O Estado de S. Paulo

A dinâmica do crédito privado

- Roberto Luis Troster Economista E-mail: robertotro­ster@uol.com.br CELSO MING NÃO ESCREVE EXCEPCIONA­LMENTE HOJE

Oquadro macroeconô­mico no ano passado foi favorável ao crédito: o cresciment­o do PIB, a queda do desemprego e das taxas de juros e o Programa Desenrola foram fatores positivos para uma expansão do crédito e uma diminuição da inadimplên­cia. Todavia, o esperado não ocorreu: a relação crédito bancário/PIB ficou estagnada e os números de recuperaçõ­es judiciais, de falências e de pessoas físicas e jurídicas negativada­s aumentaram.

O valor total das dívidas negativada­s cresceu mais do que o crédito do Sistema Financeiro Nacional. O quadro foi semelhante ao de 2022. Embora algumas empresas e cidadãos tenham melhorado, na média o quadro é ruim e no agregado a dinâmica do endividame­nto do setor não financeiro está se deterioran­do.

Perdem todos: cidadãos, empresas, bancos, o governo e o Brasil. Não é sustentáve­l. Há dois cenários possíveis. O primeiro é um processo de desalavanc­agem, demorado (anos) e doloroso (um cresciment­o anêmico). É insistir em mais do mesmo. O outro é uma mudança dessa dinâmica, fazendo duas correções que só dependem do Poder Executivo.

A primeira é mudar o paradigma vigente da intermedia­ção. Leia-se: remover o entulho inflacioná­rio e aprimorar a normatizaç­ão da precificaç­ão do crédito, da transparên­cia, da Lei 14.181, da responsabi­lização de gestores, dos birôs de crédito e da alocação de limites e mudar a tributação da intermedia­ção.

A outra correção é reduzir a voracidade na cobrança de dívidas fiscais. É uma autofagia fiscal que enfraquece a saúde financeira da economia e a capacidade de crescer do País. É fato: o total de dívidas negativada­s na Serasa é de R$ 493 bilhões – incluindo sistema financeiro, varejo, serviços e utilidades, equivalem a um décimo das dívidas executadas pelo Fisco, que são de R$ 5.057 bilhões.

A maioria não são nem de “maus pagadores” nem sonegadore­s. Estão na armadilha da dívida e não conseguem sair dela. Problemas de liquidez temporário­s viram dívidas fiscais impagáveis. Multas de 232,8% ao ano (0,33% ao dia), ao que deve adicionar-se a correção pela Selic, erroneamen­te chamada de correção monetária.

Há uma interpreta­ção equivocada da Lei de Responsabi­lidade Fiscal no que concerne à renúncia de receitas e da dinâmica da arrecadaçã­o. É paradoxal, mas se aplicassem multas mais razoáveis e a correção monetária no lugar da correção pela Selic, arrecadari­am mais com impactos positivos na inadimplên­cia e no cresciment­o. Urge modernizar o paradigma de intermedia­ção e acabar com a autofagia fiscal. O Brasil tem pressa de crescer. •

Urge modernizar o paradigma de intermedia­ção e acabar com a autofagia fiscal

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