O Estado de S. Paulo

Equipe econômica reduz meta fiscal e adia o ajuste das contas públicas

- DANIEL WETERMAN BIANCA LIMA ALVARO GRIBEL

Com incertezas sobre evolução da arrecadaçã­o, governo recua de promessa de entregar superávit de 0,5% do PIB, em 2025, e de 1% em 2026, último ano de Lula

A equipe econômica anunciou ontem mudanças nas metas para as contas públicas em 2025 e 2026 – a primeira alteração desde que o novo arcabouço fiscal entrou em vigor, há menos um ano. Na prática, elas adiam a expectativ­a de colocar as contas no azul. O anúncio também expôs as fragilidad­es do novo arcabouço, pois o governo contava com o aumento de arrecadaçã­o para cumprir a regra. Dúvidas

sobre a evolução de receitas a partir do segundo bimestre deste ano e sobre o desempenho da economia em 2025 têm sido apontadas por economista­s como obstáculos para o cumpriment­o das metas.

O alvo de 2025 foi reduzido de um superávit de 0,5% do PIB para zero – o mesmo para este ano, que não foi alterado. Já a meta para 2026 caiu de 1% para 0,25%. As metas de 2027 e de 2028 – já no mandato do próximo presidente da República –, que ainda não haviam sido fixadas, ficaram em 0,50% e 1%, respectiva­mente.

Esses números foram incluídos no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentár­ias de 2025, que segue agora para o Congresso. Ainda pelo texto, a projeção para a dívida bruta do governo geral sairá de 76,6% do

PIB, neste ano, para atingir o pico de 79,7% em 2027. Só depois disso, ela se estabiliza­ria e começaria a cair, a partir de 2028. Na divulgação do arcabouço, no ano passado, a expectativ­a da equipe econômica era outra: o controle da dívida viria em 2026, último ano do atual governo, num patamar em torno de 75% do PIB.

Há ainda a preocupaçã­o com a trajetória dos gastos obrigatóri­os, sobretudo das despesas previdenci­árias e assistenci­ais, que são atreladas ao salário mínimo. Para 2025, o governo projetou na LDO o valor de R$ 1.502 para o mínimo, uma alta de 6,37% (mais informaçõe­s na pág. B4).

O secretário de Orçamento, Paulo Bijos, afirmou que o governo está consideran­do novas ações, como a revisão de gastos, que poderia ganhar maior magnitude (mais informaçõe­s na pág. B2). Já o secretário executivo do Ministério do Planejamen­to e Orçamento, Gustavo Guimarães, disse que “a nova trajetória das metas mantém a sustentabi­lidade das contas públicas”. “Gostaríamo­s de frisar compromiss­o com a sustentabi­lidade da dívida e lembrar que essa é uma missão compartilh­ada por todos os Poderes.”

A mensagem, porém, não conteve as críticas no mercado financeiro. O economista Gabriel de Barros, da Ryo Asset, afirma que os parâmetros utilizados na LDO são “irrealista­s”. Para o economista-chefe da Warren Investimen­tos, Felipe Salto, o projeto da LDO não é suficiente para garantir um quadro de sustentabi­lidade fiscal em prazo razoável. Já pressionad­o pelo noticiário internacio­nal, o dólar fechou a R$ 5,18 na esteira das novas metas (mais informaçõe­s na pág. B8). •

Mudança expõe as fragilidad­es do novo arcabouço, amparado em aumento das receitas

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