‘Não adianta colocar câmera e não dar qualificação’
Fernanda Prates Pesquisadora, professora de Direito na FGV
Oauxílio da tecnologia para melhorar o combate à criminalidade e facilitar o trabalho de segurança pública é cada vez mais comum, mas a forma como ela vem sendo utilizada ainda está aquém do que deveria. É o que constatam pesquisadores da Escola de Direito da FGV Rio, que elaboraram um estudo com base em entrevistas com gestores e agentes públicos das forças de segurança e mais de duas mil reportagens da grande mídia. “Uma coisa que a pesquisa mostra muito é que investir em tecnologia, por si só, não resolve os problemas”, afirma Fernanda Prates, uma das responsáveis.
Como vê o uso das câmeras corporais nas fardas da polícia? É uma tecnologia que veio para ficar?
O que chama a atenção quando falamos sobre tecnologia em geral, e em especial sobre câmera corporal, é a importância de ter uma formação para isso. Não adianta colocar um instrumento caríssimo, uma tecnologia nova, no peito do policial que está correndo, fazendo mil coisas, e não dar a qualificação necessária para a pessoa usar. Principalmente na Polícia Militar, alguns dos nossos entrevistados falaram: ‘olha, gera medo de você utilizar aquela tecnologia e quebrar’. Para além disso, o que também é frequente na fala dessas pessoas – e entrevistamos muita gente da PM – é o receio da fiscalização.
Como é isso?
A câmera corporal traz isso: de o policial que está na ponta se sentir fiscalizado, e não só com a câmera, mas com o GPS também. Para isso, é importante essa formação constante. Vemos que a tecnologia não muda só a questão técnica, muda toda a rotina. (Mas) não adianta filmar se esse material não é oferecido para as pessoas interessadas.
Em termos de custo-benefício, investir mais em tecnologia é mais interessante do que investir em efetivo, em viatura, em equipamento para o dia a dia?
A curto prazo, pode parecer mais interessante investir naquela coisa do dia a dia, em viatura, mas a médio e longo prazos, investimento em tecnologia é investimento inteligente. Preserva a vida tanto dos policiais quanto preserva a vida das pessoas, dos cidadãos. •