O Estado de S. Paulo

EUA, aliados e a incerteza nuclear

Rivalidade entre grandes potências cresceu e deixou competição nuclear mais acirrada Equilíbrio China e Rússia operam sistemas de defesa contra mísseis limitados e dizem que esforços mais ambiciosos dos EUA minam dissuasão GRIGORY SYSOYEV/KREMLIN/AP - 21/

- ARTIGO

Arsenal americano

Próximo presidente vai liderar complexo nuclear em meio a uma renovação orçada em US$ 1,5 trilhão

Dissuasão é fácil ou difícil? Essa pergunta simples figura no centro da estratégia nuclear há quase 80 anos. Para Bernard Brodie, um teorista precoce, a bomba atômica criou um equilíbrio estável de terror. O número preciso e a variedade das armas era menos importante que o fato de elas existirem. Seus colegas Herman Kahn e Albert Wohlstette­r discordava­m. O equilíbrio era “precário”, retrucaram eles, e exigia uma atenção cuidadosa e contínua a métricas como o dano relativo que cada lado sofreria em uma troca de fogo nuclear e, portanto, em função do tamanho relativo e da qualidade dos respectivo­s arsenais.

Esse debate está voltando à tona nos EUA. Um número crescente de pensadores influentes acredita que a dissuasão está ficando mais difícil e poderia ficar precária. A rivalidade entre grandes potências cresceu, o que torna mais possível uma intensific­ação da competição nuclear. Acordos de controle de armas se esgarçaram. Em meio a crescentes tensões que ajudaram a trazer atenção renovada ao impacto mundialmen­te transforma­dor das armas nucleares, o espectro de Donald Trump espreita. Seu retorno à presidênci­a poderia ocasionar uma perturbaçã­o nas alianças americanas que faz aliados na Ásia e na Europa repensar suas próprias opções atômicas.

Qualquer candidato que vencer a eleição de novembro comandará um complexo nuclear em meio a uma renovação prevista para ocorrer ao longo de 30 anos e orçada em US$ 1,5 trilhão. A reforma envolve projetos variados, como projetar uma nova ogiva e um novo míssil de cruzeiro, fabricar novos fossos de plutônio (os núcleos físseis dentro das ogivas) e construir novos submarinos, bombardeir­os e mísseis balísticos interconti­nentais (ICBMs).

Esses programas desfrutam de apoio bipartidár­io, mas foram finalizado­s na década de 2010, durante uma era geopolític­a diferente. Uma mudança ocorreu com a invasão da Rússia à Ucrânia e o uso que Vladimir Putin faz de ameaças nucleares para dissuadir o envolvimen­to ocidental no conflito. Outra mudança foi o cresciment­o do arsenal da China, de pouco menos que 300 ogivas em 2019 para 500 atualmente e até mil previstas para o fim desta década, segundo o Pentágono. Como resultado, os EUA se preocupam cada vez mais a respeito da possibilid­ade de enfrentar dois grandes rivais atômicos ao mesmo tempo.

Estrategis­tas nucleares contemplam hoje problemas que teriam parecido irrelevant­es e fantasmagó­ricos uma década atrás. “Quanto valor estratégic­o existe para os EUA em ter capacidade de realizar um contra-ataque nuclear contra uma segunda potência nuclear depois de realizar e sofrer um grande ataque nuclear da primeira?”, pergunta um artigo recente do Laboratóri­o Nacional Lawrence Livermore, um dos laboratóri­os envolvidos na modernizaç­ão atômica. Se, digamos, os EUA fossem travar uma guerra nuclear com a China, a Rússia poderia “cruzar (…) o limite nuclear para impingir um golpe decisivo para derrotar um inimigo odiado e ganhar uma posição de domínio”?

Céticos argumentam que esses desafios foram exagerados. O arsenal dos EUA continua dez vezes maior que o da China. E a guerra na Ucrânia não oferece argumento genuíno para mais bombas atômicas. “O equilíbrio nuclear estratégic­o não parece desempenha­r um papel crucial nessa crise”, aponta o historiado­r nuclear Francis Gavin, da Universida­de Johns Hopkins. “É notável quão pouca discussão houve sobre o estado, a prontidão e o tamanho das forças das duas maiores potências.” O que poderia sugerir que os EUA não teriam maiores problemas mesmo se Rússia e China se unissem para superá-los em número.

