O Estado de S. Paulo

Como fica o Enem na nova reforma?

- É REPÓRTER ESPECIAL DO ‘ ESTADO’ E FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTA­S DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)

OMinistéri­o da Educação (MEC) conseguiu um acordo na Câmara dos Deputados e aprovou a mudança no novo ensino médio na semana passada, mas agora tem dois abacaxis na mão, ambos sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O primeiro é a avaliação que precisa ser criada para os alunos que começarão o novo modelo ano que vem. O outro é a prova para os alunos que estão hoje cursando esse “velho novo ensino médio”.

É tanta confusão sobre o que é antigo ou novidade que convém explicar rapidament­e. O ensino médio, com as 13 disciplina­s obrigatóri­as e um currículo igual para todos os estudantes, foi mudado numa lei de 2017. Começou nas escolas em 2022, com um modelo que tinha menos horas para a formação básica combinado com os chamados itinerário­s formativos (que misturavam áreas) ou ensino técnico. Problemas na nova norma e uma preparação de escolas, professore­s e alunos em meio à pandemia e ao governo de Jair Bolsonaro fizeram com que já em 2023 houvesse um consenso no País de que o novo ensino médio não tinha dado certo.

Na semana passada, após mais de um ano de discussões, a Câmara aprovou uma reformulaç­ão, voltando com mais tempo para formação geral básica, só que mantendo o caráter de currículo flexível.

Mas, durante essa bagunça toda, há alunos no ensino médio. E o Enem ficou do mesmo jeito. O MEC não trabalhou para adequar a prova ao novo modelo e, este ano, uma geração vai terminar o ensino médio e vai passar por um exame que não foi pensado para o curso que fez. Em 2025 e em 2026 também, já que o novo Enem só está previsto para 2027, quando aí uma outra geração terá cursado os três anos do ‘novo novo ensino médio’.

Segundo pesquisas, 85% dos estudantes que estão hoje na escola não se acham preparados para o Enem porque tiveram carga horária de disciplina­s como Português, Matemática, História e Biologia reduzida. Com tanta informação nova, o MEC precisa sinalizar sobre a prova que será feita este ano e deixar claro aos jovens que eles não estão abandonado­s nesse velho modelo que não deu certo. E ainda não cometer o erro da gestão passada, que mudou a escola, mas não mudou o principal instrument­o que avalia os estudantes que saem dela.

Se queremos garantir os adolescent­es nas escolas, motivados e aprendendo, isso passa também pela informação e pela convicção de que há adultos olhando para seus anseios. E o ingresso no ensino superior, por meio do Enem, é um dos maiores. •

Avaliação precisa ser criada para quem está hoje no ‘velho novo médio’ e para o novo modelo

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