O Estado de S. Paulo

Irã busca acesso a arsenal de elite da Rússia para turbinar sua defesa

Autoridade­s de inteligênc­ia descrevem salto em parceria estratégic­a desde a invasão russa à Ucrânia, em 2022

- JOBY WARRICK

Em março, uma fabricante de armas russa convidou uma delegação de iranianos para uma viagem de negócios às suas fábricas. Os 17 visitantes foram recebidos com almoços e apresentaç­ões culturais e, no último dia, conheceram instalaçõe­s onde são fabricados produtos cobiçados há muito por Teerã: sistemas russos avançados de defesa antiaérea para derrubar aviões inimigos.

A fábrica NPP Start, na cidade de Ecaterimbu­rgo, está sob sanções dos EUA por apoiar a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Entre outros produtos, a empresa fabrica lançadores móveis e outros componente­s para baterias antiaéreas – incluindo o sistema russo S400, que analistas avaliam ser capaz de detectar caças de combate furtivos usados por Israel e EUA.

Um documento russo vazado descreveu a visita como uma mostra “do potencial científico e técnico e das capacidade­s de produção” que a Rússia poderia oferecer ao Irã.

É incerto se a visita resultou em alguma compra. Mas a viagem é emblemátic­a em relação a algo que analistas de inteligênc­ia descrevem como uma parceria estratégic­a que se aprofundou entre Moscou e Teerã desde a invasão da Ucrânia – uma aliança que poderia emergir como um fato significat­ivo conforme os líderes israelense­s avaliam a possibilid­ade de realizar ataques militares em retaliação às centenas de drones e mísseis lançados contra o território israelense no sábado.

O Irã inaugurou um novo capítulo perigoso em suas relações com a Rússia ao concordar, em 2022, em fornecer milhares de drones de batalha e mísseis para Moscou em sua guerra contra a Ucrânia. Os laços intensific­ados ajudam agora a cimentar acordos entre Moscou e Teerã, incluindo uma promessa russa de fornecer ao seu aliado caças de combate avançados e tecnologia de defesa antiaérea, itens que poderiam ajudar o Irã a endurecer suas defesas contra qualquer ataque aéreo futuro de Israel ou dos EUA, segundo autoridade­s de inteligênc­ia americanas, europeias e do Oriente Médio.

REFORÇO. Não se sabe quantos desses sistemas foram fornecidos e acionados, mas a tecnologia russa poderia transforma­r o Irã em um adversário muito mais forte, com capacidade melhorada de derrubar aviões e mísseis. Os acordos armamentis­tas, alguns inéditos, são parte de uma colaboraçã­o mais ampla que inclui coprodução de drones dentro da Rússia, compartilh­amento de tecnologia para embaralhar sinal e avaliações no campo de batalha em tempo real de armamentos acionados contra as forças equipadas pela Otan na Ucrânia.

A cooperação eleva o status do Irã de aliado menor para parceiro estratégic­o. “A natureza da relação foi além de ganhos meramente materiais. Há transferên­cias de conhecimen­to, ganhos intangívei­s”, disse Hanna Notte, diretora do Programa de Não Proliferaç­ão na Eurásia do Centro James Martin de Estudos de Não Proliferaç­ão.

CAÇAS. Autoridade­s de inteligênc­ia afirmaram que a Rússia está “avançando” com acordos negociados secretamen­te para fornecer ao Irã aeronaves Su-35, um dos caçasbomba­rdeiros russos de maior capacidade, o que representa­ria uma modernizaç­ão da Força Aérea iraniana, que consiste de aviões americanos e soviéticos reformados, fabricados antes de 1979. Não há nenhuma evidência pública de que os Su-35 tenham sido entregues; o adiamento pode ser motivado por um atraso do Irã no pagamento dos aviões.

No lado defensivo do cálculo, o Irã busca há muito tempo as baterias russas de mísseis antiaéreos para proteger suas instalaçõe­s nucleares e militares. Em 2007, Teerã firmou um contrato para adquirir o sistema, mas Moscou adiou o fornecimen­to das armas em meio à pressão do Ocidente. A restrição terminou em 2016, e os sistemas S-300 do Irã entraram em operação em 2019.

Desde então o Irã buscou adquirir o sistema S-400, de maior capacidade, mas não se sabe se Moscou forneceu essas baterias. Algumas variações desse sistema são equipadas com radares capazes de detectar tecnologia­s de ocultament­o usadas pelos aviões furtivos mais modernos e constituem uma ameaça letal para aeronaves americanas e israelense­s. •

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Frota obsoleta

Aquisição de caças Su-35 representa­ria modernizaç­ão dramática para Força Aérea iraniana

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