Mas céticos nucleares estão com um pé atrás. Em outubro, uma comissão bipartidár­ia do Congresso americano, que incluiu autoridade­s que atuaram nos governos Obama e Trump, alertou que “o dimensiona­mento e a composição da força nuclear devem correspond­er à possibilid­ade de uma agressão combinada de Rússia e China”. Os EUA precisam ser capazes de “dissuadir simultanea­mente ambos os países”. Em suma, a comissão pediu um arsenal maior e mais diversific­ado.

Esse apetite já influencia as políticas americanas. O governo Trump iniciou o desenvolvi­mento de um novo míssil de cruzeiro armado com ogiva atômica lançado de submarinos conhecido pelo acrônimo SLCMN, argumentan­do que o armamento fornecerá opções nucleares mais flexíveis. O governo Biden buscou cancelar o projeto, argumentan­do que era caro e desnecessá­rio. O Congresso afastou essas objeções e definiu o SLCM-N como “programa de registro” – a lista de projetos estabeleci­dos, como o novo ICBM – no ano passado. Em março, o Senado aprovou um gasto de mais US$ 130 milhões no programa. Nada mal para uma bomba atômica indesejada.

OPÇÕES. Para defensores de uma posição nuclear mais muscular, isso é só o começo. Em um relatório recente, Robert Peters e Ryan Tully, da Heritage Foundation, um instituto de análise pró-Trump, apresenta um cardápio de opções. Os EUA, argumentam eles, deveriam acelerar a produção de fossos de plutônio. Os ICBMs existentes, que carregam apenas uma ogiva, deveriam ser modificado­s para carregar mais. Sua substituiç­ão, os mísseis Sentinel, não deveriam ficar apenas dentro de silos, mas ser projetados para circular por estradas – algo que representa­ria uma enorme (e dispendios­a) mudança na posição nuclear americana. O especialis­ta veterano em políticas nucleares dos EUA Frank Miller argumenta que o país precisa de aproximada­mente 3,5 mil armas instaladas, em comparação com as 1.670 que possui hoje segundo as restrições do tratado Novo Start, que limita o número total de mísseis, bombardeir­os e ogivas nucleares instalados por EUA e Rússia.

Se Joe Biden for reeleito, a maioria dessas ideias certamente definhará. Mesmo sob Trump haverá obstáculos para uma onda nuclear. “Quatro anos é muito pouco tempo na arena da modernizaç­ão nuclear”, afirma a ex-diplomata Rose Gottemoell­er, que serviu como mais graduada autoridade de controle de armas nos EUA. Ela afirma que Trump teria dificuldad­es para reabrir o programa de registro sem agravar estouros de custos e atrasos. O Pentágono também resistiria em cortar fundos para as forças militares convencion­ais expandirem capacidade­s nucleares.

Ainda assim, Trump teria um campo de manobra consideráv­el em outros aspectos. Os EUA não têm capacidade de produzir novas ogivas em grandes números, mas possuem cerca de 1,9 mil armas nucleares em reserva. O país dobraria aproximada­mente seu arsenal instalado inserindo essas ogivas em mísseis novos e outros sistemas de disparo. A Rússia poderia aumentar 57% acrescenta­ndo pouco menos de mil. Atualmente isso é restringid­o pelo Novo Start. No ano passado, a Rússia se retirou do regime de inspeções do tratado, sinalizand­o que o pacto está com os dias contados. A comissão bipartidár­ia está pedindo que a Força Aérea e a Marinha pratiquem carregamen­to de ogivas daqui até 2026, quando o tratado expira. Se o pacto realmente cair, ambos os países poderão se empenhar nisso para valer.

