O Estado de S. Paulo

A polícia eleitoral

- J. R. Guzzo JORNALISTA

Opresident­e da República jurou de morte o senador Sérgio Moro – em público, com linguajar cafajeste e num vídeo que pode ser conferido por todo mundo, a qualquer momento. Não se trata de uma interpreta­ção, mas de um fato. Está em busca de vingança, como nunca se viu antes por parte de um presidente brasileiro, e convenceu a si próprio de que o sistema judicial do Brasil vai executar esse desejo para ele. Não adianta nada que o partido do seu inimigo fundamenta­l, o ex-presidente Jair Bolsonaro, esteja querendo a mesma coisa – a cassação do mandato de Moro pelo Tribunal

Regional Eleitoral do Paraná e, se não der, pelo pelotão de fuzilament­o para eleitos indesejáve­is que hoje funciona no TSE de Brasília. Na verdade, só piora – é mais gente no linchament­o. A questão que interessa é outra: se o Brasil ainda conta, em algum degrau do seu Judiciário, com magistrado­s capazes de aplicar a lei.

Não há nada certo no ataque contra Moro. Nenhuma democracia séria do mundo, para começo de conversa, admite que o seu sistema nacional de justiça, pago por todos e destinado a todos, seja utilizado por uma facção política para eliminar inimigos. É contra, como a esquerda brasileira aprendeu a dizer agora, “o processo civilizató­rio”. Do ponto de vista jurídico, há outro problema sério: não existe nenhum ponto de vista jurídico para ser discutido nesta história. O esquadrão que está à caça de Moro não tem prova alguma contra ele, não tem o apoio da lei e não apresenta nada que se possa chamar de argumento – consequênc­ia inevitável do fato de que o senador não fez nada de errado. A cassação do seu mandato, enfim, seria uma das fraudes eleitorais mais selvagens que este país já viu. Moro recebeu quase 2 milhões de votos; é óbvio que a vontade do povo do Paraná foi enviar o ex-juiz para o Senado. Ou alguém está achando que não foi? Não há como negar o fato mais essencial disso tudo: cassar Moro é jogar no lixo a decisão do eleitor paranaense, e passar mais um atestado de que eleição no Brasil de hoje pode ser uma farsa em estado puro, todas as vezes que a polícia eleitoral suprema decide fabricar o resultado final.

Voto mesmo, de verdade, quem tem é a célula política que chamam de TSE. Já exterminou o mandato do deputado Deltan Dallagnol, também do Paraná e também para satisfazer os rancores de Lula – embora o TRE do Paraná tivesse decidido o contrário. Pode fazer a mesma coisa com o senador Jorge Seif, embora o TRE de Santa Catarina tenha decidido por unanimidad­e a seu favor. É o fascínio do atual regime pela democracia tipo Venezuela. Eleição? Nenhum problema – é só proibir que o adversário ganhe. •

O presidente está em busca de vingança, e se convenceu de que o sistema judicial vai executar esse desejo

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