O Estado de S. Paulo

Com fiscal e exterior, dólar chega a R$ 5,18

Com valorizaçã­o de 1,25% no dia, moeda atinge maior cotação desde março do ano passado; Bolsa tem queda de 0,49%

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O dólar emendou ontem o quarto pregão consecutiv­o de valorizaçã­o e alcançou o maior valor de fechamento desde 27 de março de 2023, puxado pelo noticiário internacio­nal e também pela decisão do governo de mudar as metas fiscais dos próximos anos. Com alta de 1,25%, a moeda fechou o dia cotada a R$ 5,18. No início da tarde, depois de entrevista do ministro Fernando Haddad (Fazenda) à GloboNews sobre a mudança da meta de 2025, o dólar chegou a bater em R$ 5,21.

“O mercado já sabia que o governo não iria entregar as metas de (superávit) primário, apesar dos projetos de aumento de arrecadaçã­o. O que surpreende é a velocidade da deterioraç­ão (do novo arcabouço fiscal). O governo está desistindo muito cedo”, afirmou o economista-chefe da Nova Futura Investimen­tos, Nicolas Borsoi.

Em anúncio oficial no fim da tarde, a equipe econômica confirmou não só a mudança da meta de 2025, mas também a de 2026, adiando um ajuste nas contas públicas. Com o resultado de ontem, o dólar já acumula alta de 3,39% em abril, o que leva os ganhos no ano a 6,84%.

No campo externo, pesaram os temores de uma crise geopolític­a no Oriente Médio, dada a incerteza em torno da resposta de Israel aos ataques iranianos no último sábado. Também continuam no radar do mercado os sinais de fortalecim­ento do dólar e de alta das taxas dos Treasuries (os títulos do governo americano), após dados de forte atividade no varejo nos EUA em março reforçarem a leitura de que o Federal Reserve (Fed) tem pouco espaço para cortar os juros nos próximos meses.

Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para maio apresentou giro forte para uma segunda-feira, acima de US$ 20 bilhões

No exterior, o índice DXY – principal referência do comportame­nto do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – superou o patamar dos 106,200 pontos à tarde, com máximas da moeda americana em relação ao euro. Entre as divisas emergentes e de países exportador­es de commoditie­s mais relevantes, o peso chileno e o real apresentar­am o pior desempenho, com perdas acima de 1%.

O economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, alterou a expectativ­a para a taxa de câmbio no fim do ano, de R$ 4,75 para R$ 4,85. Ele ressalta que o comportame­nto do real nos próximos meses estará muito ligado aos indicadore­s americanos e ao vaivém das apostas para o início do ciclo de corte de juros pelo Fed.

“Aumentamos a expectativ­a de câmbio médio de R$ 4,88 para R$ 4,98, com retomada da tendência de valorizaçã­o do real apenas após o início do ciclo de cortes de juros pelo Fed, a partir de setembro (ante cenário anterior em junho)”, disse o economista-chefe do Pine.

Na esteira do pessimismo que sustentou a alta do dólar, o Ibovespa, principal indicador da Bolsa, recuou 0,49%, para o patamar de 125,3 mil pontos – o menor desde 17 de novembro do ano passado. No mês, o Ibovespa cai 2,16% e, no ano, 6,60%. •

ANTONIO PEREZ e LUIS LEAL

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