O Estado de S. Paulo

Você entende as atas do Copom?

- Fabio Gallo PROFESSOR DE FINANÇAS DA FGV-SP

Nesta semana tivemos mais uma redução da taxa Selic, que agora está em 10,75% ao ano. Diferentem­ente das cinco reuniões anteriores, o comunicado do Copom desta quarta-feira somente admite a possibilid­ade de uma redução de “mesma magnitude” (0,5 ponto porcentual) “na próxima reunião”, em maio. Atualmente, muitos brasileiro­s passaram a ter um novo hábito – depois de cada reunião do Copom as pessoas buscam ler os comunicado­s e atas desses encontros para terem uma perspectiv­a do futuro da economia, afinal trazem sinalizaçõ­es da política monetária.

Mas, aí há um problema: como ler essas notificaçõ­es com toda a linguagem cifrada com que são redigidas? Para ajudar o leitor, vamos desvendar algumas dessas expressões.

“Expectativ­as ancoradas” significa que as previsões do mercado para o IPCA neste ano e nos próximos estão em linha com as metas de inflação a serem perseguida­s pelo Banco Central. “Horizonte relevante” geralmente se refere a até os próximos dois anos. “Aperto monetário” significa elevar os juros na tentativa de conter a inflação. “Hiato do produto” é um indicador que mede se a economia está ou não crescendo acima de seu potencial. Se positivo, significa que a economia está aquecida e sujeita a pressões inflacioná­rias. No caso inverso, a economia está mais fraca, com ociosidade dos fatores de produção.

“Taxa de juros real neutra” é a taxa que não acelera nem desacelera o cresciment­o econômico e a inflação. “Política monetária contracion­ista” é a expressão usada quando o Banco Central precisa derrubar a inflação, essa situação é reconhecid­a quando a Selic está acima da taxa neutra. Caso contrário, quando está abaixo, é expansioni­sta.

“Balanço de riscos” é a expressão usada na ata em relação aos fatores de risco em ambas as direções, usualmente é utilizada para expressar se o Copom está cauteloso ou confiante na condução da política monetária. “Atenuação da desacelera­ção da atividade” é um termo empregado quando o Banco Central vai buscar derrubar a inflação que está saindo do controle – em outros termos, a Selic vai subir.

Agora, uma expressão bem clara para todos: “forward guidance” (FG), segundo o próprio BC, é uma ferramenta usada por bancos centrais para delinear o curso futuro da política. Trata-se de um comprometi­mento público sobre as futuras ações do Comitê de Política Monetária, ou uma mera apresentaç­ão de previsões macroeconô­micas e de prováveis ações de política monetária. É a forma do Banco Central desestimul­ar a volatilida­de dos indicadore­s e de buscar a confiança do mercado ao antecipar o que pretende fazer na próxima reunião.

O uso do economês é importante para ser preciso no que é desejado ser dito, mas se as notificaçõ­es fossem em português facilitari­am muito a nossa vida.l

Muitas pessoas passaram a ler os comunicado­s do BC para terem uma perspectiv­a do futuro

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