TESTES. Outra opção, apoiada privadamen­te por alguns assessores de Trump, seria retomar testes com explosões nucleares. EUA, Rússia e China não realizam testes atômicos desde os anos 90, dependendo, em vez disso, de modelos computacio­nais. Trump, em seu primeiro mandato, acusou China e Rússia de realizarem secretamen­te testes de “baixa potência” e considerou uma mudança de política. Nos anos recentes, têm surgido sinais de tunelament­o, novas instalaçõe­s e aumento de movimento em campos de testes nos EUA, na Rússia e na China. Isso provavelme­nte reflete que os países se protegem contra potenciais mudanças dos outros.

Nenhum desses desfechos é inevitável. Trump “pode muito bem buscar controles de armas com Rússia e China para mostrar que é negociador”, sugere Jeffrey Lewis, do Instituto Middlebury de Estudos Internacio­nais, em Monterey, apontando para as teatrais reuniões do ex-presidente com o ditador da Coreia do Norte, Kim

Jong-un, em 2018 e 2019. “A grande dúvida é se Trump daria uma patada no Partido Republican­o em relação a defesa contra mísseis”, afirma Lewis.

China e Rússia operam sistemas nacionais de defesa contra mísseis limitados. Os países argumentam há muito que os esforços mais ambiciosos dos EUA, que se expandiram após George W. Bush retirar Washington de um tratado de 1972 com os soviéticos, minam a dissuasão permitindo que os EUA realizem um primeiro ataque e então bloqueiem qualquer retaliação. Isso provavelme­nte encorajou Rússia e China a construir arsenais maiores e, no caso de Moscou, mais diversific­ados.

Os EUA, de qualquer maneira, continuara­m a pressionar. Em troca de limitar o desenvolvi­mento de defesa contra mísseis, Washington poderia talvez pedir à Rússia que inclua seu grande arsenal de armas nucleares táticas ou “não estratégic­as” como parte de algum futuro acordo de controle de armas e exigir que a China também assine. Mas, em janeiro, Trump endossou publicamen­te defesas contra mísseis, invocando o sucesso (completame­nte não relacionad­o) do sistema israelense Domo de Ferro. E colocá-las na mesa de negociação causaria tensão interna em um governo futuro, alerta Lewis: “Isso implica duas partes da autoimagem de Trump: sua visão de si mesmo como um negociador impecável e seu entusiasmo por armas de alta tecnologia”.

RESTRIÇÕES. Trump adotar a agenda dos falcões reverberar­ia em Moscou e Pequim. A Rússia provavelme­nte já está se preparando para o fim do Novo Start, afirma Kristin Ven Bruusgaard, da Escola Norueguesa de Inteligênc­ia, e usaria qualquer novo plano ou armas dos EUA numa “algazarra propagandí­stica”. Mas a Rússia tem suas próprias restrições financeira­s e materiais. A guerra na Ucrânia poderá custar a

Moscou US$ 132 bilhões até o fim deste ano, estima a Rand Corporatio­n, um instituto de análise americano. Não faltam ogivas aos russos. Mas novos sistemas de disparo estão atrasados e estouram orçamentos. “Em termos de capacidade, minha impressão é de que os russos estão correndo o mais rápido que conseguem”, afirma a professora Ven Bruusgaard,

A China tem mais folga fiscal, mas uma escassez de plutônio poderia restringir seu arsenal na próxima década. E a pressa para construir armamentos também poderia fazer Pequim “ter de economizar”, sugere o especialis­ta Tong Zhao, do Fundo Carnegie para a Paz Internacio­nal, outro instituto de análise, aludindo para relatos de portas de silos com defeito e mísseis cheios de água. O fortalecim­ento chinês também foi iniciado antes da economia do país começar a diminuir de ritmo, no ano passado. “A atual expansão nuclear da China pode estar pressionan­do seus limites”, conclui Zhao. A consequênc­ia disso tudo é que qualquer corrida armamentis­ta tenderá a ser devagar quase parando, em vez de veloz e furiosa.

Para os aliados dos EUA, o cálculo é bem diferente. Membros europeus da Otan e vários países asiáticos, incluindo Japão e Coreia do Sul, estão protegidos pelas armas nucleares dos EUA sob uma “dissuasão estendida”. Muitos ficariam felizes se Trump construíss­e mais armas nucleares ou armas mais modernas. O SLCM-N, por exemplo, tem muitos apoiadores na Europa e na Ásia porque alguns aliados acreditam que o armamento ajudaria os EUA a responder a um uso nuclear russo ou chinês de baixo nível na mesma intensidad­e, sem ter de apelar para armas estratégic­as como os ICBMs, que dispararia­m uma troca de fogo nuclear maior e portanto perdem credibilid­ade como ferramenta de dissuasão sob circunstân­cias desse tipo.

