforme mostrou o Estadão no mês passado, o principal ponto de encontro dos manifestantes será Salvador (BA), onde a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), estará acompanhada do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), e do líder do governo no Senado e ex-governador, Jaques Wagner (PT-BA).
De acordo com líderes de partidos da base governista ouvidos pelo Estadão, a ausência do presidente e dos ministros nas manifestações leva em consideração a postura adotada por Lula de não se posicionar sobre os 60 anos do golpe militar, que começou em 1964 e teve fim em 1985. O período foi marcado por desaparecimento de adversários políticos e terminou com os militares anistiados.
PASSADO. No mês passado, Lula afirmou que não quer ficar “remoendo o passado” e que está mais preocupado com o 8 de Janeiro do que com o golpe de 1964. Em uma reunião com auxiliares no início de março, o petista também proibiu que os chefes dos ministérios se posicionem publicamente sobre o golpe. Segundo Lula, a decisão busca evitar que a data convulsione o ambiente político do País, já acirrado com as investigações em torno da suposta tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023.
O Planalto também teme que a presença da cúpula do governo sinalize uma resposta ao ato convocado por Bolsonaro na Avenida Paulista, em 25 de fevereiro deste ano. O expresidente reuniu centenas de milhares de apoiadores na Avenida Paulista e minimizou as provas obtidas pela Polícia Federal no inquérito que investiga os ataques na Praça dos
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O governo federal enfrenta uma queda dos índices de aprovação, atestada pelos principais institutos de pesquisa do País. Segundo líderes partidários, o atual cenário pode fazer com que uma convocação do presidente para as manifestações não cause tanto efeito na mobilização de apoiadores, o que o enfraqueceria nas discussões sobre a sua popularidade ante a de Bolsonaro.
PUNIÇÃO. Em nota oficial, publicada no site do PT e enviada para diretórios estaduais e municipais da sigla, o partido convidou filiados e apoiadores para irem às ruas em “defesa da democracia” e pela exigência da “punição daqueles que atentaram contra o estado democrático de direito”, sem citar o nome de Bolsonaro.
Na convocação oficial, o líder do PT na Câmara, deputado Odair Cunha (MG), afirmou que os atos de hoje vão unir “movimentos sociais e trabalhadores do campo e da cidade” para pedir a prisão dos envolvidos na tentativa de um golpe de Estado. “Vamos reagir e exigir a punição daqueles e daquelas que atentaram contra o estado democrático de direito”, disse o parlamentar.
As manifestações são organizadas pelos movimentos Frente Povo Sem Medo (FPSM) e Frente Brasil Popular, que reúnem entidades de esquerda e são ligados ao PT e a outros partidos da base de Lula, como o PSOL e o PCdoB.
CRÍTICAS. Ao Estadão, representantes de movimentos sociais que vão integrar os atos criticaram a decisão do governo de não participar do evento. Segundo eles, a ausência de Lula pode prejudicar a mobilização dos apoiadores, ainda que sua popularidade esteja em queda.
“É inegável que a presença de Lula em qualquer ato aumenta a capacidade de mobilização, mas, na nossa avaliação, a convocatória dos atos de amanhã (hoje) já mostrou força”, declarou o coordenador-geral do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Rud Rafael.
As principais manifestações estão previstas para ocorrer em Barcelona (Espanha), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR), Brasília, Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), João Pessoa (PB), Maceió (AL) e São Paulo. •