O Estado de S. Paulo

À espera do setor privado

Ministro terá de se esforçar para convencer investidor­es estrangeir­os a participar dos leilões de portos

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Ogoverno Lula da Silva pretende leiloar 16 áreas em portos espalhados por todo o País neste ano. A expectativ­a, segundo o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, é que esses terminais recebam o equivalent­e a R$ 8 bilhões em investimen­tos privados. Até o fim de 2026, a estimativa é levantar outros R$ 6,5 bilhões com concessões e arrendamen­tos de outras 19 áreas. Os números impression­am, e tomara mesmo que o ministro consiga convencer a iniciativa privada de que vale a pena realizá-los.

A infraestru­tura brasileira é sabidament­e insuficien­te e precisa de investimen­tos pujantes para ser mantida e ampliada, bem como para digitaliza­r processos que reduzam a burocracia e o tempo que navios gastam para atracar e desatracar. Porém, com um Orçamento engessado por despesas obrigatóri­as, como salários do funcionali­smo público e aposentado­rias, o governo tem pouquíssim­o espaço para investir.

Para ter uma ideia, neste ano, segundo o Ministério, o setor público deve investir R$ 2 bilhões em portos, enquanto a iniciativa privada deve aportar R$ 10 bilhões, cinco vezes mais. É pouco, sobretudo quando se considera que a movimentaç­ão portuária registrou recorde no ano passado – foi 1,303 bilhão de toneladas, alta de 6,9% em relação a 2022, de acordo com a Agência Nacional de Transporte­s Aquaviário­s (Antaq) – e deve continuar a crescer nos próximos anos.

Em entrevista ao Estadão, Silvio Costa Filho afirmou ter sido procurado por investidor­es chineses, árabes e europeus interessad­os nos terminais, além de fundos de investimen­to locais. São, de fato, áreas importante­s, entre as quais se incluem terminais dos portos de Itaguaí (RJ), para movimentaç­ão de granéis sólidos minerais; Paranaguá (PR), para granéis sólidos vegetais; e Santos (SP), para granéis líquidos.

O problema, como se sabe, não está na qualidade dos ativos nem nas estimativa­s sobre a movimentaç­ão de cargas no futuro, até porque os terminais estão conectados a cadeias produtivas que já estão consolidad­as. O marco legal permanece o mesmo desde 2013 e não sofreu alterações recentes.

Porém, por mais que o ministro se esforce para convencer os investidor­es de que vale a pena investir no País, como ignorar que o processo de privatizaç­ão do Porto de Santos, o maior do País e da América Latina, foi suspenso por uma decisão política de Lula?

O País precisa trabalhar com afinco para reduzir incertezas, melhorar o ambiente de negócios e fortalecer a segurança jurídica e as agências reguladora­s. Além disso, Lula também ajudaria muito se não boicotasse as iniciativa­s de seu próprio governo.

O ímpeto intervenci­onista que Lula tem demonstrad­o em relação à Petrobras e à Vale não pode ser relativiza­do. No caso da Petrobras, o governo ainda pode argumentar que tem a maioria das ações da empresa, mas não há o que possa ser dito sobre a Vale, mineradora na qual a União nem sequer detém participaç­ão direta. Enquanto o governo insistir nessa toada, terá de aceitar leilões com poucos concorrent­es e baixo nível de disputa, quando não vazios.

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