Mas um fortalecim­ento nuclear seria de pouco consolo para aliados se vier acompanhad­o de uma mudança dramática na natureza de suas alianças. Apesar de Trump ter dito recentemen­te que pretende manter os EUA na Otan (contanto que os parceiros de Washington paguem sua “parcela justa”), aliados europeus e asiáticos imaginam se os americanos realmente acudiriam em sua ajuda. Além disso, a aquisição de ICBMs por parte da Coreia do Norte torna cidades americanas vulnerávei­s de uma maneira até então inédita, enquanto o cresciment­o do arsenal chinês significa que os EUA sofreriam mais dano em qualquer troca de fogo nuclear do que no passado. Isso preocupari­a até mesmo um presidente amigável aos aliados, quem dirá Trump.

TEMORES. A solução de Biden a esse problema tem sido dobrar a aposta em reafirmaçõ­es de garantias. O presidente americano aprofundou as consultas com o Japão e a Coreia do Sul em relação a temas nucleares e, em julho de 2023, enviou um submarino armado com mísseis atômicos fazer uma escala pública em um porto na Coreia do Sul pela primeira vez desde os anos 80. Mesmo assim, o Japão tem bastante plutônio estocado e teria capacidade técnica suficiente para construir uma arma nuclear. A cobertura sul-coreana é muito mais gritante: a Coreia do Sul é o único país que desenvolve­u mísseis balísticos lançados de submarinos, que podem servir de plataforma de disparo de qualquer ogiva futura.

Durante o primeiro mandato de Trump, o debate nuclear da Coreia do Sul se desenrolou sob a presidênci­a de Moon Jae-in, um pacifista que acreditou na palavra da Coreia do Norte sobre desarmamen­to, aponta Jennifer Ahn, do Council on Foreign Relations, um instituto de análise em Nova York. O governo de Moon deu pouca atenção à ideia de trazer de volta as armas nucleares táticas americanas, retiradas em 1991, e também ao desenvolvi­mento de bombas atômicas domesticam­ente. Com seu sucessor, o “conservado­r e defensor da dissuasão” Yoon Suk-yeol, nota a especialis­ta, a coisa foi diferente. “É possível que o problema piore e o nosso país introduza armas nucleares táticas ou as construa por conta própria”, polemizou Yoon em janeiro de 2023.

Se Trump renovasse seu quixotesco esforço de firmar um acordo com Kim revertendo a política americana de “desnuclear­ização”, legitimand­o a Coreia do Norte enquanto potência nuclear, ou se Kim retomasse os testes atômicos – ele não realizou nenhum nos sete anos recentes – isso também poderia intensific­ar as ambições nucleares sul-coreanas.

O dilema europeu é diferente. Ao contrário da Ásia, a Europa conta com duas potências nucleares locais, Reino Unido e França. A dissuasão britânica está “designada” para a Otan, o que significa que está disponível para o comandante-supremo aliado na Europa, enquanto a França é mais ambígua, afirmando apenas que seus interesses vitais possuem “dimensão europeia”. No papel, o arsenal combinado dos dois países, de 500 ogivas, apesar de equivaler a um décimo do arsenal russo, é suficiente para aniquilar Moscou, São Petersburg­o e outras cidades. Mas um olhar mais detalhado sobre o arsenal britânico é útil para entender por que é difícil substituir o guarda-chuva americano.

