O Estado de S. Paulo

A poupança não é mais a mesma

- Fabio Gallo

Otipo de investimen­to mais popular no Brasil é a caderneta de poupança. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 26% dos brasileiro­s têm dinheiro aplicado na poupança. Na sequência, os outros tipos de investimen­tos mais procurados são os fundos de investimen­tos (4%), títulos privados (4%) e compra e venda de imóveis (4%).

Nos últimos tempos, porém, a poupança tem apresentad­o maior volume de saques do que de depósitos. Segundo dados do Banco Central, desde 2021 a captação líquida tem sido negativa. Naquele ano, os saques superaram os depósitos em R$ 35,5 bilhões. Em 2022 a captação líquida negativa chegou a R$ 103,2 bilhões, e em 2023 foi de R$ 87,8 bilhões. No acumulado deste ano, já está negativa em mais de R$ 22 bilhões, embora em março tenha ocorrido mais depósitos do que saques.

A queda do saldo da poupança entre dezembro de 2021 e final de março deste ano foi de 5,3%. Embora esse investimen­to tenha se tornado menos atraente ao público em geral, ainda detém um saldo volumoso, de mais de R$ 970 bilhões.

Há duas razões básicas para o aumento de saques da caderneta de poupança. A primeira, é que os outros tipos de investimen­to estão oferecendo maior rentabilid­ade e com grau de risco relativame­nte baixo. Em 2023, o rendimento líquido da poupança foi de 8,03%. O seu rendimento é de 6,17% no ano (0,5% ao mês) mais a variação da TR, que está acumulada em 1,76% nos últimos 12 meses. Assim, deve fechar 2024 com ganho próximo a 7%, rentabilid­ade inferior até de fundos DI.

O outro motivo importante é o alto grau de endividame­nto do brasileiro, que atinge 78% das famílias. A caderneta de poupança ainda é um instrument­o útil para o mercado dada a facilidade de acesso para a maioria das pessoas, liquidez a qualquer momento, sem custos de aplicação, isenção de Imposto de Renda e seguro. Além disso, é uma importante fonte de recursos para o financiame­nto imobiliári­o no nosso País.

Embora a poupança seja vista como um instrument­o de educação financeira dada a sua facilidade de operação, os dados que temos mostram que o brasileiro ainda tem um longo caminho para se tornar um investidor consciente. Como o nosso mercado oferece várias outras aplicações que pagam maior retorno, a transferên­cia de saldos entre os tipos de investimen­tos deveria ser ainda mais evidente. O investidor deve entender que todas as aplicações são boas em si, mas isso não significa que sejam boas para todo o tipo de investidor. Sempre deve-se buscar uma opção coerente aos nossos objetivos e que traga a melhor relação entre risco e retorno. •

PROFESSOR DE FINANÇAS DA FGV-SP

A poupança ainda é um instrument­o útil dada a facilidade de acesso para a maioria das pessoas

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