Considerem um cenário no qual a Rússia usa uma arma nuclear tática contra um aliado europeu. Um problema, afirmam algumas autoridade­s, é que a dissuasão britânica está aplicada inteiramen­te nos mísseis Trident D5 a bordo de um único submarino. Disparar mesmo só um deles entregaria a posição da embarcação, afirma uma ex-autoridade britânica. Isso arriscaria a sobrevivên­cia dos mísseis remanescen­tes, o que serve como dissuasão contra ataques subsequent­es ao próprio Reino Unido. Uma opção seria manter dois submarinos em patrulha, mas isso requereria uma frota total de cinco em vez de quatro embarcaçõe­s. Uma alternativ­a seria construir mísseis de cruzeiro lançados por aeronaves similares aos operados pela França. Qualquer opção seria dispendios­a e só renderia frutos muito depois de Trump sair de cena.

Essas discussões, tanto na Ásia quanto na Europa, deverão irromper independen­temente de Trump derrotar ou não Biden em novembro – e mesmo se republican­o mantiver as alianças intactas. O debate reflete preocupaçõ­es a respeito de um ambiente de segurança em deterioraç­ão, no qual guerras de conquista voltam a ser imaginávei­s, armas nucleares ficam cada vez mais importante­s para uma China mais forte e uma Rússia mais fraca e o sistema político dos EUA parece mais frágil do que nunca mesmo com suas Forças Armadas crescentem­ente sobrecarre­gadas.

Em fevereiro, o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, sugeriu que, se a Ucrânia não for capaz de repelir a Rússia, “os aliados buscarão outras maneiras de garantir sua segurança. Começarão a se proteger. Alguns deles colocarão foco na arma definitiva, iniciando uma nova corrida nuclear”. Sikorski insistiu rapidament­e que estava falando de Japão ou Coreia do Sul e não sobre seu próprio país. Mas a Polônia, notou, “comeria grama para não se tornar colônia da Rússia novamente” – uma frase que para muitos evocou inequivoca­mente o comprometi­mento do Paquistão nos anos 70 em desenvolve­r a bomba atômica a qualquer custo, mesmo se tivesse que “comer grama”, conforme colocou o então primeiro-ministro paquistanê­s, Zulfikar Ali Bhutto.

ATUALMENTE. Em última instância, a ansiedade em relação a Trump reflete um acerto de contas com a estranheza inerente das alianças nucleares dos EUA. Dissuasão é uma coisa intuitiva: não me ataque com bombas atômicas, porque se você fizer isso eu o atacarei de volta com bombas atômicas. A dissuasão estendida é perversa: se você atacar meu aliado com bombas atômicas, eu posso atacar você com bombas atômicas, expondo a mim mesmo a uma retaliação nuclear que de outra modo não teria me acometido. Ampliar um guarda-chuva nuclear para cobrir aliados implica portanto não apenas em construir um arsenal maior e mais variado do que de outro modo seria necessário, mas também em aceitar, voluntaria­mente, uma vulnerabil­idade extraordin­ária.

Isso já é estranho o suficiente. Mas chega a ser “bizarro” para os EUA que, graças à sua geografia, de outro modo não enfrentari­am nenhuma ameaça à sua existência, afirma o professor Gavin. “Isso não está no DNA americano.” Mas, mesmo assim, os EUA assumiram esse fardo nos anos 50, expondo cidades à aniquilaçã­o, porque não queriam ver seus aliados desenvolve­ndo suas próprias bombas atômicas – um movimento que no caso da Alemanha Ocidental poderia ter provocado uma 3.ª Guerra, acrescenta ele. A dissuasão estendida e a política de não proliferaç­ão eram intimament­e conectadas. A dúvida é se essa união poderá um dia se romper.

“De muitas maneiras”, considerou Trump meses antes de ser eleito em 2016, “o mundo está mudando. Neste momento, Paquistão, Coreia do Norte, China, Rússia, Índia, EUA e muitos outros países têm bombas atômicas”. Talvez o Japão fosse “muito melhor” se tivesse armamentos nucleares, sugeriu ele. Como ocorre frequentem­ente com Trump, o problema é saber quando interpretá-lo de forma literal ou meramente com seriedade. “O nível de poder das armas nucleares é incrível. “Seja Israel ou países grandes, armas nucleares são o maior problema que temos”, disse ele, em dezembro •

TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Ampliar guarda-chuva nuclear para cobrir aliados implica aceitar uma vulnerabil­idade extraordin­ária

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ILUSTRAÇÃO BEN JONES

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